sexta-feira, 22 de julho de 2011

ONU SENTA-SE PARA SALVAR 11 MILHÕES DE AFRICANOS DA FOME




O PAÍS (Angola)

Uma agência humanitária islâmica começou a distribuir milho em Mogadíscio, a ONU convocou uma reunião de emergência. Mas o que chega à Somália está muito longe de ser suficiente para os mais de 11 milhões de pessoas afectadas pela pior seca dos últimos 60 anos.

Iisha nasceu debaixo de uma acácia, a 80 quilómetros do campo de refugiados de Dadaab, no Quénia. A sua mãe, Wehelley Osman Haji, contou à BBC que caminhou com cinco filhos durante 22 dias. Só tinha água para beber. Tentou que o bebé nascesse no campo, mas ele teve pressa.

Chamou-o assim porque Iisha quer dizer vida.

Daddab é o maior campo de refugiados do mundo. Foi criado para acolher 90 mil pessoas, mas agora vivem lá mais de 380 mil e todos os dias chegam, pelo menos, mais 1400. Só este mês já atravessaram a fronteira da Somália para o Quénia ou a Etiópia mais de 12 mil pessoas.

Fogem à fome trazida pela seca e muitas morrem pelo caminho.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou nesta terça-feira uma reunião de emergência com os directores das agências da ONU e apelou aos países para apoiarem a ajuda humanitária no Corno de África. “Mais de 11 milhões de pessoas têm necessidade de uma ajuda urgente para se manterem vivas estão a enfrentar a pior seca em décadas”, disse. Depois, sublinhou que as agências da ONU não receberam nem metade dos 1600 milhões de dólares necessários para os programas de ajuda humanitária na região.

A Organização de Cooperação Islâmica (OIC) foi a primeira a chegar a Mogadíscio, depois de o grupo Al Shabbab, milícia islamista com ligações à Al-Qaeda, ter anunciado o fim do bloqueio a estas organizações que tinha imposto em 2009. Levou milho, mas o que levou não chega para os milhares de pessoas com fome que invadem a capital, cerca de 1500 em cada dia que passa.

Procurar comida em Mogadíscio é uma das opções para quem já não tem nada para comer. A outra é atravessar o deserto para chegar à fronteira e tentar entrar nos campos de refugiados no Quénia ou na Etiópia. Qualquer que seja a escolha, pode custar a própria vida.

O enviado das Nações Unidas para a Somália, Mark Bowden, deslocouse a Mogadíscio para coordenar a disponibilização de ajuda humanitária por parte da ONU e não lhe faltam problemas para resolver, a começar pela falta de segurança numa cidade dividida. Metade é controlada pelos rebeldes, a outra metade pelo débil Governo. É aí que a OIC já conseguiu começar a distribuir alguns alimentos, mas um responsável da organização, Ahmed Mohamed Aden, disse à BBC que a ajuda é escassa e que “é preciso agir imediatamente para salvar o povo somali”.

Trabalhar na Somália é um risco para as agências humanitárias, mas para Ahmed Mohamed Aden isso não justifica a inacção. “Encorajo todos os outros grupos de ajuda a juntarem-se a nós”. Qualquer apoio já vai atrasado e Alison Rusinow, da Help Age, também questiona por que é que a resposta da comunidade internacional tem demorado tanto.

A dimensão desta tragédia humanitária ainda é difícil de definir, mas as estimativas apontam para que haja 2,8 milhões de pessoas na Somália a precisar de ajuda urgente. Num dos campos de refugiados morrem 60 bebés por dia, escreveu o Independent, as estimativas da ONU apontam para que uma em cada três crianças no sul e no centro da Somália estejam subnutrição. A seca está a afectar pelo menos 3,2 milhões de pessoas no Quénia, 2,6 milhões na Somália, 3,2 milhões na Etiópia e 117 mil no Djibuti.

Ao longo do ano passado a ONU apelou a uma ajuda de 500 milhões de dólares (cerca de 357 milhões de euros) para a Somália, Etiópia e Quénia, para dar resposta à falta de alimentos, mas no início deste mês ainda só tinha sido conseguido metade desse financiamento. Na semana passada o comité britânico para as situações de emergência, que junta várias organizações humanitárias, lançou um apelo e conseguiu cerca de 14 milhões de dólares e ontem os Estados Unidos prometeram uma ajuda de 5 milhões de dólares.

A ajuda chega devagar àquela que o alto comissário da ONU para os refugiados, António Guterres, já chamou “a maior tragédia humanitária do mundo”.

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