segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Angola: «Onda de desmaios é um mistério que ninguém consegue explicar»




DESTAK - LUSA

A onda de desmaios que atinge sobretudo estudantes em Angola é “um mistério que ninguém consegue explicar” e está a ameaçar o ano letivo, disse à Lusa um professor angolano.

Os desmaios acontecem desde abril, “um pouco por todo o país, sobretudo nas escolas, e há já relatos de que também tem acontecido nas faculdades”, refere o docente, que pediu o anonimato, em declarações à Lusa.

Este é um caso “nacional”, que as autoridades “ainda não conseguiram explicar” e que “preocupa toda a sociedade”.

O problema está a “afetar o ano letivo”, havendo receios de que o mesmo seja “cancelado”.

“Há pais que não mandam os filhos para as escolas com receio do que possa acontecer. As famílias e as crianças estão a sofrer”, descreve o professor.

O docente esclarece que o problema afeta sobretudo crianças, “na sua maioria adolescentes”, essencialmente do sexo feminino, mas que ninguém consegue explicar as causas do problema.

“É um mistério que não estamos a conseguir desvendar. Ninguém sabe o que está a acontecer. O Governo tomou algumas medidas, proibindo que os estudantes entrem nas escolas com batons ou ‘sprays’, mas os desmaios continuam a acontecer”, lamenta.

Não há referência a “casos de morte”, garante o professor, explicando que depois de desmaiadas, “as pessoas são assistidas no posto médico”.

O professor, que assistiu a um episódio de desmaios na escola onde dá aulas, garante que chegou a sentir alguns sintomas, mas não chegou a desfalecer.

“As pessoas começam a sentir irritação na garganta – eu também senti -, a boca começa a ficar amarga, começam a sentir uma espécie de enjoo, a perder o fôlego, a sentir uma escuridão na vista, desmaiam e caem”, descreve.

De acordo com o professor, “ninguém explicou publicamente qual o produto que está a provocar os desmaios” e o Presidente da República já “criou uma comissão para tratar do assunto”.

No início de agosto, um balanço das autoridades angolanas divulgado pela imprensa nacional revelava que, no período de uma semana, mais de 800 pessoas tinham desmaiado por alegada inalação de substâncias tóxicas nas províncias de Luanda, Cabinda, Cunene, Huíla e Namibe.

Segundo a Agência de Notícias de Angola (Angop), as autoridades informaram que os desmaios atingem sobretudo estudantes com idades entre os 14 e 17 anos.

A 29 de julho, a Angop revelava que o Serviço Nacional de Proteção Civil tinha registado, em 24 horas, 560 casos de desmaios de alunos nas províncias de Luanda e Namíbe.

Também no início de agosto, o segundo comandante da Polícia Nacional de Angola, comissário-chefe Paulo de Almeida, revelava, em conferência de imprensa, que as amostras enviadas para laboratórios de Portugal com vista a detetar as causas de centenas de desmaios ocorridos, desde abril, em escolas de Angola, não conseguiram ainda esclarecer qual o tipo de produto tóxico.

As autoridades detiveram algumas pessoas devido ao uso de gás lacrimogéneo, denominado aerossol anti-agressivo/70, em forma de bisnaga, em duas escolas de Luanda, mas os desmaios continuaram.

*Foto em Lusa

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