terça-feira, 12 de julho de 2011

Portugal - Caldas da Rainha: MÉDICOS CONTARAM EXPERIÊNCIAS DENTRO E FORA DO PAÍS





PEDRO ANTUNES -  OESTE

As fotografias tiradas no Nepal pelo higienista oral Mário Rui Araújo, que estiveram expostas no CCC das Caldas durante Junho, foram o mote para uma conversa entre três profissionais de saúde no passado dia 23 de Junho.

O fotógrafo amador convidou Raul Melo, psicólogo clínico do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), e Rui Calado, coordenador do programa de Promoção da Saúde Oral da Direcção Geral de Saúde (DGS), para juntos partilharem as suas experiências. A conversa foi moderada pela fotógrafa Margarida Araújo.

Mário Rui Araújo intitulou a sua primeira exposição fotográfica de “Imagens Paralelas” e quis fazer deste encontro um momento de conversas paralelas.

Há três anos começou a trabalhar num projecto de saúde oral no Nepal, um local “onde as imagens nos surgem ao ritmo dos segundos”.

O objectivo do projecto em que participou foi principalmente apostar na formação de técnicos que ensinassem a prevenção, para que se possam

Mário Rui Araújo, que escreve sobre o tema da saúde oral na Gazeta das Caldas, contou que os próprios nepaleses se preocupam em lavar os dentes porque não têm dinheiro para os poder tratar.

“O Nepal é um país pobre e ao mesmo tempo muito rico, com muitas culturas e que tem muito mais do que nós imaginamos”, revelou.

Naquele país aprendeu que há muitos caminhos na saúde pública. “Não há livros de anatomia, por serem caros, e por isso nas escolas os alunos têm que os desenhar em pormenor, o que acaba por ser um processo de aprendizagem”, contou.

Experiências com que Portugal poderia aprender, quando se fala tanto em crise. Quem o defende é o médico Rui Calado, que depois de vários anos em Macau e Timor-Leste voltou para Portugal e ficou desanimado porque nenhuma entidade se preocupou em saber que experiências trouxe.

“Isto é o contrário do que acontece na Ásia, onde querem sempre saber como se faz no Ocidente para aproveitarem o que consideram melhor”, afirmou.

Rui Calado destacou a qualidade do Serviço Nacional de Saúde de Macau, cujo modelo foi criado portugueses, e defende que este deveria ser aproveitado em Portugal. “Nós não temos dinheiro e gastamos muito, eles têm muito e gastam com critério”, comentou.

Em Timor deparou-se com um lado negativo, por causa da corrupção “e da forma pouco séria como algumas organizações prestam apoio a este país”.

Portugueses melhor aproveitados no estrangeiro

Rui Calado comentou que uma das razões para os portugueses saírem de Portugal para fazerem projectos como aquele em que participou Mário Rui Araújo é “termos um gene qualquer que nos impele a sair para os sítios mais estranhos do mundo”.

Brincando com o facto de “se encontrar sempre um português em qualquer lado do mundo”, sublinhou que aquilo que os portugueses fizeram durante os Descobrimentos foi muito mais importante do que que fazem os astronautas “porque a probabilidade destes viajantes voltarem era muito mais remota”.

Na sua opinião, é preciso conhecer locais como Timor ou Goa “para perceber a nossa história e o nosso povo”.

Por outro lado, acha que “os portugueses também vão para outros países porque acreditam em si próprios” e porque lá fora são “mais bem aproveitados”.

Para Raul Melo saem do país também “para procurar universos menos cinzentos”.

Na sua intervenção Raul Melo abordou a sua experiência em projectos ligados à prevenção da toxicodependência e também o Plano Integrado de Prevenção de Abusos Sexuais na Casa Pia, do qual foi coordenador.

Depois de terminar o curso de psicologia em 1986, Raul Melo começou a trabalhar no Centro das Taipas quando se iniciaram as consultas na área da toxicodependência no sector da Saúde.

Cinco anos depois decidiu ir para a área da prevenção, onde aplicou vários projectos pioneiros, procurando sempre envolver a comunidade. Há três anos colaborou com a Casa Pia, “uma instituição marcada pela vergonha”, com a realização de um projecto sobre a sexualidade no qual foram envolvidos todas as crianças daquela instituição. “Foi uma das aventuras mais ricas da minha vida”, revelou, explicando que o plano está neste momento a funcionar autonomamente.

Sem comentários:

Mais lidas da semana