domingo, 7 de agosto de 2011

Cabo Verde: APESAR DA CRISE EMIGRANTES EM PORTUGAL RECUSAM REGRESSAR




SIM - LUSA

Lisboa, 07 ago (Lusa) -- Judite e Maria, duas das eleitoras que hoje votaram para as presidenciais de Cabo Verde, vivem em Portugal há mais de 25 anos e, apesar da atual crise económica, não pensam regressar.

Apesar de tencionar continuar em Portugal, Judite arrependeu-se de ter emigrado; Maria não.

"As minhas irmãs nunca vieram para Portugal e não morreram à fome em Cabo Verde", desabafa Judite Teixeira, hoje com 61 anos, à porta da Oficina de Artes da Junta de Freguesia da Buraca, onde estão instaladas as urnas para as eleições presidenciais.

Judite era uma jovem de 25 anos quando abandonou Cabo Verde na esperança de encontrar um bom emprego e ajudar a família. Não aguentava mais a dureza diária de carregar na cabeça sacos de cimento e de pedras "para construir pequenos diques por muito pouco dinheiro", recorda.

Já em Portugal, depois de um emprego passageiro a "fazer horas numa patroa em Linda-a-Velha", Judite viu-se obrigada a voltar a usar a cabeça: "Fui trabalhar para a Praça da Ribeira a carregar peixe. Depois andei a recolher papel pela Buraca, Alfragide e Damaia que transportava na cabeça com a ajuda de quem por ali andava".

Naquela altura, no início dos anos 1980, "recebia três contos por semana de um português que ia lá recolher o papel a casa", lembra. Nunca esteve parada, teve sempre emprego, mas já se arrependeu de ter deixado o seu país-natal. "Se fosse hoje nunca teria vindo. Ficava lá a cavar batatas. As minhas irmãs nunca vieram e não morreram à fome", desabafa.

Agora acha que já não faz sentido regressar. Por isso, vai sabendo das novidades do país pela televisão e as notícias da família chegam por telefone. Judite vive atualmente com um ordenado de 155 euros a fazer limpezas nas instalações da Força Área mas é "graças à ajuda da igreja" que tem o "que meter na mesa para comer".

A desilusão de Judite não se sente na história de Maria Fernanda Gomes Monteiro, 34 anos. Está em Portugal há 28 anos e não se imagina a viver em Cabo Verde: "Se a crise aqui é problemática lá é bem pior. É verdade que o país está melhor, mas mesmo assim não é a mesma coisa".

Maria garante que não tem intenção de regressar a Cabo Verde, mas nem por isso deixa de exercer o seu direito de votar "para tentar melhorar as coisas".

"As coisa em Cabo Verde têm melhorado muito, em parte graças ao turismo, mas eu já tenho aqui a minha vida toda. E a verdade é que esta crise que as pessoas falam não tem nada a ver com a situação que se vive lá. São dois mundos à parte", concluiu.

O sucessor de Pedro Pires na Presidência da República de Cabo Verde é hoje escolhido pelos mais de 305 mil eleitores inscritos, dos quais 36.970 vivem na diáspora. A maior concentração de imigrantes encontra-se em Portugal, onde vivem 13.221 cabo-verdianos.

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