terça-feira, 14 de junho de 2011

ONDE ESTÁ A OPOSIÇÃO ATIVA E DEMOCRÁTICA TIMORENSE?




BEATRIZ GAMBOA* - reposição

EX-GOVERNO DE FACTO PARA UMA EX-OPOSIÇÃO...

A paz apodrecida que vai em Timor Leste denota entendimentos entre as cúpulas partidárias de todos os partidos, incluindo a FRETILIN. Crê-se que à revelia de alguns militantes e simpatizantes existem acordos das cúpulas partidárias, incluindo CNRT-FRETILIN, que o mesmo será dizer Xanana Gusmão-Mari Alkatiri. Há cerca de dois meses o próprio líder da FRETILIN referiu que existia um acordo tácito com Xanana Gusmão. Segundo fontes fidedignas estavam então na fase de declaração de princípios desse acordo. Actualmente e desde há uns tempos deverá estar em vigor, desconhecendo-se o seu teor e o que implicará para a democracia timorense. As perspetivas de um Gusmão sem oposição atenta, forte e ativa, são péssimas.

Que em Timor se vive uma paz podre é facto. E de facto o que era para a FRETILIN um “governo de facto”, a AMP, deixou de o ser. Assim demonstra a realidade.

Não seria errado que um memorando de entendimento, um acordo, fosse celebrado pelas duas principais forças políticas do país, o CNRT e a FRETILIN. Não seria errado se não existissem anteriormente e no presente acções graves cometidas pelo governo de Xanana Gusmão. Ataques à democracia, ao Parlamento, aos opositores, à justiça, às liberdades dos cidadãos, que vimos consignadas na Constituição mas que estão por resolver. Na maior parte dos casos estas ilegalidades foram denunciadas de modo mais ou menos claro pela FRETILIN, que neste momento parece ter esquecido aquilo que exigiu: esclarecimentos, transparência, procedimentos e justiça actuante.

A paz podre que se percebe nas ruas de Díli, a acalmia nas palavras de Xanana Gusmão que antes era sistematicamente agressivo, deixam perceber sintomas danosos: a FRETLIN pode estar a ficar refém das intenções quase sempre obscuras de Gusmão e do seu séquito de apoio com défice de honestidade e excesso de impunidade, composto por personalidades do governo ou próximo dele, por familiares, denunciados como envolvidos em operações de corrupção, de conluio e de nepotismo, pelo menos.

Tanto assim é que existem famílias que têm quase todos os seus elementos integrados no governo AMP ou com desempenhos muito próximos e em cargos estratégicos. Mas agora já nem se ouvem protestos, nem se vêem, como anteriormente, as contestações, as denúncias, vindas das cúpulas da FRETILIN, parecendo que tudo que contestava foi corrigido a seu contento e dos interesses nacionais e democráticos pelo governo de Xanana Gusmão. Nada mais erróneo. Actualmente a situação piorou. A detenção de um poderio perigoso está a consolidar-se cada vez mais todos os dias. O hábito e cansaço dos escândalos tornaram-se numa peça rotineira do quotidiano contribuindo para o actual silêncio. Ainda mais devido ao perceptível amorfismo da FRETILIN.

Se uma oposição, em qualquer país, abdicar de exigir procedimentos de justiça e de transparência para o que anteriormente denunciou é certo que se torna cúmplice das ilegalidades cometidas e do défice de democracia existente, que mais se agravará com essa cumplicidade por via de entendimentos que ultrapassam a razão de um estado de direito.

Mais grave será existirem acordos secretos, como se comenta frequentemente na capital e um pouco por todo o país. Evidentemente que só se pretendem secretos por envolverem desonestidades políticas e nada mais. Se não é assim, quais as razões para existirem certos “silêncios” no Parlamento, para além de algum folclore com laivos de oposição? Se não é assim, qual a razão de silêncios cúmplices em assuntos vitais de interesses do país? Se não é assim, o que está a acontecer?

De um momento para o outro o governo AMP passou a governar bem ou de modo razoável? Tomaram pílulas de honestidade e repuseram milhões “desaparecidos” ou malbaratados? Alguma vez estas dúvidas terão resposta transparente e verdadeira no quadro da democracia que o país pretende?

Pelo menos aparentemente a oposição dos pequenos partidos que não integram a AMP emudeceu. A FRETILIN, o partido mais votado e excluído por Ramos-Horta de formar governo, em 2007, mostra estar anémico perante um ex-governo de facto da AMP que põe e dispõe sem vozes e acções democráticas opositoras, graças a uma ex-oposição, ou ex-oposições, como melhor se ajustar.

*Conteúdo em reposição, original em Timor Lorosae Nação – diário – publicado em 08 de agosto de 2010. Todos os conteúdos de opinião de autores do nosso coletivo e de amigos da Fábrica dos Blogues - publicados no Página Um e no Timor Lorosae Nação diário - estão a ser progressivamente transferidos para o Página Global.

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