BAPTISTA BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
Por duas vezes, o Expresso disse que o Governo instara o SIS a fazer o varejo dos negócios de Bernardo Bairrão, tanto em Angola como no Brasil. Passos Coelho deseja que os membros do Executivo sejam absolutamente imaculados.
O dr. Bernardo Bairrão, que abandonou a administração da TVI, para ser secretário de Estado de uma pasta, cuja designação esqueci, manifestou pasmo e indignação e exigiu rápida auditoria à sua vida, tanto pessoal como profissional. E adicionou à repulsa a exigência segundo a qual o SIS deverá tornar pública a sua ficha. Veio a terreiro o dr. Miguel Macedo, aquele senhor de alvos cabelos, agora ministro, desmentir a suspeita de qualquer infâmia e revelar que o dr. Bairrão não assumira o cargo, por motivos pessoais e políticos.
O imbróglio não ficou fechado. O SIS negou ter devassado a existência civil do dr. Bairrão, e o dr. Bairrão insistiu em saber a verdade do caso, porque estava em causa o seu bom nome. Ricardo Costa, director da gazeta semanal em referência, fez, na SIC, formal e grave, veemente e claro, a solene declaração de que imprimira a verdade, e que a verdade é só uma.
Não se sabe quem mente, quem omite ou quem rasura. Os "próximos desenvolvimentos" poderão, ao acaso das circunstâncias, esclarecer o assunto. Permanece, no entanto, a dúvida metódica: quais os motivos certos que levaram o dr. Passos Coelho a não aceitar o dr. Bairrão como membro do Executivo? Os tais motivos pessoais e políticos não aliviam a consciência de ninguém, nem abafam a curiosidade generalizada.
A confusão, a suspeita e a desconfiança navegam em águas palustres. Anteontem, Marques Júnior, capitão de Abril, antigo deputado do PS, fiscal das "secretas", não se serviu de metáforas nem de sinédoques para nos dizer que as coisas estão claras e que dá o assunto por encerrado. Em que ficamos? Possuirá o semanário provas evidentes de factos que se dissimulam, assegurando, neste caso, que a teia de mentiras dispõe de tantas ramificações que atinge a própria natureza do Estado?
Ricardo Costa irá às televisões, escreverá no jornal, exporá documentos definitivos e assustadores comprovativos do conluio tenebroso e das obscuras conivências, agitando a bandeira da verdade e escorraçando a conjura?
Seja, ou não, escorreito como a maçã riscadinha, e puro como a Virgem do Monte, o Executivo de Pedro Passos Coelho não consegue arredar a dúvida nem fazer com que os espíritos espaireçam. Um pesado ponto de interrogação pesa sobre o Governo, uma dolorosa incerteza e uma hesitação inquietante ensombram a nobreza da palavra de honra de que o primeiro-ministro diz ser seu apanágio.
O Expresso agiu segundo factos indestrutíveis, como Ricardo Costa afiançou, ou caiu num ardil e estatelou-se numa armadilha? Algo de sombrio aconteceu. E o que aconteceu será alguma vez conhecido?
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