segunda-feira, 1 de agosto de 2011

EUA: A CRISE DO TETO DA DÍVIDA




ANTÓNIO TOZZI* - DIRETO DA REDAÇÃO

Provavelmente quando você estiver lendo este artigo, algum acordo deve ter sido estabelecido entre as lideranças dos partidos republicano e democrata e a Casa Branca para evitar que os Estados Unidos não consigam pagar suas contas básicas. Parafraseando um ex-presidente brasileiro, algo nunca visto antes na história deste país.

Deixando de lado os termos do acordo,devemos debater a questão política e ideológica que está cercando este debate, o qual se transformou numa preocupação séria para o povo americano e também para os governos e povos de outros países, inclusive o Brasil. Portanto, se alguém quiser bancar o mauzinho e torcer contra os EUA, fique sabendo que isto respingará nele também.

Da maneira como o mundo está interconectado atualmente, a decisão de um líder tem reflexos positivos e negativos nos mais longínquos cantos do planeta. Por isto, o governo da China cobrou responsabilidade dos líderes americanos, afinal, eles são os principais credores dos Estados Unidos, enquanto o Brasil figura na quarta posição. Ou seja, estamos todos no mesmo barco.

Voltando à política interna, os republicanos apostaram numa tática suicida. Nos cálculos deles, a negativa de o presidente e membros do partido democrata em aceitar as propostas deles faria com que o povo americano corresse para dar o apoio que eles esperavam – e desejavam. No entanto, esqueceram de um detalher: política é ciência social e não ciência exata.

Escudados no discurso do cut, cap and balance – que prega corte de gastos governamentais, não aumento de impostos e balanço fiscal -, os republicanos acreditaram ter encontrado a fórmula do sucesso. E aprovaram um projeto de lei redigido nestes moldes na Câmara dos Deputados e apresentador por John Boehner, presidente da Casa. Com o adendo de que isto teria validade somente alguns meses e voltaria a ser discutido dentro de alguns meses.

Isto, porém, não passou de sonho de uma noite de verão, porque o projeto de lei foi rejeitado no Senado, controlado pelos democratas. Aí, foi a vez do presidente do Senado, Harry Reid, democrata do Arizona, apresentar o projeto de Lei da Câmara Alta, que previsivelmente foi rejeitado.

A estratégia dos republicanos era passar o projeto de lei elaborado por eles e no próximo ano ficar debatendo novamente o assunto como uma maneira de desgastar o presidente Barack Obama. Como o presidente não é tonto, afirmou que assim não haveria acordo e, mesmo se o projeto de lei de Boehner tivesse passado no Senado, seria vetado por ele.

A opinião pública, por sua vez, está insatisfeita com os líderes que não conseguem liderar. E os conservadores mais sensatos estão abominando o desproporcional poder exercido pelo Tea Party – que prega quase uma anarquia fiscal, sem cobrança de impostos, possui filosofia anti-imigrante e é extremamente radical em questões como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo etc. – dentro do partido republicano. Assim, em vez de Obama ficar refém da situação, é Boehner quem se tornou refém deste grupo radical, que não poupa críticas a ele por ser muito “soft” para negociar com os adversários – para eles, a melhor definição seria inimigos.

Inebriados, os líderes republicanos acreditam que sairão fortalecidos deste episódio ao demonstrar a fraqueza de Obama como líder supremo da nação. Mas eles estão se esquecendo de que, como maioria democrata na Câmara Baixa, também são governo e, portanto, co-responsáveis pelo destino do país. E o eleitorado costuma cobrar a fatura nas eleições. Sobretudo, agora,, que ficou sabendo que o projeto de lei dos republicanos previa cortes nos programas sociais: previdência social, assistência médica aos aposentados, apoio aos veteranos de guerra e outros.

Se quiserem reconquistar a confiança do eleitorado americano, os republicanos deveriam expulsar os membros do Tea Party do partido. Aí, eles estariam livres para formar um terceiro partido e os republicanos mais esclarecidos poderiam continuar participando ativamente da vida política do país sem sentirem-se controlados por uma facção radical de extrema-direita.

*Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA

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