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Cidade da Praia, 25 jul (Lusa) -- Os eleitores cabo-verdianos estão a entender cada vez menos o papel de um Presidente da República e começam a ficar confusos com os discursos dos quatro candidatos, que misturam as competências com as do Governo.
A conclusão é do sociólogo cabo-verdiano António Ludgero Correia que, em entrevista à Agência Lusa, sustentou que a lógica dos quatro candidatos às eleições presidenciais de 07 de agosto em Cabo Verde é fazer "eco" de promessas com as quais nada têm a ver e que são da competência do executivo.
"Os eleitores estão a entender muito menos do que há uns meses atrás por causa da postura dos candidatos. A páginas tantas, as candidaturas que se posicionavam sobretudo no papel que vão ter como moderador e árbitro do sistema, como garante da Constituição e guardiãs da execução da Constituição, apareceram com discursos desgarrados, prometendo resolver coisas que não estão no âmbito da sua esfera", disse.
"Isso cria confusão nas pessoas. Agora estão à espera que o Presidente da República faça mais estradas, mais escolas e que resolva o desemprego. Mas o que um Presidente pode fazer é transformar esses objetivos em altos desígnios nacionais e levar a que todos, cidadãos e poder, os realizem", sustentou.
Ludgero Correia frisou, por outro lado, que deveriam ser os próprios candidatos a passar essa ideia aos eleitores, "o que não está a ser feito", alegando que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e as organizações não governamentais poderiam ajudar a fazer esse trabalho de consciencialização.
"Talvez a CNE, as ONG, possam fazer esse trabalho e dizer que o Presidente da República vai lá para garantir a Constituição, para velar que as coisas bonitas que estão na Constituição sejam realizadas na prática", disse.
"Essa campanha devia ser feita pelos candidatos, mas eles não a vão fazer porque, nessa lógica de concorrência, quando um fala de coisas que não têm nada a ver, mas que começam a fazer eco nas pessoas, o outro tem a tendência de fazer a mesma coisa para não perder esse eco, porque esse eco, na lógica deles, dá votos", explicou.
Para Ludgero Correia, as eleições presidenciais "têm a importância que o cargo para o qual os candidatos que concorrem tem", pelo que um chefe de Estado, no sistema político cabo-verdiano é peça fundamental, garante do cumprimento da Constituição.
"Na sociedade, plasmada na Constituição, o Estado tem obrigação de providenciar habitação, emprego e qualidade de vida para todos. Ao Presidente cabe a tarefa de ir buscar esses aspetos meio desgarrados para que os altos desígnios nacionais sejam concretizados", afirmou.
"Não é como em alguns discursos que tenho ouvido, em que dizem que fazem e acontecem. Não podem fazer nada disso. O que eles devem e podem fazer é criar condições de realização para transformar a habitação, emprego e qualidade de vida em altos desígnios da Nação", concluiu.
À votação concorrem Aristides Lima, independente e ex-presidente do Parlamento, Jorge Carlos Fonseca, jurisconsulto apoiado pela oposição, Joaquim Jaime Monteiro, reformado, independente e sem qualquer apoio partidário, e Manuel Inocêncio Sousa, ex-ministro de Estado apoiado pelo partido no poder desde 2001.
*Foto em Lusa
1 comentário:
Boa tarde,
Antes de mais, queria lhe dar os parabéns pelo blog que é bastante informativo!
So para um esclarecimento, o Aristides Lima não é independente porque é apoiado pela UCID, PTS e uma boa facção do próprio PAICV, partido onde é militante e deputado.
Cumprimentos,
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