terça-feira, 14 de junho de 2011

Portugal: O BOM NOME INTERNACIONAL




ADRIANO MOREIRA – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Não recordo, e por isso não usarei certamente com rigor as palavras usadas algures por Soros, quando avisou sobre a fragilidade dos sistemas financeiros em que vivíamos, e a facilidade com que um especulador experimentado, como é comprovadamente o seu caso que não esconde, poderia desequilibrar o sistema de qualquer país.

É possível que tenha exagerado no comentário, mas os factos estão a demonstrar que a fragilidade frequenta muitos dos Estados, incluindo o nosso, e que, sem que a identidade de cada um dos povos europeus seja afectada, a crise do Estado é evidente, e que a relação entre ambas as realidades tem graves debilidades no que toca à confiança. Se esta confiança é um elo fundamental na preservação do tecido conjuntivo da sociedade civil, ela própria fica ameaçada quando a confiança nos órgãos da soberania se mostra enfraquecida, como é visível, e crescente, na sociedade civil portuguesa, numa época em que um multiculturalismo de multidão soma grupos não integrados, por falha de políticas atempadas, por deficiência de avaliação dos efeitos colaterais acompanhados pela exigência de coordenação do direito de cada ser andar pelo mundo, com um organizado acolhimento que impeça transformar as diferenças em incompatibilidades. Na vizinha Espanha, entre algumas das certezas recolhidas na manifestação de descontentamento que se realizou em Madrid, mesmo sem autorização das autoridades, às quais os manifestantes negaram legitimidade para intervir, estava o grito de que "sem pão, não há paz". Esta paz ameaçada, na interpretação mais tranquilizadora, é a paz da sociedade civil, que de qualquer modo adiciona prejuízos às carências, e toda a Europa, abrangida pela fronteira da pobreza, poderá seguramente escutar igual advertência em várias línguas. Quando isto acontece, coincidindo ou não com eleições, para as quais o regime legal não concede aos eleitores uma suficiente liberdade de escolha dos responsáveis que assumirão o governo, visto o tão criticado método de organização das listas, maior é a responsabilidade daqueles que possuem a capacidade legal de as organizar, no sentido de defender a imagem própria e do país, não apenas internamente, mas sobretudo em relação às organizações internacionais, e às opiniões públicas transnacionais, cuja solidariedade é indispensável para recuperar a viabilidade de um futuro digno. Naturalmente, o apelo à verdade da palavra usada nos debates foi repetido pelas mais variadas instâncias que não se alheiam do interesse público, ainda quando apenas intervêm como responsáveis na sacrificada sociedade civil, mas essa advertência cívica não é atendida quando os debates mais significativos se ficaram pela avaliação recíproca dos intervenientes a respeito das suas capacidades postas reciprocamente em dúvida, e omitiram aproximar-se dos temas mais desafiantes da exigida reconstrução da viabilidade e sustentabilidade da comunidade portuguesa, regressada a um desenvolvimento sustentado. Nem a justiça, cuja complexidade de funcionamento mina a confiança interna e a confiança do investimento externo, nem a vontade esclarecida e fundamentada de cumprir, com solidariedade dos partidos, os compromissos tomados para conseguir o apoio externo, nem a política internacional exigente de recursos, criatividade, e confiança, para uma conjuntura de desastre, nem os vícios das relações entre poder político e económico, nem o regresso ao mar, e ao conceito de reserva estratégica alimentar, estreitamente ligados ao grito de Madrid, dão ainda mostras de receberem o tempo que lhes é devido nos principais confrontos sobre a liderança do governo possível. Existe uma instância que avalia estes factos com interesse, porque também é interessada na confiabilidade de cada país, que é a opinião pública mundial, a qual cria a percepção da situação, da consistência das estruturas, e do bom nome português. Não parece estar a ser bem apoiada, no sentido que interessa à recuperação portuguesa, e não faltam avisos mal escutados de que é urgente não descuidar a opinião pública internacional.

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