sábado, 23 de julho de 2011

MANDIOCA PARA MUITOS, LAGOSTA PARA POUCOS




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O MPLA, ou seja, o regime angolano, continua a provocar deliberada e conscientemente a UNITA. Vale tudo. Aliás, no país existem apenas angolanos de primeira, os do MPLA, e os kwachas, uma subespécie que teima em resistir.

Agressões e assassinatos fazem parte de uma estratégia que visa dar ao governo razões para calar e amedrontar toda a sociedade angolana, mesmo a que pertence a outros partidos, acenando de novo com o espectro da guerra.

Nada melhor do que esse fantasma para o MPLA fazer, mesmo internamente, todas as purgas que ache convenientes e cortar pela raiz todas as veleidades similares às tunisinas ou egípcias. Isto porque os angolanos só são livres para dizer o que o regime quer. Fora disso, cuidado. Mesmo no seio do MPLA o cuidado impera. É que todos os anos existe o mês de Maio e o dia 27.

Ao atacar o seu principal adversário, o MPLA justifica perante o mundo que há razões internas para pôr na ordem todos os contestatários e manter todo o poder como está.

A UNITA volta a ser um muito útil bode expiatório. Um dia destes ainda vamos ver o regime reeditar a velha história de que o Galo Negro tem armas escondidas em paióis dispersos pelo país, ou até mesmo à divulgação da prisão de militantes com armas na mão.

A UNITA está assim, como era esperado, entre a espada e a parede. Se nada fizer continuará a ser enxovalhada, se reage vai ser acusada de estar a fomentar a rebelião ou até mesmo de estar a preparar uma nova guerra.

"É necessário que se faça um trabalho árduo em prol dos ideais do partido, tendo em conta o actual contexto da vida política do país", afirma regularmente Isaías Samakuva, exortando todos os dirigentes, militantes e simpatizantes da UNITA a trabalharem para mudar o curso dos resultados obtidos nas últimas eleições legislativas.

Legislativas nas quais a UNITA, recorde-se, teve apenas 572.523 votos a que correspondem a 10,36% e 16 deputados na Assembleia Nacional, contra os 70 da legislatura anterior resultante das eleições gerais de 1992.

Continuo a pensar que a UNITA está mais virada para o seu umbigo do que para a barriga vazia dos angolanos, mais (ou totalmente) disposta a escorraçar os que pensam de forma diferente, mais preocupada em reagir do que em agir.

E até agora, salvo raras excepções, a UNITA tem feito o papel que lhe foi dado pelo regime, procurando apesar de tudo dizer aos angolanos que é preferível ser livre de barriga vazia do que escravo com ela mais ou menos cheia.

Mas, está visto, os angolanos estão cada vez mais interessados em ter um saco de fuba do que a bandeira da UNITA hasteada. Além disso não esquecem que quem lhes pede esse esforço são os que, um pouco por todo o país, têm pelo menos três boas refeições por dia.

A UNITA está a gastar balas preciosas para matar a onça que já está morta, ficando-se sem munições para disparar contra o leão que está de atalaia. Será difícil entender isto? Pelos vistos é. E então quando é dito por angolanos brancos... a coisa torna-se mais negra.

Depois de perdida (embora com muita batota) a batalha das legislativas, continuo a pensar que a UNITA continua a basear a sua estratégia em critérios de parca consistência.

Não sou o único (longe disso) a pensar assim. Sou, eu sei, dos poucos que publicamente assumem esta tese. Tenho, no entanto, recebido testemunhos com chipala e nome, que comprovam que o Estado-Maior da UNITA continua a querer ganhar a “guerra” com “generais” que ao primeiro “tiro” vão para o outro lado da barricada ou, na melhor das hipóteses, levantam os braços e içam um pano branco.

A Direcção da UNITA não gosta, um pouco à semelhança do próprio MPLA, de quem pensa de maneira diferente. O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e dificilmente verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida.

De há muito que pergunto: Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? E lá vou acrescentando: Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido.

Continuo a lamentar que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro... mesmo sendo brancos.

Também é pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado

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