quinta-feira, 21 de julho de 2011

PÁTRIAS DA LUSOFONIA SEM PORTUGUÊS NA COMUNICAÇÃO EM TIMOR-LESTE




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Andar afastado das andanças da blogosfera não acontece por falta de vontade mas sim por falta de tempo. Lamento e apresento desculpas à meia-dúzia de amigos que aqui têm vindo e talvez notem a ausência.

Não será desta vez que sustentarei o meu apetite em abordar a política timorense dos últimos tempos, nem falarei dos “banhos” nas eleições em São Tomé e Príncipe – onde se compram votos e as consciências na cara da legalidade e dos políticos asquerosos que não legislam aquele preceito incorreto, imoral, antidemocrático e revelador de que o país vive em outro século, quase no esclavagismo colonialista. São Tomé saiu da trampa do colonialismo português para ser colonizado por políticos sem escrúpulos que pegam em “tradições” que lhes dêem vantagens e fazem daquelas “legalidade”. Comprar e vender votos, os ditos “banhos”, é inadmissível!

Também agora aqui não abordarei como é merecido Angola. Angola de umas quantas famílias e empresas. “Tá-se melhor em Angola” – dizem-me amigos. Pois, talvez. Mas o que se sabe é que as “negociatas” continuam, a repressão continua à socapa e sem ser à socapa. Os desonestos, abrigados no MPLA e no governo, mantém as suas posições vantajosas… Quem acredita que foi agora que pararam de roubar? Estão a oferecer migalhas ao povinho que afinal é o resto daquilo que lhe pertence na totalidade. Isso sim. “Tá-se melhor”?

Moçambique é aquilo que se sabe e o que não se sabe. Quem se mantém à distância até pode acreditar que tudo vai a caminho de muitas melhorias para as populações. Ilusão. A corrupção impera em Moçambique. As carências do povo são enormes. Nem PR, nem governantes, conseguem esconder ou colmatar as enormes injustiças sociais e de enorme atraso que semearam e agora têm estado a colher. A colher o povo mais fragilizado, quem havia de ser?

Guiné-Bissau… À espera de nova borrasca político-militar. Para quê pôr mais na escrita? A plataforma da droga continua por lá. A fome, a miséria, a ingovernabilidade, o banditismo comum e político, a excisão nas meninas guineenses… Tudo isso continua. Lá iremos.

Cabo Verde já teve melhores dias e melhores perspetivas. Mesmo assim é o pequeno país lusófono que vai melhorzinho. Em breve irá a eleições. Veremos.

O Brasil de Dilma podia estar bem melhor mas por vezes o ótimo é inimigo do bom. Aguardemos que as evoluções e involuções nos mostrem com clareza quanto vale, ou não, a presidente Dilma. A criminalidade cresce, a corrupção também. Para muitos esses “fenómenos” são como o samba, são coisa brasileira. Mas não deve ser assim. O samba não leva a fome e a tristeza a ninguém, antes pelo contrário: é alegria, é povão a vibrar. O crime e a corrupção fazem o contrário do samba, são sinónimo de tristeza e de muitas carências para os mais fragilizados. Está nas mãos de Dilma corrigir o que é da conveniência dos que ela disse defender. Esperemos sentados pra não cansar. E acreditando que melhor virá. Não tem mal possuirmos uma certa dose de ingenuidade.

Oh, meus amigos! De Portugal nem é bom falar! Mas Portugal ainda existe? E a União Europeia vai existir até quando? O euro está a finar-se? O projeto europeu foi lançado na fossa pela direita europeia em conluio? Ângela Merkel está a conseguir os seus intentos de aniquilar a UE nos moldes em que tem existido? Parece que sim. Até Helmut Kholl, o alemão que fez de Merkel sua Delfina e que contribuiu para que ela agora estivesse a desenvolver as políticas fascistoides e egoístas que caracterizam o grande capital, diz que Merkel personifica uma “coisa” impensável e que o desilude. Que ela está a destruir o projeto europeu todos sabemos. Que se pode esperar de uma gaja daquelas?

Não quero nada acabar esta voltinha que consegui dar – melhor ou pior – pelos países da CPLP sem deixar um lamento sobre Timor-Leste. Notícias em português sobre Timor-Leste e vindas de Timor-Leste não há? Não existe uma única publicação, diária ou semanal, vinda de Timor-Leste e que nos chegue a Portugal e ao mundo lusófono? Não! E porquê? Porque não! Porque parece que todos se estão borrando para o português! Porque deste modo, sem publicação em português, aqueles que não entendem tétum ficam a “apanhar bonés” sobre o que se passa lá no burgo do soba Xanana e lêem o que é publicado no SAPO TL em português, ou o que a Lusa acha por bem divulgar, sem grandes pormenores e quase sempre até muito afastada da realidade timorense. Ele há carências alimentares e de muitas outras coisas de que só muito raramente se fazem eco em português. Ele há tiroteios de marginais ou de alegados marginais e nada é dito em português que nos chegue ao olhar e soletração, ele há acusações de corrupção, de roubos, de “desvios”, de clientelismos económicos, políticos e na justiça… Mas pouco ou mesmo nada passa para fora de Timor-Leste em português. Que raio, continuam todos com medo? Esse é o mesmo medo de há anos? Se é, que trampa de liberdade e de democracia há naquele país? Prevalece a “verdade” oficial em detrimento da verdade de facto sem que haja resistência a isso. É impressionante.

Em qualquer outro país lusófono podemos recorrer à internet e encontramos online publicações-notícias em português. Até São Tomé e Príncipe e Macau! Mas em Timor-Leste não! Há blogues… Na maioria em tétum. Mas blogues não são um jornal online (ao menos isso). Sai assim tão dispendioso? Não! Voluntários da lusofonia em Timor-Leste, que comuniquem em português, que noticiem o quotidiano timorense em português é que parece que não há. Ou haverá… se lhes pagarem uma pipa de massa! Mas então teremos algo do género da Lusa: a verdade oficial a que os seus profissionais ali destacados se têm de acomodar, quietinhos, que é para não levarem no “focinho” e passarem as estopinhas do Algarve.

Mas, falando de blogues sobre Timor-Leste, falando no online existente, podemos chegar ao Timor Hau Nian Doben e reparar que também ali prevalece o tétum. E lá ficam os desconhecedores do tétum, mas lusófonos, a maioria, a “apanhar bonés”. E acreditem que ali podemos ler algumas das tristes realidades sobre a governança e a miséria implantada pelos do soba Xanana com o assentimento de Ramos Horta e de muitos outros que cumprem o dito “é fartar vilanagem”. Falta saber se algum dia eles, os vilões, se fartam e deixam alguma coisinha para o povo timorense. Basta perguntar: afinal quem poderia traduzir do tétum para português as notícias das várias publicações timorenses? E, melhor, ainda, quem poderia viajar por Timor-Leste (coisa pequena) e mostrar-nos a realidade expressa em português?

Ah, nós somos defensores do português em Timor! Dizem uns e outros, timorenses. Balelas. Publicação assídua em português, online, com rigor e profissionalismo, com independência, sendo alternativa à “verdade” oficial, não vimos. Até nos partidos políticos, nas páginas online que têm, o que vimos é expresso em tétum e… (imaginem!) em inglês. A própria FRETILIN (dos outros partidos já nem se fala) comete essa prática – apesar de sabermos que é séria apologista do português como língua oficial em Timor-Leste. As razões porque assim acontece – comunicar excepto em português - não dão para entender. Laxismo? Falta de domínio do idioma? O quê? Como diria o outro: “Oh pás, desculpem lá!”

Muito mais haveria a acrescentar sobre esta afinal longa prosa (uf!) mas o melhor é dar aqui o nó e deixar o “chouriço” cheio como está. Terminando, sem mais delongas, apenas com o acrescento de que esta (como outras) não é prosa de ataques pessoais mas sim contra realidades que sabemos erradas e que muitos gostariam de ver corrigidas antes de embarcarem para o alto-forno.

Pergunta final: Timor-Leste quer realmente que o idioma português faça parte do seu quotidiano?

*Texto revisto por Ana Loro Metan – Também publicado em Página Lusófona, site do autor

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