ANTÓNIO QUINO - JORNAL DE ANGOLA
No âmbito da III Bienal de Culturas da Lusofonia, que decorre até ao próximo domingo, realizou-se no fim-de-semana passado, nos arredores de Lisboa, um aceso debate em torno da chamada lusografia.
Mais de 50 escritores da Comunidade de Países de Língua Portuguesa participaram na sessão realizada no Centro Cultural da Malaposta, curiosamente localizado na rua de Angola, em Odivelas.
O encontro, que contou com a presença do embaixador de Angola em Portugal e do secretário executivo da CPLP, Marcos Barrica e Domingos Simões, respectivamente, mobilizou uma série de intelectuais que enriqueceram as discussões divididas em sete painéis.
Sob direcção do vice-presidente da câmara municipal de Odivelas, o também escritor Mário Máximo, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste apresentaram as suas vivências e experiências através dos seus representantes, que falaram da produção literária e do mercado de oportunidades e constrangimentos, os processos criativos na produção literária, protecção aos escritores, missão e impacto do prémio literário, a influência dos factores socioculturais na escrita e a poesia lusófona na primeira pessoa.
Francisco Soares, por Angola, lembrou que é importante ter-se em conta que, nos processos criativos da produção literária, a realidade histórico-cultural de Angola oferece um conjunto de estímulos para muitos autores portugueses. Lívio de Morais, escritor e pintor moçambicano, e Odete Semedo, da Guiné-Bissau, referiram-se ao poder da "voz interior selvagem" que força o artista a agir por vezes impulsivamente para dar corpo à ficção desenhada pela tal "voz".
Um aspecto que também mereceu inquietação dos presentes prende-se com a falsa ideia levantada sobre o baixo grau de produção e edição literária nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Relativamente a isso, o investigador angolano Virgílio Coelho questionou a estratégia de selecção dos escritores convidados a estes eventos, uma vez que há qualidade e quantidade em produção e edição literária em Angola, e que nem sempre a opção pela escolha de escritores angolanos que vivem em Portugal ou noutros países é a mais representativa.
Essa posição foi apoiada por escritores moçambicanos, santomenses e cabo-verdianos, que demonstraram, à margem dos debates, a sua insatisfação pelo facto de algumas instituições portuguesas nem sempre promoverem o equilíbrio nos convites feitos a escritores dos PALOP, privilegiando quase sempre os da diáspora, "como se a partir dos nossos países não houvesse produção ou qualidade artística", acrescentou um jovem escritor moçambicano.
O escritor Mário Máximo disse que a organização terá isso em conta e prometeu promover um maior intercâmbio cultural com as editoras e autores que "vivem" na África lusófona.
Durante o evento, houve também um momento de apresentação de livros e sessões de autógrafos, com destaque para a do Ondjaki, autor angolano. Só a delegação angolana levou mais de 30 títulos de autores angolanos, sendo que Manuel Rui, Luandino Vieira e Carmo Neto foram os mais requisitados, ao lado da revista Maka, da União dos Escritores Angolanos.
No final do encontro, houve troca de livros entre autores e editores, com música dos cabo-verdianos Mário Rui e Amândio Ferreira e declamação pela portuguesa Paula Nunes.
Sem comentários:
Enviar um comentário