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Praia - A dois dias da segunda volta das eleições presidenciais deste Domingo, 21 de Agosto, observadores e analistas não fazem antevisões depois de, na primeira volta, o favorito das sondagens ter sido excluído do acto eleitoral da segunda volta.
Com cerca de mais de 9 mil do que o segundo classificado na primeira volta, Jorge Carlos Fonseca, apoiado pelo Movimento para a Democracia (MpD), sabe que existem 45 mil votos a conquistar, muitos deles por parte de militantes e simpatizantes do Partido Africano da Independência de Cabo-Verde (PAICV), que apoia Manuel Inocêncio Sousa.
Na primeira volta, os referidos votos foram para Aristides Lima, da área do PAICV, mas sem o apoio formal do partido liderado por José Maria Neves.
O professor universitário e analista político, João Silvestre Alvarenga, não tem dúvidas de que, «de acordo com os erros dos vários lados em disputa, a competição será renhida».
Em declarações a PNN, João Silvestre Alvarenga afirmou que, devido às denúncias de compra de votos, fraude eleitoral, imoralidade e abuso na utilização dos bens públicos em campanha, «seria temerário avançar qualquer prognóstico porque várias incógnitas ainda estão em jogo e nem mesmo os apoiantes de Aristides Lima, com os seus 45 mil votos, saberão definir essas eleições, devido às sucessivas turbulências ocorridas e outras que poderão ainda vir a acontecer».
O jornalista Marcos Fonseca considera que o cenário aparenta ser mais favorável a Manuel Inocêncio Sousa, que conseguiu garantir o apoio político do seu partido na Região Santiago Sul, o maior círculo eleitoral do país e onde perdeu na primeira volta.
«Manuel Inocêncio de Sousa tem a seu favor o facto de ter vencido a primeira voltaem São Vicente , sua ilha natal, conquistando assim os dois maiores círculos eleitorais país», explica Marcos Fonseca, que acredita que «boa parte dos eleitores de Aristides Lima, que partilha da mesma ideologia política que Manuel Inocêncio de Sousa, poderão votar nele».
O analista Corsino Tolentino e apoiante de Aristides Lima, reconhece, em entrevista ao jornal Expresso das Ilhas, que a diferença conseguida por Jorge Carlos Fonseca «é um bom apoio mas não é confortável».
Entretanto, outro fenómeno que pode vir a acontecer é o aumento da abstenção, com muitos dos eleitores de Aristides Lima a não comparecerem à votação.
Tanto nas ruas como nas redes sociais, vários apoiantes de Aristides Lima têm manifestado a sua intenção de votarem Jorge Carlos Fonseca , enquanto outros já anunciaram que se vão abster.
Sem qualquer previsão científica de um vencedor, já que com o fracasso das previsões da primeira volta as empresas de sondagem retiraram as suas equipas de campo, Cabo-Verde pode ficar tanto com o cenário actual de um Presidente da República apoiado pelo partido do Governo ou, pela primeira vez, ter um Chefe de Estado identificado com a oposição.
Para João Silvestre Alvarenga, neste último caso, seria um teste à coabitação política. No entanto, admite a tentação do MpD em «querer desestabilizar o Governo e provocar a sua queda antecipada, embora tal seja pouco provável na prática».
O analista vai ainda mais longe dizendo claramente que «generais estarão prontos para detonar guerras políticas pelo poder e colocarão a factura do apoio político partidário em cima da mesa do Presidente da República».
No caso da vitória de Manuel Inocêncio Sousa, «será, acima de tudo, a vitória de José Maria Neves o que, na minha opinião é a maior vitória política pessoal de um homem em Cabo-Verde mas, simultaneamente, o maior desastre político para a sociedade», acrescenta João Silvestre Alvarenga, sublinhando que essa vitória, representa «o trunfo de tudo o que há de mais retrógrado na nossa história política e cultural, que é o sucesso do carneirismo político contra alguma expectativa de um movimento libertário, democrático e meritocrático».
O jornalista Marcos Fonseca tem uma leitura semelhante e admite que, em caso de vitória de Jorge Carlos Fonseca, este poderá estar mais atento às questões jurídicas e constitucionais, enquanto Manuel Inocêncio de Sousa será um colaborador do Governo.
Vários são os observadores que consideram que o espectro político e as lutas políticas não serão os mesmos em Cabo-Verde depois das eleições apesar de, em caso de vitória de Manuel Inocêncio Sousa, se manter a tradição de um Governo e um Presidente da República da mesma cor política, como acontece desde 1991.
Essa nova fase deverá afectar profundamente os dois partidos que bipolarizam a política cabo-verdiana.
O PAICV encontra-se já num profundo processo de mudança e, apesar do discurso conciliador do presidente e dos apoiantes de Aristides Lima com o objectivo de garantir a eleição de Manuel Inocêncio Sousa, advinha-se ainda luta nos próximos meses, visando a liderança do partido.
Felisberto Vieira, que se apresenta como alternativa a José Maria Neves, reclamou, esta quarta-feira, 17 de Agosto, perante centenas de militantes, o respeito e o direito à existência de tendências. Em resposta, o presidente do PAICV e primeiro-ministro disse que ninguém vai sair do partido e admitiu a criação de tendências, já previstas nos estatutos. «Havendo um ou outro dirigente que queira, tem toda a liberdade para o fazer», concluiu.
Corsino Tolentino, analista, antigo combatente e ministro da Educação no Governo de Pedro Pires entre 1985 e 1990, acredita num processo de democratização interna do PAICV com uma redistribuição de papéis e novos equilíbrios.
«Pelo que conheço, deduzo que não haverá divisão do partido mas antes uma redistribuição dos papéis e dos actores e todos vão preocupar-se com a estabilidade dinâmica», explica Corsino Tolentino.
Resta ainda saber se Aristides Lima vai preparar a sua candidatura presidencial para 2016 que, em caso de vitória de Manuel Inocêncio Sousa neste Domingo, voltará a não ter o apoio do PAICV, ou se tentará liderar uma tendência interna, enfrentando o seu principal apoiante, Felisberto Vieira.
Com o PAICV ocupado com o processo de clarificação de águas com vista a apresentar-se unido nas eleições autárquicas de Maio de 2012, o MpD tem pela frente o desafio de se afirmar definitivamente como alternativa ao poder actual, ou ficar simplesmente como um partido autárquico, como chegou a antever o analista português Marcelo Rebelo de Sousa, antes das Legislativas de Fevereiro, em caso de derrota do MpD, liderado por Carlos Veiga.
Será Jorge Carlos Fonseca eleito Presidente da República? Esta pergunta salta surge nos diversos círculos políticos da capital cabo-verdiana. Tal vitória pode ser entendida como de um homem que fez um longo percurso e que se preparou para esta batalha, depois de ter conseguido apenas 3% nas Eleições Presidenciais de 2001. o próprio candidato admitiu que necessitava do apoio de um partido grande para vencer as eleições e, nesse caso, recebeu-o do MpD, partido que ele abandonou em 1993.
Assim, o MpD pode reclamar vitória e exifir a Jorge Carlos Fonseca que fique «refém» das suas políticas considerando, entre outros aspectos, que ele estará tentado a recandidatar-se em 2016 e, nessa altura, terá de contar com o apoio do MpD que apostará tudo numa vitória nas Legislativas desse mesmo ano, colocando assim término ao mandato do PAICV. Com este último cenário, o actual Presidente do MpD, Carlos Veiga, poderá surgir como o grande vencedor.
Desta forma, apesar da derrota nas Legislativas de Fevereiro, o Presidente do MpD poderia ser tentado a ficar no partido mesmo depois das autárquicas de 2012, deitando por terra veleidades de dois homens fortes no partido: Jorge Santos e Ulisses Correia e Silva.
O primeiro, actual vice-presidente do partido, apoiou sempre a a candidatura de Jorge Carlos Fonseca e viu nessa luta uma forma de voltar a disputar a liderança do MpD.
O segundo, também vice-presidente do partido e Presidente da principal Câmara Municipal do país, Praia, é visto em muitos círculos do MpD e fora dele como o natural e melhor candidato à presidência do partido.
No entanto, ao anunciar a sua recandidatura à Câmara Municipal da Praia para as eleições de 2012 pode ter dado uma indicação de que não estaria interessado, por agora, na liderança do MpD, facto que poderia levar Carlos Veiga a recandidatar-se.
300 mil cabo-verdianos deverão ir às urnas, numa disputa em que a abstenção deverá ultrapassar os 50%. Manuel Inocêncio Sousa ou Jorge Carlos Fonseca lutam para substituir Pedro Pires, depois de dois mandatos.
Na primeira volta, os referidos votos foram para Aristides Lima, da área do PAICV, mas sem o apoio formal do partido liderado por José Maria Neves.
O professor universitário e analista político, João Silvestre Alvarenga, não tem dúvidas de que, «de acordo com os erros dos vários lados em disputa, a competição será renhida».
Em declarações a PNN, João Silvestre Alvarenga afirmou que, devido às denúncias de compra de votos, fraude eleitoral, imoralidade e abuso na utilização dos bens públicos em campanha, «seria temerário avançar qualquer prognóstico porque várias incógnitas ainda estão em jogo e nem mesmo os apoiantes de Aristides Lima, com os seus 45 mil votos, saberão definir essas eleições, devido às sucessivas turbulências ocorridas e outras que poderão ainda vir a acontecer».
O jornalista Marcos Fonseca considera que o cenário aparenta ser mais favorável a Manuel Inocêncio Sousa, que conseguiu garantir o apoio político do seu partido na Região Santiago Sul, o maior círculo eleitoral do país e onde perdeu na primeira volta.
«Manuel Inocêncio de Sousa tem a seu favor o facto de ter vencido a primeira volta
O analista Corsino Tolentino e apoiante de Aristides Lima, reconhece, em entrevista ao jornal Expresso das Ilhas, que a diferença conseguida por Jorge Carlos Fonseca «é um bom apoio mas não é confortável».
Entretanto, outro fenómeno que pode vir a acontecer é o aumento da abstenção, com muitos dos eleitores de Aristides Lima a não comparecerem à votação.
Tanto nas ruas como nas redes sociais, vários apoiantes de Aristides Lima têm manifestado a sua intenção de votar
Sem qualquer previsão científica de um vencedor, já que com o fracasso das previsões da primeira volta as empresas de sondagem retiraram as suas equipas de campo, Cabo-Verde pode ficar tanto com o cenário actual de um Presidente da República apoiado pelo partido do Governo ou, pela primeira vez, ter um Chefe de Estado identificado com a oposição.
Para João Silvestre Alvarenga, neste último caso, seria um teste à coabitação política. No entanto, admite a tentação do MpD em «querer desestabilizar o Governo e provocar a sua queda antecipada, embora tal seja pouco provável na prática».
O analista vai ainda mais longe dizendo claramente que «generais estarão prontos para detonar guerras políticas pelo poder e colocarão a factura do apoio político partidário em cima da mesa do Presidente da República».
No caso da vitória de Manuel Inocêncio Sousa, «será, acima de tudo, a vitória de José Maria Neves o que, na minha opinião é a maior vitória política pessoal de um homem em Cabo-Verde mas, simultaneamente, o maior desastre político para a sociedade», acrescenta João Silvestre Alvarenga, sublinhando que essa vitória, representa «o trunfo de tudo o que há de mais retrógrado na nossa história política e cultural, que é o sucesso do carneirismo político contra alguma expectativa de um movimento libertário, democrático e meritocrático».
O jornalista Marcos Fonseca tem uma leitura semelhante e admite que, em caso de vitória de Jorge Carlos Fonseca, este poderá estar mais atento às questões jurídicas e constitucionais, enquanto Manuel Inocêncio de Sousa será um colaborador do Governo.
Vários são os observadores que consideram que o espectro político e as lutas políticas não serão os mesmos em Cabo-Verde depois das eleições apesar de, em caso de vitória de Manuel Inocêncio Sousa, se manter a tradição de um Governo e um Presidente da República da mesma cor política, como acontece desde 1991.
Essa nova fase deverá afectar profundamente os dois partidos que bipolarizam a política cabo-verdiana.
O PAICV encontra-se já num profundo processo de mudança e, apesar do discurso conciliador do presidente e dos apoiantes de Aristides Lima com o objectivo de garantir a eleição de Manuel Inocêncio Sousa, advinha-se ainda luta nos próximos meses, visando a liderança do partido.
Felisberto Vieira, que se apresenta como alternativa a José Maria Neves, reclamou, esta quarta-feira, 17 de Agosto, perante centenas de militantes, o respeito e o direito à existência de tendências. Em resposta, o presidente do PAICV e primeiro-ministro disse que ninguém vai sair do partido e admitiu a criação de tendências, já previstas nos estatutos. «Havendo um ou outro dirigente que queira, tem toda a liberdade para o fazer», concluiu.
Corsino Tolentino, analista, antigo combatente e ministro da Educação no Governo de Pedro Pires entre 1985 e 1990, acredita num processo de democratização interna do PAICV com uma redistribuição de papéis e novos equilíbrios.
«Pelo que conheço, deduzo que não haverá divisão do partido mas antes uma redistribuição dos papéis e dos actores e todos vão preocupar-se com a estabilidade dinâmica», explica Corsino Tolentino.
Resta ainda saber se Aristides Lima vai preparar a sua candidatura presidencial para 2016 que, em caso de vitória de Manuel Inocêncio Sousa neste Domingo, voltará a não ter o apoio do PAICV, ou se tentará liderar uma tendência interna, enfrentando o seu principal apoiante, Felisberto Vieira.
Com o PAICV ocupado com o processo de clarificação de águas com vista a apresentar-se unido nas eleições autárquicas de Maio de 2012, o MpD tem pela frente o desafio de se afirmar definitivamente como alternativa ao poder actual, ou ficar simplesmente como um partido autárquico, como chegou a antever o analista português Marcelo Rebelo de Sousa, antes das Legislativas de Fevereiro, em caso de derrota do MpD, liderado por Carlos Veiga.
Será Jorge Carlos Fonseca eleito Presidente da República? Esta pergunta salta surge nos diversos círculos políticos da capital cabo-verdiana. Tal vitória pode ser entendida como de um homem que fez um longo percurso e que se preparou para esta batalha, depois de ter conseguido apenas 3% nas Eleições Presidenciais de 2001. o próprio candidato admitiu que necessitava do apoio de um partido grande para vencer as eleições e, nesse caso, recebeu-o do MpD, partido que ele abandonou em 1993.
Assim, o MpD pode reclamar vitória e exifir a Jorge Carlos Fonseca que fique «refém» das suas políticas considerando, entre outros aspectos, que ele estará tentado a recandidatar-se em 2016 e, nessa altura, terá de contar com o apoio do MpD que apostará tudo numa vitória nas Legislativas desse mesmo ano, colocando assim término ao mandato do PAICV. Com este último cenário, o actual Presidente do MpD, Carlos Veiga, poderá surgir como o grande vencedor.
Desta forma, apesar da derrota nas Legislativas de Fevereiro, o Presidente do MpD poderia ser tentado a ficar no partido mesmo depois das autárquicas de 2012, deitando por terra veleidades de dois homens fortes no partido: Jorge Santos e Ulisses Correia e Silva.
O primeiro, actual vice-presidente do partido, apoiou sempre a a candidatura de Jorge Carlos Fonseca e viu nessa luta uma forma de voltar a disputar a liderança do MpD.
O segundo, também vice-presidente do partido e Presidente da principal Câmara Municipal do país, Praia, é visto em muitos círculos do MpD e fora dele como o natural e melhor candidato à presidência do partido.
No entanto, ao anunciar a sua recandidatura à Câmara Municipal da Praia para as eleições de 2012 pode ter dado uma indicação de que não estaria interessado, por agora, na liderança do MpD, facto que poderia levar Carlos Veiga a recandidatar-se.
300 mil cabo-verdianos deverão ir às urnas, numa disputa em que a abstenção deverá ultrapassar os 50%. Manuel Inocêncio Sousa ou Jorge Carlos Fonseca lutam para substituir Pedro Pires, depois de dois mandatos.
(c) PNN Portuguese News Network
*Foto em Lusa
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