domingo, 5 de junho de 2011

Eleições: Mesmo com o país em crise, campanha eleitoral não empolgou portugueses





Após a renúncia do governo devido à crise financeira, Portugal se prepara para escolher um novo parlamento. Os eleitores, entretanto, não se empolgam com a campanha eleitoral, marcada pela superficialidade.

Nas últimas semanas, muitos analistas políticos observam surpresos a campanha eleitoral portuguesa. Portugal tem eleições parlamentares neste domingo (05/06), mas embora passe por uma das maiores crises das décadas recentes, impossibilitado de pagar suas dívidas sem ajuda externa, com a economia encolhendo, e a população a ponto de sofrer violentas perdas no valor dos salários, a disputa pelos votos dos cidadãos é tão superficial como há muito não se via.

Em vez de procurar causas e soluções para a crise econômica, os candidatos dos grandes partidos preferem discutir trivialidades e difundir slogans superficiais de campanha.

Apatia, em vez de entusiasmo

E a maioria dos portugueses reage à disputa com apatia. Em poucos comícios é possível sentir algum entusiasmo. O Partido Socialista (PS) chegou a fretar ônibus cheios de imigrantes asiáticos para levar um pouco mais de animação aos seus eventos de campanha.

É surpreendente para muitos observadores que os socialistas do PS, que regem o país há seis anos, continuem com cerca de 32% na preferência do eleitorado na maioria das pesquisas de opinião. Isso, apesar da crise econômica e do aumento do desemprego, que atinge cerca de 13% dos portugueses.

Oposição exige mais privatizações

Pelo menos em parte, a tática do primeiro-ministro José Sócrates vem funcionando. Em seus discursos, o socialista adverte sempre contra novas privatizações e contra uma continuação da redução do Estado de bem-estar social. “O que a oposição realmente quer é um sistema de educação para os pobres e um outro sistema de educação para os ricos, exatamente como era antes da Revolução dos Cravos, em 1974", afirmou Sócrates.

O candidato do principal partido da oposição, o Partido Social Democrata (PSD), Pedro Passos Coelho, tenta angariar votos defendendo uma mudança e alegando que o Estado deve se retirar de muitas áreas da vida. O partido já governou Portugal na década de 1990, com uma agenda orientada no mercado.

Governo deve dar o exemplo

Em caso de vitória, o PSD pretende privatizar diversas empresas, tais como o banco público Caixa Geral de Depósitos, a fornecedora estatal de água, um dos dois canais públicos de televisão, as ferrovias portuguesas, assim como os metrôs e ônibus de Lisboa e Porto, apenas para citar alguns exemplos. Além disso, o PSD quer abrir mão da construção de trens de alta velocidade e reduzir o aparato estatal.

"Se o Estado deve economizar para ser mais eficiente, então o próprio governo deve dar o exemplo", reivindica Pedro Passos Coelho. "O Estado deve trabalhar mais e melhor, com menos pessoas, com menos estrutura, com poucos assessores, poucos assistentes e com menos desperdício de recursos."

Uma coalizão é provável

Caso as pesquisas de opinião na semana anterior às eleições estiverem corretas, o PSD pode chegar a 37% dos votos. Se eles realmente forem tão bem, então provavelmente o próximo primeiro-ministro deve ser Pedro Passos Coelho. No entanto, o PSD iria precisar de um parceiro de coligação, que pode ser o conservador CDS-PP que, de acordo com sondagens, está em terceiro lugar, com cerca de 13% das intenções de voto. O presidente do CDS-PP, Paulo Portas, já anunciou que prefere formar uma coalizão de centro-direita com o PSD.

Em qualquer caso, o poder de manobra do futuro governo será severamente limitado. Afinal, o apoio da Europa tem seu preço. A chamada “troika”, formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, exige que o país realize inúmeras reformas.

Assim, Portugal se comprometeu a vender ,até o final do ano, a companhia aérea nacional TAP. A Justiça também deve sofrer um processo de reforma para que processos não durem tanto tempo e o valor pago como ajuda de custo deve ser reduzido. As opções políticas são limitadas, já que os três maiores partidos, PS, PSD e CDS-PP, se comprometeram da mesma forma com as medidas de austeridade estipuladas.

Esquerda exige alternativas

Só ficaram de fora desse consenso nacional os dois partidos de oposição, de esquerda, tanto os comunistas tradicionais do PCP que se combinaram com os Verdes na coligação CDU, como os comunistas do Bloco de Esquerda (BE).

Ambos se opõem ao pacote de reformas e exigem um refinanciamento da dívida portuguesa. Segundo eles, o pacote de resgate da UE e do FMI só favorece os bancos e prejudica o Estado de bem-estar social. O secretário-geral do PCP, Jerônimo de Sousa, reivindica uma renegociação imediata da dívida. "As condições do pacote financeiro não são sustentáveis. Devemos renegociar imediatamente e não somente quando o nosso país, a economia, a produção e as finanças estiverem pior", avalia.

De acordo com as pesquisas de opinião, os dois partidos de esquerda têm entre 5% e 7% da preferência dos eleitores. Uma grande parte dos portugueses, aparentemente, não vê alternativa ao pacote de resgate da troika.

Decepção para os eleitores

Muitos cidadãos portugueses se encontram desiludidos com os partidos políticos, em uma eleição onde a maioria dos candidatos sequer tenta discutir causas e soluções da crise profunda que Portugal atravessa. Isso é refletido no alto número de eleitores ainda indecisos e dos que não pretendem votar – um em cada quatro portugueses, segundo as sondagens.

Autor: Johannes Beck (md) - Revisão: Nádia Pontes

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