quarta-feira, 27 de julho de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 23




MARTINHO JÚNIOR

NOVAS ELITES NADA PATRIÓTICAS

Luanda é, pelo segundo ano consecutivo, considerada a cidade mais cara do Mundo!

Poucos poderão avaliar o que isso significa para milhões de seres que habitam a capital angolana, tal como para o resto do país e é por isso que os negócios “informais” não deixam de existir com tanta profusão, disseminando-se principalmente nos substratos de menores recursos das comunidades urbanas, periféricas e rurais.

Os negócios “informais” resultam de respostas de sobrevivência duma parte importante da população face às vicissitudes próprias duma situação que tem seu clímax numa cidade que ostenta um título tão negativo; são também uma forma de resistência face ao “diktat” de iniciativas resultantes da abertura das portas a muitos interesses que chegam do exterior, dispostos muitos deles ao neo colonialismo.

As novas elites angolanas mantêm-se insensíveis a esses fenómenos, como se os aspectos negativos dos impactos não lhes dissessem respeito: a elas só dizem respeito os lucros próprios do mercado que elas semearam e nada obsta a tornarem-se parceiras dos que vêm para Angola dispostos (quantos deles) à rapina.

As novas elites angolanas tendem a capitalizar para si o grosso dos lucros, socializando para todos os mais o grosso do subdesenvolvimento, da dependência e da pobreza!

Os problemas de fundo que existem por exemplo no sistema (?), de saúde, em que o mercenarismo é por demais evidente e o “apartheid” entre ricos e pobres demarca por vezes a fronteira entre a vida e a morte, são um exemplo evidente duma sociedade que, por causa do “mercado” e dos lucros, muitos querem fazer crescer enferma.

Um das razões para que tal ocorra é o facto das medidas relativas às estratégias dos transportes beneficiarem os interesses de pelo menos uma parte dessas novas elites angolanas, em prejuízo de todos.

Já tive a oportunidade de escrever sobre a maneira como o porto de Luanda foi dividido pelos interesses e como por tabela as linhas de formação dos comboios no porto foram arrancadas ao solo, na expectativa das formações ferroviárias não mais lá voltarem.

Essa estratégia foi posta em prática para que o transporte de mercadorias fosse feito exclusivamente pelos camiões de empresas que são pertença duma parte das novas elites: se houvessem caminhos de ferro a funcionar, quanto não perderiam essas empresas de camionagem?!

Quando criaram o porto seco de Viana ao quilómetro 25, havia a expectativa de, por que os caminhos de ferro passam mesmo junto à vedação, se construir um terminal ferroviário que recebesse as mercadorias provenientes do porto transportadas pelos comboios, mas tal não aconteceu.

Há estações ferroviárias recentemente concluídas que estão fechadas, sem trânsito sequer de passageiros, como a do Capalanga.

Gastou-se dinheiro nelas, mas foi-se incapaz de construir um terminal ferroviário no enorme quintalão do porto seco de Viana, que no traçado está imediatamente a seguir à estação fantasma do Capalanga e isso é sintomático.

Os caminhos de ferro são em todo o mundo o transporte mais barato, mas em Luanda ele, precisamente por causa dessa razão, foi deliberadamente impedido de assumir a concorrência em relação à camionagem, particularmente no que diz respeito à saída de mercadorias descarregadas pelos navios de longo curso no porto de Luanda, quando a importação até de alimentos é ainda tão importante para Angola!

De certo modo, também no porto do Lobito se está a registar a tendência para o mesmo fenómeno: o CFB não tem circulação dentro e a partir da área portuária!

Esta situação contribui como é lógico para o agravamento dos preços: desperdiçam-se os caminhos de ferro do Estado, mais baratos, a fim de fazer movimentar os camiões dos privados, muito mais caros, como se uma estranha “parceria público privada” tivesse sido assimilada pelo poder de decisão…

O surrealismo deliberado da situação chegou a um ponto culminante: para os Caminhos de Ferro de Luanda, foi mais fácil a chegada dos comboios a Malange, apesar dos combates que ocorreram em muitas localidades ao longo da linha e a destruição de vários comboios durante a guerra, do que pôr os comboios em actividade no Porto de Luanda, onde nunca houve guerra!

As novas elites angolanas dão a sua nefasta contribuição para que Luanda continue a ser a cidade mais cara do Mundo, em prejuízo da esmagadora maioria de seus habitantes, bem como de Angola e com isso demonstram ser mercenárias e nada patrióticas!

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