quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Sou um pragmático", diz ministro português dos Negócios Estrangeiros em Brasília




ALFREDO PRADO – PORTUGAL DIGITAL

“Sou muito focado em diplomacia económica. O essencial é construir uma excelente diplomacia económica e melhorar a percepção de Portugal no exterior”, disse.

Brasília – O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, enfatizou nesta terça-feira (26), em Brasília, a posição prioritária do Brasil na política externa de Portugal. Uma “prioridade absoluta que não depende dos governos, nem dos partidos”, foi assim que Portas definiu as relações luso-brasileiras durante encontro com jornalistas.

Diplomacia económica, pragmatismo e reafirmação do cumprimento dos termos do acordo decorrente do empréstimo internacional de 82 mil milhões de euros (82 bilhões) concedido recenetemente a Portugal estiveram no centro da abordagem feita pelo ministro à conjuntura portuguesa.

O chefe da diplomacia lusa e aliado do governo do primeiro-ministro Passos Coelho, do PSD, traçou as linhas fundamentais da crise económica e financeira que atinge o país, “obrigado a pedir ajuda externa por excesso de endividamento, excesso de despesa face à capacidade produtiva”.

Durante o almoço oferecido pelo embaixador de Portugal em Brasília, João Salgueiro, o ministro enfatizou que Portugal “vai cumprir o acordo, vai honrar a palavra” dada aos credores do empréstimo concedido pela “troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

Segundo Portas, “em Portugal há um consenso político muito largo” em torno do empréstimo e das políticas de austeridade a que ele obriga. “Oitenta e cinco por cento dos deputados apoiam o acordo”, disse.

Para o ministro e líder do partido CDS/PP (direita), “tem sempre um lado vexatório ter que pedir ajuda externa”, mas, “as crises são passageiras e as nações são permanentes”.

Paulo Portas apontou algumas das reformas que o governo pretende levar por diante e disse estar confiante na criação de condições para Portugal retornar a um ciclo de “crescimento e desenvolvimento”.

A tónica do seu ministério será colocada na diplomacia económica. Definindo-se como um “pragmático”, o ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu como objectivos imediatos a construção de uma “âncora muito mais forte nas exportações, a promoção dos produtos e marcas portuguesas e a conquista de mercados”.

"Melhorar a percepção de Portugal no exterior"

“Sou muito focado em diplomacia económica. O essencial é construir uma excelente diplomacia económica e melhorar a percepção de Portugal no exterior”, disse. Mas, como fazê-lo, tendo em conta a crise, os cortes orçamentais, as dificuldades da Aicep (Agência para a internacionalização e comércio externo de Portugal)?, questionou o Portugal Digital. A resposta foi breve: “Optimizar e maximizar. Articular a rede comercial com a diplomática”.

Outro vector da política que pretende imprimir no MNE é o que chama de “diplomacia da língua”. A este propósito, Portas repete, em Brasília, o discurso feito em Luanda e Maputo, que visitou nos últimos dias. Refere o universo de falantes em português, o número de países e as numerosas comunidades, mas, “acima de tudo, realça, o português é falado em quatro continentes”, o que, na opinião do chefe da diplomacia portuguesa, é como um passaporte para a perenidade da língua “numa globalização em que nem todas as línguas vão sobreviver”.

A promoção internacional da língua e a divulgação da imagem de Portugal são algumas das apostas enunciadas por Paulo Portas. Para 2012, o “Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal “, as expectativas são altas. O ministro disse desejar que os eventos que vierem a ser realizados “tenham nível, sejam exigentes”. Mas, questionado sobre as dificuldades financeiras em que se encontra o Instituto Camões - organismo responsável pela promoção e divulgação da língua e da cultura portuguesa no exterior -, Paulo Portas foi, neste caso, parco nas palavras de resposta: “melhorar com menos”.

Nesta quarta-feira, 27, último dia da visita oficial ao Brasil, Paulo Portas vai reunir-se com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, com quem passará em revista vários aspectos das relações luso-brasileiras.

A importância para os exportadores portugueses da flexibilização e agilização das barreiras em alguns sectores, nomeadamente nos produtos alimentares, poderá ser um dos assuntos abordados durante a reunião no Itamaraty. Mas, vários outros temas e queixas poderão ser sugeridos a Portas durante o jantar que o embaixador João Salgueiro oferece esta noite e para o qual foram convidados alguns executivos e empresários de grandes grupos portugueses e brasileiros.


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