João Manuel Rocha - Público
Eleitores podem ter de ser chamados a tira-teimas da segunda volta
Os cabo-verdianos estão a escolher o seu novo Presidente da República, mas é provável a necessidade de uma segunda volta. A eleição deixará marcas no partido governamental, o PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde), que, apesar da maioria absoluta de Fevereiro, não está unido. A vitória não é um dado adquirido para o seu candidato oficial, Manuel Inocêncio de Sousa.
A sucessão de Pedro Pires, chefe de Estado na última década, é disputada por Inocêncio Sousa e Aristides Lima, ambos do partido da independência, e por Jorge Carlos Fonseca, que tem o apoio do MpD (Movimento para a Democracia), maior força da oposição. Joaquim Jaime Monteiro, também da família do PAICV, é o quarto candidato, sem possibilidades de vencer.
Pedro Seabra, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança, considera que a candidatura de Jorge Carlos Fonseca “tem de ser tomada em conta”, também devido às divisões no seio do PAICV. Mas, em seu entender, a eleição deve decidir-se entre Aristides Lima e Inocêncio de Sousa, até porque Carlos Veiga, líder do MpD, que seria o melhor candidato da oposição, não concorre.
“Todos os sinais indicam que a decisão será entre os dois. Inocêncio de Sousa tem contra si o facto de não ser uma figura muito conhecida, mas tem consigo a máquina do PAICV e o primeiro-ministro, José Maria Neves. Lima não tendo a máquina por trás tem um maior reconhecimento”, disse ao PÚBLICO o investigador, que vê na existência de quatro candidatos uma “prova da saúde da democracia”.
José Vicente Lopes, jornalista e escritor cabo-verdiano, acredita que haverá uma segunda volta, e que Aristides Lima, deputado e presidente da Assembleia Nacional nos últimos dez anos, é “o único que [nela] parece ter presença garantida”, apesar do apoio oficial do partido governamental a Inocêncio, o favorito do líder.
Duas correntes
Pedro Seabra, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança, considera que a candidatura de Jorge Carlos Fonseca “tem de ser tomada em conta”, também devido às divisões no seio do PAICV. Mas, em seu entender, a eleição deve decidir-se entre Aristides Lima e Inocêncio de Sousa, até porque Carlos Veiga, líder do MpD, que seria o melhor candidato da oposição, não concorre.
“Todos os sinais indicam que a decisão será entre os dois. Inocêncio de Sousa tem contra si o facto de não ser uma figura muito conhecida, mas tem consigo a máquina do PAICV e o primeiro-ministro, José Maria Neves. Lima não tendo a máquina por trás tem um maior reconhecimento”, disse ao PÚBLICO o investigador, que vê na existência de quatro candidatos uma “prova da saúde da democracia”.
José Vicente Lopes, jornalista e escritor cabo-verdiano, acredita que haverá uma segunda volta, e que Aristides Lima, deputado e presidente da Assembleia Nacional nos últimos dez anos, é “o único que [nela] parece ter presença garantida”, apesar do apoio oficial do partido governamental a Inocêncio, o favorito do líder.
Duas correntes
A divisão no seio do antigo partido único é, nota José Vicente Lopes, a expressão de duas correntes no seu interior: a ala renovadora, encabeçada por José Maria Neves, e a “velha guarda” de Pedro Pires, que prefere Lima, tal antigos rivais do actual chefe do Governo. Jorge Carlos Fonseca, que fez uma campanha centrada nos riscos de concentração do poder nas mãos do PAICV, explorou essa divisão e foi claro na afirmação de que a disputa entre Inocêncio e Lima se tornou num “confronto” entre Neves e Pires.
Sinal claro das divergências no PAICV é o apoio público a Lima declarado por Felisberto Vieira, ministro do Desenvolvimento Social e Família, ou por Júlio Correia, primeiro vice-presidente do Parlamento. O tom, aliás, “tornou-se mais agressivo”, com o assassino de Amílcar Cabral a ser trazido à discussão, no que alguns consideraram uma “tentativa de baixar o nível da campanha”, diz Pedro Seabra.
Lima, que se apresenta como o “candidato da cidadania”, orientou o seu percurso dos últimos anos tendo em mente a chefia do Estado e o dossier presidencial que foi mal gerido pelo PAICG, considera José Vicente Lopes. “As ambições pessoais dos candidatos acabaram por se sobrepor à estratégia do partido. Se o PAICV estivesse unido em torno de um candidato estas eleições seriam favas contadas”, afirma.
Preterida pela direcção partidária, a candidatura do ex-presidente do Parlamento “não estava nas contas” de José Maria Neves, cuja “voz de comando deixou de ser ouvida”, afirma o jornalista. Para ele, do ponto de vista político, a declaração feita em Fevereiro pelo primeiro-ministro ao PÚBLICO, de que este é o seu último mandato na chefia do Governo, foi um erro. “A pior coisa que pode haver em política é um líder a prazo”, afirma.
Independentemente da escolha dos cabo-verdianos, o nome do Presidente não interfere à partida com a estabilidade governativa – o PAICV reforçou em Fevereiro a sua maioria absoluta e tem 38 deputados contra 32 do MpD e dois da UCID (União Cabo-Verdiana Independente e Democrática).
Em caso de eleição, Jorge Carlos Fonseca promete ser “atento, exigente e colaborante” com os outros órgãos de soberania. De Inocêncio Sousa espera-se total sintonia com o Governo. Já uma eventual preferência dos eleitores por Aristides Lima levaria, segundo José Vicente Lopes, a um “quadro de paz podre, mas não ao ponto de criar especiais dificuldades a José Maria Neves”. No seio do PAICV, o que se pode esperar após as eleições é, segundo Pedro Seabra, “uma clarificação interna de posições”.
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