sábado, 18 de junho de 2011

Salsinha & Companhia - O CONSELHO DE SEGURANÇA, A ONU E A SUA EXPONENCIAL HIPOCRISIA




FERNANDO SILVA – reposição*

A semana passada e ainda agora surgem resquícios daquilo que foi revelado como preocupação do Conselho de Segurança da ONU sobre a política de impunidade em Timor Leste, apontada sobremaneira a um dos seus mentores, o presidente da república, José Ramos Horta. Abordagem que podem encontrar neste título: CONSELHO DE SEGURANÇA DEIXA AVISOS CONTRA IMPUNIDADE JUDICIAL .

Mesmo com muito boa vontade deve ser impossível aceitar como honestas as referidas “preocupações” e “chamadas de atenção” do CS da ONU, principalmente para os que têm acompanhado todos os processos em que o PR e o governo de Xanana Gusmão têm responsabilidades nas interferências inconstitucionais sobre o poder judicial. Porque a ONU deve monitorizar o que acontece também neste aspeto em Timor Leste, considerarmos as declarações de Ban Ki-moon e do do CS hipócritas não é exagero.

Na realidade a ONU em Timor Leste teve a sua quota de responsabilidades no 11 de Fevereiro de 2008, na farsa do dito e na farsa do julgamento. O assalto em Balibar, a emboscada à caravana do primeiro ministro e à sua residência, nunca aconteceu. E a ONU deve sabê-lo. Gastão Salsinha e todos que o acompanharam não atacaram a caravana do primeiro ministro timorense, o próprio Tribunal de Recurso reconheceu isso. Também não atacaram a residência, igualmente em Balibar, onde estava a família do primeiro ministro. Por mais mentiras que existissem no sentido de formatar a farsa declarada pelos pseudo atacados da residência bastaria recolher declarações de testemunhas. Existem pessoas que passam habitualmente pelo “caminho de cima” que fica em local geográfico de nível superior e ladeia a dita residência. Pessoas que moram ali. Não ocorreu nenhum ataque. Foi como declararam as testemunhas. Afinal vizinhos do PM. Mas na perícia que fizeram ao local, já para o final do julgamento, o juiz presente não pareceu muito interessado em entender o que realmente se havia passado. Nem deu importância ao que foi declarado. Afinal foram à residência, ao local do pseudo ataque ao PM, na estrada a caminho de Díli, mas mantiveram a farsa montada por Xanana Gusmão – sabendo ele as suas razões para tamanho “teatro” e quais as suas conveniências.

Mas a ONU, UNMIT, que tinha destacado dois elementos da UNPOL na segurança do primeiro ministro tendo um deles - agente tailandês Konsan - declarado que trocou tiroteio com o alegado atirador que se encontrava no lado esquerdo da estrada emboscado para “matar” o PM, recolheu declarações atabalhoadas do UNPOL e pô-lo ao “fresco”, apesar das detetáveis incongruências. Tão detetáveis quanto a precipitação ao alegarem que os tiros do atentado às viaturas do PM partiram do lado esquerdo da estrada mas a viatura PM foi baleada à frente no farol do lado esquerdo e, pasme-se, pelo lado direito. Com ironia, já houve quem afirmasse que aquela arma fazia tiro curvo. E a ONU quis saber? Quis apurar na realidade qual a verdadeira intervenção dos agentes da UNPOL que tinha no teatro da farsa? Não. Tratou tudo a “lavar as mãos” como Pilatos.

Assim, sabendo-se que o grupo de Salsinha não atentou contra a vida do PM nem da família como se justifica que tivessem sido condenados?

Foram condenados injustamente, por “encomenda” dos do poder político ao poder judicial, e sobre isso não vimos nem ouvimos o CS da ONU insurgir-se ou transmitir “preocupações e alertas”. Evidentemente que Ramos Horta sabe tudo isto. Ele exigiu e conseguiu tirar provisoriamente da prisão de Becora Gastão Salsinha, levarem-no às suas instalações e acordar com Salsinha a trama. Tanto quanto se sabe sob a garantia de que os “libertaria rapidamente” através de processo que se viu. Contra o qual agora o CS se manifesta e “preocupa”.

UM PRESIDENTE ARROGANTE E IMODESTO

Ramos Horta acabou por fazer o que prometera a Gastão Salsinha, até um pouco mais tarde do que o previsto. Não faltaram pressões do lado do grupo Salsinha a informar que “estavam a perder a paciência”.

Todos sabíamos qual o desfecho desta farsa. Não foi por acaso que ilegalmente o PR Horta exigiu falar com Salsinha, contra a decisão de um juiz. A ONU-UNMIT também teve conhecimento disto. Reação nenhuma.

A ONU-UNMIT decerto que estava minimamente a par das conversações de Ramos Horta com o grupo dissidente que ladeava Alfredo Reinado e Gastão Salsinha. Sabia que Ramos Horta havia ganho a confiança de Alfredo Reinado. Sabia que Ramos Horta, em 13 de Janeiro de 2008 havia estado numa relação de grande confiança com Reinado, em reunião onde também estiveram presentes elementos do governo, na Pousada de Maubisse. Ali afirmou-lhe Ramos Horta que considerava Reinado e seus homens umas vitimas. Falou com o militar rebelde olhos nos olhos, conquistou-o. Manteve essa conquista e relação de confiança. Era o único político do poder em quem Reinado confiava. A ONU-UNMIT estava de posse dessas informações. Então qual a razão porque a partir do primeiro segundo alinhou na farsa do atentado a Ramos Horta perpetrado por Alfredo Reinado? Porque razão, com provas bastantes sobre a execução de Reinado e de Exposto na casa de Ramos Horta, nunca manifestou “preocupação” pelo facto?

Naquela manhã, em casa de Ramos Horta e na rua contigua assistiu-se a dois assassinatos (execuções premeditadas), a ferimentos graves infligidos a um militar perto de Ramos Horta e a Ramos Horta que caminhava à vontade de regresso a casa após ouvir tiros vindos de lá. Os homens que acompanharam Reinado (naquele momento já executado) não estavam no teatro de operações, tinham fugido para a montanha. Quem disparou contra Ramos Horta? Porque razão o atentado de Balibar foi um “inventado”? Quais as responsabilidades de Ramos Horta na armadilha montada a Alfredo Reinado? Porque razão mentiu sobre quem tinha disparado contra ele?

Apesar de todas estas “confusões” e de a ONU-UNMIT ter sempre alinhado na farsa do 11 de Fevereiro de 2008, apesar da hipocrisia do Conselho de Segurança e de Ban Ki-moon, apesar de Ramos Horta saber quase toda a verdade sobre o 11 de Fevereiro de 2008… Apesar disso Ramos Horta demonstrou a sua enorme arrogância e imodéstia ao comentar as declarações da ONU quando se mostrou “preocupada” com as amnistias e outras engenharias optadas pelo PR Horta.

Ficamos uma vez mais a saber que a ONU é um enorme Faz de Conta, que contém no seu recheio uma exponencial hipocrisia e que, por mais aberrante que seja, a razão está com Horta ao libertar quem não tinha culpas para ser condenado mas que anteriormente foram sacrificados para que os verdadeiros culpados dos crimes em 11 de Fevereiro de 2008 não fossem incriminados, condenados, e agora ainda fossem reclusos na prisão de Becora. A ONU sabe isso e Ramos Horta sabe muito bem o que fez e o que outros fizeram. Até sabe o que certos condenados não fizeram, entre os quais aqueles que foram condenados por quem os quis ver executados. Os mortos não falam e o Salsinha, apesar de estar vivo, também não. Com a morte de Reinado aprendeu. Ele quer viver. Não fala.

Outros títulos no TLN semanário:
- THE STRANGE END OF THE 2008 “COUP” AFFAIR
- A LÍNGUA UAIMOA DE TIMOR LESTE
- A SEMANA PASSADA - II

VER PROCESSO 11 DE FEVEREIRO EM SCRIBD (a publicar oportunamente mais documentos)

*Conteúdo em reposição, original em Timor Lorosae Nação – diário – publicado em 28 de outubro de 2010. Todos os conteúdos de opinião de autores do nosso coletivo e de amigos da Fábrica dos Blogues - publicados no Página Um e no Timor Lorosae Nação diário - estão a ser progressivamente transferidos para o Página Global.

9 comentários:

Anónimo disse...

"Gastão Salsinha e todos que o acompanharam não atacaram a caravana do primeiro ministro timorense, o próprio Tribunal de Recurso reconheceu isso."

Entao o Tribunal condenou-os a pena de prisao por serem inocentes?

Que proposicao tao ridicula.

Página Global disse...

Caro leitor:

Não comente sem ler o Acordão aqui em http://pt.scribd.com/fblogues e demais documentação. Não houve atentado pelos homens do Salsinha em Balibar. Houve um Inventado até com tiros curvos e tudo! Ridiculo defender o indefensável. Leia e veja bem a Trama e a Farsa do 11 de Fevereiro 2008. Depois comente... se souber ser justo e se souber interpretar o que consta no Acordão, que só por ele próprio é uma verdadeira fantochada. Justiça em TL lahia.
Vá ler sff porque publicamos no Scribd com muito empenho e ainda há mais para publicar.

Anónimo disse...

São bestas como o anónimo 18 de Junho de 2011 17:27 que alimentam a possibilidade de potenciais criminosos e violadores das leis de TL estarem ainda no poder a governarem-se.
Vá ler tudo porque no processo percebe-se que aquilo foi mais um fantochada à Xanana e à Horta, mas o PR tramou-se e não morreu por sorte. Mas Horta sabe quem são os criminosos, tem essa obrigação. Por isso teve pressa de fazer o perdão para o Salsinha e seus homens, que estavam inocentes.
Vá ler sua besta. Depois venha para aqui dizer coisa certa em vez de escrever disparates em tão poucas palavras que escreveu.

Anónimo disse...

Prá que judiciário se temos Fernando Silva. Fiquemos tranquilos, com a Fretilin tudo se resolve. Afinal, a verdade fará luz com a Fretilin no poder.

Anónimo disse...

Acho que os senhores da Fabrica dos blogues nao leram o Acordao ou entao estavam a espera que os leitores nao se dessem ao trabalho de o ler e simplesmente aceitarem o que aqui escrevem como verdade.

Pois segui o seu conselho e fui ler o Acordao atraves do link que me proporciou.

Alem de outras passagens que condenam varias pessoas pelos crimes de homicio de forma tentada, deparei-me logo com o seguinte nas primeiras paginas:

(...)"Por acórdão de 15 de Fevereiro de 2010, foi proferida a seguinte decisão:

(...)

18.Condenar o arguido Gastão Salsinha, pela prática, em co-autoria, de um crime de homicídio, na forma tentada, (tendo por vítima Kay Rala Xanana Gusmão), p. e p. pelos arts. 338º e 53º do Código Penal Indonésio, napena de oito anos de prisão.

(...)

20. Condenar o arguido Gastão Salsinha, pela prática, em co-autoria, de um crime de dano
(tendo por objecto o veículo automóvel com a matrícula PM 1), p. e p. pelo art. 406º do Código Penal Indonésio, na pena de
um ano e seis meses de prisão.

21.Condenar o arguido Gastão Salsinha, pela prática, em autoria singular, de um crime de uso de arma proibida, p. e p. pelo art. 211º,nº 3, doCódigo Penal de Timor Leste, na pena de dois anos de prisão.


E agora em que ficamos?

O Tribunal de Recurso condenou ou nao Gastao Salsinha pelo atentado ao PM Xanana?

Assim sendo, o Tribunal de Recurso estabeleceu ou nao que houve realmente um atentado ao Pm Xanana Gusmao?

Página Global disse...

Estimado leitor

Na verdade a sua sua intervenção é muito oportuna e sensata. Iremos reservar-lhe resposta esclarecedora por quem poderá esclarecer estas questões com a sapiência e conhecimentos que se impõem.

Muito em breve teremos aqui a resposta. Recorde-se que, tanto quanto nos lembramos, o Tribunal de Recurso chegou a conclusões diferentes do TDD e aligeirou a pena dos condenados pelo TDD.

Muito obrigado por avivar e querer saber dos esclarecimentos sobre o caso.

Ana LM

Página Global disse...

Ao leitor anónimo de 19 de Junho de 2011 04:41

Agradecemos que aqui não sejam efetivados ataques pessoais e ofensivos do bom nome que todos que aqui intervêm merecem.

Consideramos desta vez que foi uma atitude impensada por parte do leitor que fez aquele comentário mas na próxima excluiremos comentários deste género.

Agradecidos

ALM

Anónimo disse...

Nao percebo como causei ofensa

Página Global disse...

Creio que é o anónimo de 19 de Junho de 2011 04:41 que trata interveniente por "besta". Está errado. E a observação é relacionada só por isso.

Se não é esse anónimo em referência ainda bem.

Obrigada.

ALM

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