O resultado das eleições na Espanha, que acompanhei de Madrid nos últimos dias da campanha, impressionou. Afinal, a vitória dos conservadores superou as mais otimistas previsões do próprio PP. A reação popular foi mais séria e pragmática do que a dos jovens da Praça do Sol, sobre os quais apenas se sabe que estão “indignados” – como, aliás, está todo mundo e em todo o mundo com o que anda acontecendo na vida pública em termos de corrupção, nepotismo e aparelhamento estatal.
O governo deveria convocar novas eleições para o Parlamento diante da avalanche eleitoral nas estaduais e municipais. Mas não o fará e tentará algo impossível até o ano que vem. E tem muito rombo que vai aparecer agora nas províncias espanholas.
O fenômeno espanhol não é um caso isolado. Portugal, daqui a dias, votará nos conservadores, podem ter certeza. Todos estão convencidos de que se gastou, se empregou e se endividou demais. Agora a conta tem de ser paga. Em janeiro, neste mesmo espaço, prevíamos o agravamento da crise na economia e seus reflexos políticos. E já se percebia a força moral de Angela Merkel em exigir que os endividados diminuíssem dias de férias, aumentassem a idade de aposentadoria, para ficarem no mesmo patamar da próspera Alemanha, que não esta disposta a financiar as férias dos outros.
A União Europeia sairá da crise pela via das empresas que estão bem, algumas vendendo ativos nos emergentes, mas diminuindo passivos e obtendo alguma lucratividade. Na verdade, para se vencer a crise, precisa-se cortar os gastos públicos, e investir no crescimento econômico e na geração de emprego. No fundo da crise política – e do grito dos jovens – está o desemprego. Quem trabalha não vai para a rua protestar.
Na novela das ditaduras do norte da África, o caso do Egito tem sido comentado na mídia econômica européia pelo lado dos custos das manifestações na economia local. Trocar um ditador, que mal ou bem fazia o país, trabalhar e produzir, tendo altas receitas com o turismo, para o poder cair nas ruas não faz sentido, é mero elitismo da esquerda bem nutrida… E o turismo sofreu queda de quase 80% e se sustenta praticamente pelo que é feito em outras cidades que não o Cairo. Os gastos americanos no Iraque e no Afeganistão influenciaram – e muito – no aumento da dívida pública. A guerra civil na Líbia afeta o preço do petróleo. A crise no Oriente Médio, idem. O recuo dos EUA em relação a Israel pode custar uma nova guerra. Se países agressivos como Síria e Irã não estivessem envolvidos em problemas domésticos, certamente já estariam agindo para a retomada dos territórios ocupados na marra. Escudados nas infelizes palavras do presidente americano. Israel é intocável e abandonar os israelenses depois tanto sofrerem com o terrorismo seria imoral.
O abandono dos EUA em relação a seus aliados israelenses pode nos custar, a todos, uma guerra de proporções catastróficas. Pelo material envolvido, certamente nuclear, pela questão do petróleo, enfim… Um dado dispensável a um mundo em crise e perplexo. Parece que os críticos do presidente democrata americano tinham razão. Seu despreparo parece evidente.Valeram os aplausos do Congreso americano ao Primeiro Ministro de Israel. Não se pode conviver com tantas crises ao mesmo tempo. E o nosso Brasil não está fora desse contexto.
Os avanços na economia mundial, muitos fruto do crescimento dos mercados consumidores em função da melhor distribuição da renda, da tecnologia, do ingresso total das mulheres no mercado de trabalho – e de consumo –, exigem uma contrapartida em pesquisa, eficiência, controle de custos, combate à corrupção e legislação justa nas relações trabalhistas e tributárias. Não estamos bem nestes itens, temos de admitir.
A corrupção parece que chegou à China e continua dominando a Rússia, referências muito comuns na imprensa européia. E visível no comércio de alto luxo, agora com vendedoras que falam russo e chinês.
Vamos observar tudo isso com pragmatismo e serenidade. Se possível, ficando longe disso tudo. Mas agindo no sentido de corrigirmos rumos equivocados. A começar pelos gastos.
*Aristóteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
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