terça-feira, 14 de junho de 2011

FALAR, ELE FALA, AGIR É QUE NÃO!




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Na sua mensagem de ano novo, em 1 de Janeiro de 2010, dirigida aos portugueses onde, penso, terá incluído os dois milhões (20%) de pobres e os mais – na altura - de 600 mil desempregados, Cavaco Silva traçou um cenário negro da situação económica do país dizendo mesmo que “podemos estar a caminhar para uma situação explosiva”.

Ou seja, o presidente da República só fala, apenas fala. E fala, reconheça-se, bem. Há muitos anos que ele fala bem. No entanto... as palavras voam e as acções nunca aparecem.

Já nesse ano, como nos anteriores e seguintes, Cavaco Silva nunca falaou em retoma, pediu mais exigência e responsabilidade e afirmou que “o exemplo tem de vir de cima”.

Como os últimos anos demonstram, o pedido revela uma santa ingenuidade. Não. Não a de Cavaco Silva mas, isso sim, a dos portugueses. É que Cavaco anda nisto há muitos, muitos anos. Foi primeiro-ministro durante uma porrada de anos, é presidente reeleito e, por isso, é tudo menos ingénuo.

De discurso em discurso, cada vez mais penso que Portugal precisa é de mudar de paradigma. De facto, mudar de povo não me parece possível. Já mudar de políticos que sabem tudo mas não fazem nada talvez fosse uma boa alternativa. O problema é que em Portugal mantém-se actual e pujante o ditado popular: quanto mais me bates, mais gosto de ti.

De vez em quando, como se não tivesse nada a ver com o que se passa nas ocidentais praias lusitanas, Cavaco Silva vai dando uns palpites. No passado dia 10 de Junho de... 2010 disse ser inaceitável o alheamento dos portugueses da vida pública.

É verdade. Mas de quem será a culpa? Dos cidadãos que cada vez mais são vistos pelos políticos, sejam estes deputados, dirigentes partidários, governantes ou presidentes da República, como mera mercadoria ou, na melhor das hipóteses, como números, ou daqueles que se julgam donos do reino por pertencerem a uma casta diferente?

Cavaco Silva disse também que “em tempos reconhecidamente difíceis como aqueles em que vivemos, não é aceitável que existam portugueses que se considerem dispensados de dar o seu contributo, por mais pequeno que seja”.

Não é, Senhor Presidente, uma questão de se considerarem “dispensados de dar o seu contributo”, é antes uma questão de não aceitarem passar um cheque em branco a políticos em quem não acreditam. Mudem-se os políticos e as políticas e os portugueses passarão a estar na primeira linha do combate democrático.

Tudo isto é sintoma, claro, de que ou os políticos portugueses deixam de cantar no convés enquanto o navio se afunda, ou sujeitam-se a que o Povo saia à rua e os afunde. E ao que me parece amanhã já será tarde...

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado

Sem comentários:

Mais lidas da semana