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Bissau, 03 jun (Lusa) -- A Associação dos Amigos da Criança (AMIC) e a Polícia Judiciária retiraram esta quinta-feira uma criança a uma mulher na capital da Guiné-Bissau por esta prender a menina com um cadeado na perna para não sair de casa.
A situação, que ocorreu no bairro de Belém, está a abalar a sociedade guineense e a Polícia Judiciária, que só não prendeu a mulher, antiga professora, por ela estar doente.
Fernando Cá, dirigente da Associação dos Amigos da Criança (AMIC) da Guiné-Bissau, disse estar chocado "com tamanha crueldade de uma mulher que até já foi professora".
A criança em causa é uma menina de oito anos, cujos pais são Bijagós, residentes na distante ilha de Unhocum. A autora da proeza é uma senhora idosa que até já foi professora, embora esteja agora aposentada.
"A insólita situação da criança já vinha acontecendo há mais de um mês. Uma ativista da AMIC soube da situação e foi lá a casa da senhora de forma discreta e fez fotografias que nos serviu de prova e nós atuámos logo", contou à agência Lusa Fernando Cá.
"A senhora acorrentava a criança, às vezes amarrava-a. De vez em quando mudava o cadeado e a corrente quando notava que a perna da criança estava inchada", disse o responsável da AMIC, sublinhando que a mulher prendia a criança para esta não sair de casa.
Edmundo Mendes, diretor-geral adjunto da Polícia Judiciária guineense, disse que apesar já ter "muitos anos de serviço na Polícia", durante os quais viu vários casos insólitos na Guiné-Bissau, este foi seguramente o que o mais o surpreendeu.
"Já vi e assisti a tanta coisa estranha nas minhas funções de polícia, mas nunca tinha visto nada assim. É surpreendente que no século XXI haja ainda no nosso país uma pessoa com esta atitude medieval", observou o responsável da PJ que está a investigar o caso para adotar medidas punitivas.
A AMIC, com autorização da PJ, consentiu que uma senhora de um outro bairro tomasse conta da criança até haver uma decisão judicial sobre o caso.
De acordo com Fernando Cá, a criança está bastante debilitada e aparenta estar com anemia.
A senhora só não foi presa porque está doente, disse Fernando Cá, salientando, contudo, que terá que responder pelos seus atos.
A AMIC está a tentar contactar com os pais biológicos da criança, mas Fernando Cá disse ser ainda difícil, já que a ilha de Unhocum, onde vivem, é das mais remotas localidades do arquipélago dos Bijagós.
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