< Artur Queiroz*, Luanda >
Confirmado e reconfirmado. O Presidente João Lourenço tem o empresário Carlos São Vicente enclausurado no seu cárcere privado. Não cumpre prisão perpétua. Não foi condenado à pena de morte. A sua clausura é apenas um capricho. Uma excentricidade do senhor feudal, com direito de vida e de morte sobre os servos da gleba e particularmente sobre um empresário que ousou ter sucesso sem bajular o chefe.
O führer de serviço indultou dezenas de presos que cumpriram metade da pena. Carlos São Vicente, condenado ilegalmente, inocente, continua na masmorra privada do nosso Mobutu, que para Hitler só lhe falta o bigodinho. Cada povo tem o guia que merece!
Portugal teve reis e rainhas completamente loucos, desde o primeiro dia da fundação do país até hoje. (há um tal Duarte Nuno, rei sem coroa na cabeça mas com capacidades para outros enfeites). Pelo meio há registo de D. Afonso, o sexto, Vitorioso por alcunha e rei de Portugal, Algarve, Aquém e Além-Mar em África. Também nos tocou este soberano, que tem uma história de vida muito desventurosa, que todos os monarcas, protomonarcas e ameaços de monarcas deviam conhecer até ao mais íntimo pormenor. Vou dar uma ajuda.
Afonso era filho da rainha Luísa de Gusmão, famosa quando disse: “Antes rainha por um dia do que duquesa toda a vida”. Numa imitação algo grosseira, a minha amada Canducha, Princesa do Bairro Operário, dizia: “Já comi meia Luanda e ainda vou comer a outra metade”.
O jovem Afonso era filho do rei D. João IV, que comandou o início da Guerra da Restauração contra Espanha. Foi este monarca que deu a Salvador Correia de Sá e Benevides, o comando da frota que, em 1647, atacou os piratas holandeses em Luanda, reconquistando Angola e São Tomé e Príncipe. Isto está tudo ligado.
O rei Vitorioso casou com a Menina d’Aumale, aliás Maria Francisca Isabel de Saboia. A franceinha quando se deitou a primeira vez no leito real percebeu que sua excelência era um brutamontes. Hábitos de vilão. Não tinha a mínima noção do que era sexo oral.
A jovem rainha viu a salvação no irmão mais novo do rei, D. Pedro. Em conluio com seu confessor, o jesuíta Francisco de Vila, apresentou um pedido de anulação do matrimónio no Cabido de Lisboa. A Menina d’Aumale garantiu que o casamento não se consumou porque o rei era “inábil e impotente”. Acontece aos melhores. A mim aconteceu muitas vezes. Mas exigi sempre as reclamações por escrito, para eu rasgar e deitar fora.
Entre 9 de Janeiro e 23 de fevereiro de 1668, 55 mulheres da vida desprevenida foram chamadas ao paço do Arcebispo de Lisboa para depor, em audiências públicas, sobre a incapacidade sexual do rei Afonso. Confirmada a sua impotência da boca aos pés, o casamento foi anulado. A Menina d’Aumale, declarada virgem (dos ouvidos) por bula papal, casou imediatamente com o cunhado, D. Pedro, o segundo de Portugal e alcunhado de O Pacífico. Corno Manso era o mano Afonso. Os historiadores chamam-lhe louco e imbecil. Sem gabarolice, comigo acontece o mesmo. Mas a opinião é das contemporâneas que passaram pela minha vida.
Esta história tem um fim muito, muito infeliz. D. Pedro II e Dona Maria Francisca Isabel de Saboia casaram e a rainha teve uma filha, D. Isabel Luísa de Bragança que nunca casou nem teve filhos. Olho para o retrato da princesa e não percebo. Já as vi muito mais feias e grávidas. Quando ao monarca, na época corria nos bordéis de Lisboa e nos conventos da fidalguia, que sua senhoria era impotente. Uma maka de família real
D. Afonso, o sexto de Portugal e Vitorioso da Guerra de Restauração, foi enclausurado no Castelo de Sintra. Chamavam-lhe o animal enjaulado. Esteve no seu quarto nove anos, fechado a sete chaves, o cárcere privado que o irmão lhe destinou. Era guardado por 300 soldados e só podia sair da cela para assistir à missa. Um refém.
A vida de D. Afonso VI devia servir de exemplo aos monarcas de hoje, que se julgam donos e senhores de tudo. Fazem reféns. Têm cárceres privados. Muitos acabam depostos e exactamente na mesma posição das vítimas que fizeram, enquanto ocuparam o poder. Sem comparações abusivas, devo lembrar a João Lourenço que não faltam em Angola cárceres privados, desde o forte de Massangano à Colónia Penal do Bié passando pelo Bentiaba e a Baía dos Tigres.
Não faças aos outros o que não queres que te façam. Há mais marés do que marinheiros. E no Pingano há um passarão com um bico amarelo, enorme, que canta assim: Cá Calharás! Cá Calharás!
* Jornalista
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