Fernando Peixeiro (Texto) e João Relvas (Fotos), da Agência Lusa
Cidade da Praia, 31 jul (Lusa) -- Aristides Lima, candidato a Presidente de Cabo Verde, considera que o primeiro-ministro pode estar a descurar os interesses do Estado ao envolver-se demasiado na campanha eleitoral, mas garante uma "boa dupla" com o Governo caso seja eleito.
"É um facto curioso" o de o primeiro-ministro, e todo o governo, estarem a "envolver-se muito nas campanhas". "Um facto curioso para quem sabe que deve depois conviver com qualquer Presidente da República que seja escolhido pelo povo", diz o candidato.
Aristides Lima, antigo líder do PAICV (no poder) e presidente da Assembleia Nacional até março passado, candidatou-se a Presidente da República contra a vontade do partido, que escolheu apoiar Manuel Inocêncio Sousa. Desde então tem estado sob críticas do Governo liderado por José Maria Neves mas garante que se alguém fraturou o partido não foi a sua candidatura.
Em entrevista à Agência Lusa, num discurso de Presidente (as sondagens dão-lhe a vitória), é cauteloso nas respostas mas não evita algumas críticas, ainda que veladas.
"Penso que poderia haver uma outra opção, de acautelamento dos interesses do Estado de uma forma mais forte", diz, garantindo que se candidata a Presidente para servir o povo e não para "criar dificuldades ao Governo ou ao primeiro-ministro", que tem não só o direito como o dever de governar, porque foi escolhido há pouco tempo pelo povo (em fevereiro passado).
"O Governo deve ter todas as condições para, com naturalidade, exercer as suas funções e realizar o programa a que se comprometeu. É assim em democracia e eu irei sempre defender esta posição. Obviamente se houver uma situação de crise no país, em que uma maioria não possa governar, o Presidente da República terá de tomar medidas que se revelarem necessárias", avisa.
As medidas, aclara, podem passar por convocar novas eleições. "Mas isso é só quando houver necessidade, se houver necessidade", porque de outro modo irá sempre colaborar com o Governo.
Apesar de agora José Maria Neves apostar fortemente em Manuel Inocêncio Sousa, e de uma eventual vitória de Aristides Lima provocar estragos no PAICV e até a eventual demissão de Neves da presidência do partido, o candidato garante que não tem "nenhum problema em colaborar com o primeiro-ministro", com quem já trabalhou. "Acho até que faremos uma boa dupla", podemos "fazer coisas muito bonitas para o povo destas ilhas".
Foi para isso que se candidatou este homem de 55 anos, licenciado em jornalismo e em direito. Por amor ao país, pela experiência e pelos conhecimentos que tem, pela vontade de ajudar Cabo Verde, para influenciar o Governo no sentido de mais políticas sociais, na educação, saúde, habitação e emprego.
Depois é o candidato mais jovem, "provavelmente o que mais pode garantir estabilidade", com "forte sentido institucional", que não se irá envolver "nem em querelas entre partidos nem querelas dentro do partido" do qual foi líder.
É que, justifica, Inocêncio Sousa diz que quer dar uma vitória ao PAICV e o MpD (oposição) diz que a vitória de Jorge Carlos Fonseca é "crucial".
Do seu lado, garante, tem 44 por cento dos que votaram PAICV em fevereiro. "As vicissitudes de campanha" não interessam, nem as referências aos "intriguistas" que mataram Amílcar Cabral, feitas por José Maria Neves e que marcaram a primeira semana de campanha.
O atual Presidente (Pedro Pires) está acima de "qualquer suspeita" nessa matéria. E ele, Aristides Lima, quer é unir o país, sem "discursos incendiários".
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