terça-feira, 12 de julho de 2011

ÁFRICA OBRIGADA A REAGIR





A correlação de forças entre o poderoso grupo que persegue a hegemonia unipolar e as emergências Euro – Asiáticas (Rússia, China e Índia), está a ser alterada a favor da emergência, apesar de algumas vulnerabilidades suas perante a hegemonia, com uma vantagem: sem disparar um tiro, pela via de investimentos económicos e financeiros, respeito para com os outros estados, nações e povos, maior abertura para com as classes menos favorecidas e emparceiramentos com potências médias, ou países detentores de matérias-primas, os “rebocadores” das alternativas, embora num quadro de lógica capitalista, conseguem resultados que garantem um outro modelo para o futuro ao longo do século.

São uns Estados Unidos e uma Europa em crise, numa crescente “anemia” económica e financeira, doente com os vírus da especulação desenfreada e o roubo dos bancos às cada vez mais depauperadas economias e finanças, sob a ameaça da concentração da riqueza em cada vez menos mãos, com o cancro das desigualdades entre as nuvens de tempestade que se desenham nos horizontes próximos, que os riscos do ciúme, agravados pelo egoísmo exacerbado e pela vocação pela rapina, garantem os relacionamentos internacionais: dos Estados Unidos e da Europa é utópico que se espere algo de construtivo, algo que estimule a sustentabilidade social da paz, algo que seja construído no sentido da vida, da solidariedade, da humanidade, até as caridadezinhas que foram desde sempre institucionalizadas e servem como descarga de consciência à “civilização ocidental” são um indicador de cinismo, uma máscara de mau gosto para a ética, para a moral e para a estética…

No que toca ao relacionamento dos Estados Unidos e da Europa para com o continente africano, de há muito há provas fundamentadas de ingerência, de provocação de desequilíbrios e desigualdades, de injustiças de toda a ordem, da rapina e de sangue, particularmente por parte de interesses anglo-saxónicos e franceses.
Nesse sentido a colonização não terminou, em alguns casos não terminou a escravatura, com o seu cortejo de lesa humanidade…

Para norte-americanos e europeus, melhor, para as suas aristocracias financeiras germinadas na lógica capitalista mais insaciável desde a época de expansão marítima, o mundo existe para benefício exclusivo do seu ego, não é um conceito de casa comum, não é merecedor de respeito, compreensão sensível e científica, como se os recursos da Terra não tivessem limite.

Se todos os habitantes da Terra consumissem ao nível dessas aristocracias – piranha, nem um planeta do tamanho de Júpiter teria recursos e garantiria sustentabilidade para o bem-estar de todos e o bem-estar comum, para instaurar equilíbrios humanos e ambientais, para a adopção de políticas acertadas com sentido de vida!

Para aqueles que piedosamente são ferventes crentes de Deus e nessa linha de raciocínio, têm linha verde para a seguinte conclusão: felizmente que o homem existe e é produto dum planeta muito mais pequeno que Júpiter: já imaginaram se as aristocracias – piranha tivessem à sua mercê um planeta com a dimensão de Júpiter?!

É talvez por causa disso que Deus é “infinitamente misericordioso e sapiente”…
Quando o planeta Terra é tão maltratado, a parte humana e ambiental que mais sofre é a do continente berço da humanidade e isso é não só um sinal de dependência, de subdesenvolvimento, é um sinal de que, quando não há pão para sustentar as bocas das crianças, que a escravatura continua!

É esse o entendimento que se exige da União Africana não agora por causa do incêndio da Líbia, mas desde o processo das independências formais, desde o processo da formação de tão mal paradas elites do “novo século”, um processo imperdoável quando há já outras vigorosas alternativas em emergência, algumas delas mesmo do outro lado do Atlântico.

A histórica resistência de Cuba consolidou-se também com o entendimento do significado humano da escravatura e suas sequelas, as que chegam aos nossos dias, num processo sentido historicamente em momentos tão decisivos quanto os que têm vivido nações pendulares como Angola e o Haiti!

O heróico socialismo de resistência não tem sido contudo a via que se cultivou em África após a derrocada do bloco socialista da Europa do Leste e da URSS; quando muito há um socialismo democrático “rosa pálido”, que deu corpo à expansão da “democracia representativa” e pouco se abre à cidadania responsável e à participação, salvo a participação engenhosa das “novas elites” que, em países como Angola, rondam os “decisivos 100 novos ricos”, a casta que mais beneficia dos enredos das parcerias público privadas e das estratégias alternativas emergentes que não romperam com a lógica capitalista.

É o elitismo existente na África Austral, que integra muito fortes componentes tais como uma parte substancial do “lobby dos minerais”, o “cartel dos diamantes”, os que seguem os Democratas nos Estados Unidos, os Trabalhistas na Grã Bretanha, ou a consolidada estratégia da senhora Merkel na Alemanha, bem como a “emergência angolana” que das sombras surge a cavalo no petróleo, a oligarquia que está mais interessada em fazer face pelo menos de forma subtil e tão diplomaticamente quanto o possível, ao “diktat” do AFRICOM e da OTAN conforme à receita da Líbia, até por que a África Austral tem motivações estratégicas e geo políticas: está no outro lado do continente, no lado oposto à Europa da Grã Bretanha e da França principais interventores na Líbia, na África Austral, onde é mais fácil, agarrando até no histórico das tradições imperialistas de Cecil John Rhodes, fazer o “contraponto” que ao fim e ao cabo interessa à grande manipulação da aristocracia financeira mundial, à escala do globo terrestre.

A próxima visita da senhora Merkel à África Austral confirma as tensões internas no quadro da OTAN, confirma que a Alemanha está mais próxima da União Africana que de “parceiros” como a Grã Bretanha ou a França tendo em conta o caso da Líbia, confirma a aproximação da Alemanha aos BRICS (sobretudo à Rússia e à China) e os impulsos de que o “lobby dos minerais”, assim como o “cartel dos diamantes” pretendem para a imensa região desabitada do projecto “turístico” (?) do “Okawango and Upper Sambeze Tourism Innitiative”…

O Presidente sul africano Jacob Zuma identifica-se como um forte “porta voz” da posição desse elitismo africano face ao problema da Líbia, até por que a África Austral, ultrapassadas as últimas sequelas do colonialismo e do “apartheid”, cultiva um ambiente de ausência de tiros para fazer florescer a estratégia dos grandes negócios e tentar com isso, fazer tudo para ganhar a imagem de desenvolvimento e de paz que pretende conferir sustentabilidade e idoneidade aos estados.

A integração feita de forma surpreendente da África do Sul nos BRICS, resulta da enorme capacidade do “lobby dos minerais” e do “cartel dos diamantes”, que procuram com a SADC, estabelecer nexos numa das mais ricas regiões do continente africano: a que fica mais longe da Europa e dos Estados Unidos, mas estrategicamente a meio caminho nas rotas entre o Brasil e a Índia.

Um dos nexos que mais fortemente estão a florescer na África Austral, é o do plano “Okawango and Upper Sambeze Tourism Innitiative”, que com a ausência de tiros em Angola beneficia da componente decisiva do país que, com a Zâmbia, possuem a matriz da água de toda a região: o Cubango (Okawango) e o Zambeze.

A presença do Presidente angolano no Cuando Cubango, levando o Conselho de Ministros a Menongue, insere-se no programa amplo que está destinado a uma região fronteiriça que conjuga a aproximação de 5 países da África Austral, onde os enlaces de interesses se estão a tornar mais rentáveis para todos os intervenientes e onde uma atmosfera de paz típica dos grandes ermos é imprescindível, mesmo que hajam crises como a do Zimbabwe.

Para o “OUZTI” a iniciativa da componente angolana está a trazer a SONANGOL e privados como a PUMANGOL ao Cuando Cubango, as tais “parcerias público privadas”, ou seja, uma forma de fortalecimento dos interesses das oligarquias, integrando geoestratégias: nunca a “nova elite” angolana esteve tão próxima de se “emparceirar” com os interesses duma Anglo American, ou de uma De Beers, por tabela das elites sul africanas levando a reboque as dos outros componentes da SADC, como agora e, para isso, a senhora Merkel “redescobre” África!

Isto tudo é para dizer que, embora tardiamente, a crítica da União Africana com a “voz autorizada” do Presidente Jabob Zuma em relação ao caso da Líbia, é talvez a única em África que faz um contraponto com fortes argumentos geo estratégicos relacionados com a emergência e com os próprios BRICS, como é óbvio sem abandonar a lógica capitalista e muito longe, em termos de força ética e moral, da capacidade de resistência histórica demonstrada pela Revolução Cubana, do outro lado do Atlântico e com o movimento de libertação em África.

Essa é por si uma forma contemporânea de aproveitar a visão imperialista de Cecil John Rhodes, como energia para a emergência sul africana e da África Austral, integrando a componente angolana, com o suporte dos outros BRICS, mas também com o suporte da Alemanha que trará a reboque, aproveitando a crise, alguns interesses em paóses como Portugal.

Essa é uma forma de gerir estratégias “do Cabo ao Cairo”, ou ao seu paralelo Tripoli.
Tendo estado presente nas mais decisivas batalhas contra o regime do “apartheid”, através de suas forças armadas, Cuba e a Rússia (que foi a principal componente da URSS e do Bloco Socialista), poderão vir a integrar as componentes da “OUZTI” na hora da paz possível que tão longe está da paz com justiça social e um maior equilíbrio humano e ambiental, mas uma paz que é ainda mais possível nos países de muito baixa densidade demográfica como os que compõem, com imensas extensões suas, os ermos do “OUZTI”.

Um participação cubana num “OUZTI” é mesmo assim desejável, não só tirando partido do significado histórico do Cuito Cuanavale, ou por causa dos laços de identidade cultural para com África: é que a escola latino americana em relação a questões ambientais, (recorde-se as escolas da Bolívia, da Nicarágua e do Equador) com raízes nas civilizações originais da América, identifica-se com os direitos da Mãe Terra e nesse sentido é vanguardista, o que vai para além dos conhecimentos científicos conseguidos pela escola sul-africana, eminentemente elitista ao ponto de ser uma das componentes que estão empenhadas de diversas formas nos imensos espaços vazios da África Austral, conformados aos projectos do “lobby dos minerais” e do “cartel dos diamantes”.

Até agora foi isto o que melhor se tem conseguido dando sequência ao movimento de libertação em África, o que está muito longe da força e da energia que com tantos sacrifícios foi capaz de chegar ao patamar do resgate dos povos africanos da escravatura, do colonialismo e do “apartheid”: temos as bandeiras e com esta interdependência alternativa instável, quando se tem de fazer constantemente o balanço de correlação de forças, será que somos mesmo capazes de ser independentes?

Pelo andar da carruagem provavelmente só daqui a 200 anos, tendo em conta a cronologia histórica latino americana!

*Martinho Júnior - Colaborador no Actual, de Luanda, falido no último trimestre de 2004. Reproduzido no Informação Alternativa e em outras publicações. Para breve a publicação de um livro. Antigo combatente do MPLA na luta pelo resgate do colonialismo, do “apartheid” e das suas sequelas. Identificado com o povo angolano, mantendo um ponto de vista histórica e sociologicamente à esquerda do actual espectro político angolano. A vocação para a escrita redunda dessa identificação, tendo começado a publicar na última década do século passado. Texto publicado no site Página Global.

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2 comentários:

Anónimo disse...

A guerra do ocidente contra a África

DanGlazebrook*

26.Mar.13 :: Outros autores
A imagem clássica da África, difundida pela imprensa-empresa ocidental – um saco gigante, cheio até a boca de guerras infindáveis, fome, crianças abandonadas – cria a ilusão de um continente que dependeria existencialmente do que lhe dê a caridade ocidental. A verdade é exactamente o contrário disso. O ocidente é que depende existencialmente do que extrai de África.


O que o ocidente obtém da África é obtido de várias, muitas maneiras. Dentre essas maneiras, os fluxos ilícitos de recursos; os lucros que, invariavelmente, acabam nos cofres dos bancos ocidentais pelas trilhas dos paraísos fiscais, como já está fartamente documentado no livro PoisonedWells [Poços envenenados], de Nicholas Shaxson. Ou pelo mecanismo de extorsão do sistema das dívidas nacionais, pelo qual bancos ocidentais emprestam dinheiro a governantes militares, quase sempre postos no poder com a ajuda de forças ocidentais, como Mobutu, ex-presidente do Congo; esses governantes apropriam-se do dinheiro emprestado, quase sempre em contas privadas no próprio banco que emprestou ao país, cabendo ao país a missão de pagar juros exorbitantes que crescem exponencialmente.
Pesquisa recente de LeonceNdikumana e James K. Boyce descobriu que mais de 80 centavos de cada dólar emprestado deixaram o país devedor em “voos do capital”, no período de um ano, sem jamais terem sido investidos no país devedor; e que US$ 20 bilhões são drenados da África, por ano, como pagamento “do serviço da dívida” desses “empréstimos” essencialmente fraudulentos.
Outra via pela qual a África serve ao Ocidente, muito mais que o contrário, é o saque de minérios. Países como a República Democrática do Congo são saqueados por milícias armadas que roubam recursos naturais do país e os revendem a preços inferiores aos dos mercados a empresas ocidentais; muitas dessas milícias são controladas de países vizinhos, como Uganda, Ruanda e Burundi, os quais, por sua vez, são patrocinados pelo ocidente - como relatam rotineiramente os relatórios da ONU.

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http://www.odiario.info/?p=2813




Anónimo disse...

O saque imperialista das riquezas de África

Carlos Lopes Pereira

16.Mar.13 :: Colaboradores

A África, durante séculos vítima do colonialismo, é agora um dos terrenos em que o imperialismo se movimenta com maior agressividade.

Derrube de regimes, destruição de Estados, massacre das populações, recolonização, saque de recursos, exploração e miséria para os povos: eis o imperialismo no quadro da crise geral do capitalismo.


O imperialismo planeia dominar os países do Norte de África e desestabilizara região e todo o continente de forma a perpetuar a pilhagem das riquezas africanas.
A agressão da NATO à Líbia (produtor de petróleo), a intervenção da França no Mali (ouro e urânio), a construção de uma base militar dos EUA no Níger (urânio) e o «cerco» à Argélia (petróleo e gás) são peças dessa estratégia que visa, face à crise do capitalismo mundial, intensificar a exploração dos trabalhadores e o saque dos recursos naturais africanos.

O jornalista Dan Glazebrook, que escreve em jornais como The Guardian, The Independent ou The Morning Star, publicou um artigo no Al-AhramWeekly (http://weekly.ahram.org.eg), do Cairo, denunciando esta conspiração.

Começa ele por recordar que o Ocidente drena todos os anos de África milhares de milhões de dólares em pagamentos do «serviço da dívida», em lucros de investimentos e em empréstimos ligados a esquemas de corrupção de sectores das burguesias nacionais.
Outra via de dominação da África é o saque das suas riquezas minerais. É apontado o caso do Congo, onde, no Leste, bandos armados – controlados pelos vizinhos Uganda, Ruanda e Burundi, por sua vez apoiados por potências ocidentais – patrocinam o roubo de minérios e a sua venda a empresas estrangeiras.

A África financia ainda as classes dominantes ocidentais através dos baixos preços das matérias-primas e dos miseráveis salários pagos aos trabalhadores que as extraem ou cultivam.

Em suma, o capitalismo impõe ao continente africano o papel de fornecedor de matérias-primas e mão-de-obra baratas. E, para que esta situação se mantenha,procura assegurar que a África continue pobre e dividida, flagelada por golpes e guerras.

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http://www.odiario.info/?p=2802

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