domingo, 31 de julho de 2011

EUROPA E PAÍSES EMERGENTES DEVIAM COMBATER AGÊNCIAS DE RATING DOS EUA




Público – Lusa

Entrevista com o presidente da agência chinesa Dagong

A Europa devia aliar forças com as agências de ‘rating’ das economias emergentes para combater a influência das três grandes que servem os interesses dos EUA e que deveriam ser punidas, considera o presidente da agência chinesa Dagong.

“As três principais agências de ‘rating’ – Moody´s, Fitch e Standard & Poor´s – têm monopolizado o mercado internacional, são muito influenciadas pelos políticos americanos e usadas como instrumento para proteger os interesses dos EUA e do seu Governo”, afirmou o presidente da agência chinesa Dagong, Guan Jianzhong, em entrevista à Agência Lusa.

E salientou que aquelas agências “usam factores ideológicos, subjectivos e a estratégia americana para medirem os riscos noutros países, o que não está certo”, sublinhando ainda que “cometeram erros muito graves, ajudando a criar esta crise”. “É um desastre financeiro sem precedentes na história e deveriam ter sido severamente punidas, mas ainda monopolizam o mercado”, observou.

O direito de emissão de moeda “é um critério absurdo” para se obter a nota AAA, considera Jianzhong, realçando que “isso significa que os EUA são o único país que pode beneficiar disso”. “Imprimir um montante excessivo de dólares é no fundo transferir a sua dívida, desvalorizando-se o dólar. É como pilhar propriedade de outros credores”, acrescentou.

Jianzhong diz também que deve ser feita uma reflexão sobre o “porquê de o mundo ainda usar a informação daquelas agências e de estas liderarem o sector”, sugerindo como justificação o facto de o “Governo americano as apoiar e as pessoas não terem ainda aprendido as lições desta crise”. E defende a criação de um “novo sistema de rating, descartando-se o actual e estabelecendo-se novas agências que baseiem as suas análises em critérios uniformes”.

Agência tenta obter acreditação na Europa

Ao realçar que, da “perspectiva da relação credor-devedor, o rating deverá ser fornecido pelos credores aos devedores”, o responsável observa que “a União Europeia é, de modo geral, uma economia devedora e se os devedores oferecem rating isso levanta questões sobre se poderá ser reconhecido pelos credores e pela comunidade internacional”.

Por isso, a “solução é introduzir (no mercado europeu) uma agência dos países emergentes ou a União Europeia unir-se às agências dessas economias, como a Dagong, para juntos pressionarem a criação de uma nova agência”, apontou.

O responsável avançou ainda à Lusa que a Dagong “está a tentar conseguir a acreditação das autoridades para entrar no mercado europeu”, tendo já reunido “com alguns líderes” da zona euro, que “reagiram positivamente” a esta possibilidade.

Jianzhong garante que os ratings da Dagong – que opera desde 1994 e foi a primeira agência não ocidental a divulgar, em Julho de 2010, um relatório global sobre risco da dívida soberana – “são totalmente independentes do Governo chinês”, salientando que os “investidores e o mercado podem ter a certeza disto”.

“Os nossos accionistas são duas empresas privadas, não têm nenhum negócio associado a este, o Governo não tem nem um cêntimo de acções e a nossa gestão não está envolvida em qualquer investimento em valores mobiliários e títulos, apenas na Dagong”, sediada em Pequim e que conta com mais de 500 funcionários, sustentou.

As restantes três principais agências de rating chinesas têm a Fitch (de base americana e capital francês), a Moody´s e Standard & Poor’s (americanas) como parceiras de negócio, mas Guan Jianzhong afasta a possibilidade de entrada de capital estrangeiro: “Se precisarmos de mais investidores, vamos tentar encontrá-los no mercado doméstico”, disse

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