sábado, 14 de maio de 2011

Ex-correspondente da CNN prevê "período desgastante" nas relações sino-americanas




JCS – LUSA

Macau, China, 14 mai (Lusa) -- O ex-correspondente da CNN para a Ásia Mike Chinoy considera que as relações entre os Estados Unidos e a China irão atravessar, em 2012, "um período mais desgastante", devido às "transições políticas".

Dado que no próximo ano se realizam eleições presidenciais nos Estados Unidos e a China conhecerá um novo líder, o antigo jornalista entende que as "transições políticas" farão com que seja "mais difícil" para Washington e Pequim mostrarem "flexibilidade", pois correm o risco de serem criticados, sendo uma situação "complicada de gerir".

Mike Chinoy falava à Agencia Lusa na Livraria Portuguesa de Macau, onde foi hoje exibido um episódio do documentário "Assignment: China" que retrata a geração de repórteres que abriu as primeiras delegações da imprensa norte-americana em Pequim, após o restabelecimento das relações diplomáticas em 1979.

Os Estados Unidos e a China possuem "uma relação amor-ódio", afirmou Mike Chinoy, ao lembrar que "foram aliados na Segunda Guerra Mundial, inimigos no início da Guerra Fria, aliados contra a invasão soviética do Afeganistão e por aí fora..." e a sua relação é hoje "extremamente complexa".

Como realçou Mike Chinoy, professor no Instituto EUA-China da Universidade do Sul da Califórnia, "por um lado, as economias estão estreitamente ligadas", existem muitas trocas designadamente ao nível comercial, cultural ou do ensino, mas, por outro, "existem claras tensões".

"Os EUA são a maior potência económica do mundo, a China figura como a potência emergente e há depois a questão de Taiwan que, apesar de calma, de momento, é, em teoria, a única coisa que pode provocar um verdadeiro conflito", afirmou.

Contudo, observou, "há as tensões comerciais, de direitos humanos, ao nível do comportamento diplomático da China", assim como "a perceção nos EUA de algumas pessoas de que o emergir da China é uma ameaça, de que os chineses lhes 'roubam' o emprego e que, artificialmente, mantêm a sua moeda subvalorizada para aumentar as exportações".

Já do lado da China, "prevalece a preocupação de que os Estados Unidos estão a dificultar o seu crescimento como potência mundial e, por isso, é extremamente complicado", disse Mike Chinoy, ao apontar que a "chave" passa por uma "liderança de topo madura e séria" que seja capaz de gerir áreas em que há "diferenças", "não permitindo que essas possam 'sabotar' as relações.
"Todos estão interessados em fazê-lo, mas resta saber se vão ou não conseguir", disse o ex-jornalista.

"Fiquei interessado pela primeira vez na China porque, quando a Guerra do Vietname estava no seu auge, tinham-nos dito que os Estados Unidos estavam no Vietname para travar o comunismo na Ásia e a China era a grande potência comunista, sobre a qual não sabíamos nada e fiquei curioso, na medida em que a guerra foi o principal evento da minha geração", contou o ex-jornalista da cadeia de televisão CNN.

Mike Chinoy, que foi pela primeira vez à China em 1973, considera que os protestos de Tiananmen, em 1989, estão, sem dúvida, entre as maiores histórias que acompanhou enquanto homem e jornalista, mas há outros acontecimentos que colocaria ao mesmo nível.

Entre eles, a cobertura que teve oportunidade de fazer da Coreia do Norte, país que visitou 14 vezes, e que o levou a escrever "Meltdown: The Inside Story of the North Korean Nuclear Crisis", livro que também apresentou hoje em Macau.

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