quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MORREU O JORNALISTA DIAS GOMES




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Fomos colegas, camaradas, companheiros e amigos durante muitos anos. Partiu agora.  Fica um dos últimos textos que, há mais de um ano, o Dias Gomes publicou no Matosinhos Hoje.

«Sou jornalista há 38 anos e sou possuidor do título profissional n.º 529. Principiei no Jornal de Notícias e fui dois anos “exilado” para o Primeiro de Janeiro. Posteriormente, voltei ao JN.

No JN atingi uma posição de hierarquia que exerci com dedicação e empenho. Sempre fui avaliado com notas de bom, muito bom. Até que surgiu a actual direcção, que quando entrou, não se sabe bem como nem como e com que fins. O que se sabe é que todos os jornalistas mais antigos foram para a prateleira sem qualquer tipo de explicações. O background profissional não interessou para nada e um subdirector entrou mesmo sem carteira profissional, à revelia do código deontológico dos jornalistas e do SJ que aceitou a ilegalidade surpreendentemente e passivamente.

Mais tarde por meios pouco éticos, “arranjou”, por baixo da mesa, a carteira profissional. Isto vem a propósito das audiências que se estão a efectuar na AR sobre se há ou não censura e que se estão a tornar fastidiosas por culpa dos deputados e dos directores de jornais e jornalistas. Os primeiros porque não sabem formular perguntas, antes optando por catadupas delas que se perdem e não interessam a ninguém e os segundos porque mentem descaradamente.


Da maneira como estão a ser conduzidos os trabalhos pelo senhor deputado do PSD Marques Guedes aposto que ninguém vai ser esclarecido, ainda que o deputado social-democrata seja a pessoa mais esclarecida.

Por exemplo, no que diz respeito à audição do director do JN, o seu papel foi deprimente. Como é que se presta aquela posição, sabendo que está a mentir descarada e atrapalhadamente? É que eu desminto-o categoricamente e digo àquele senhor que houve, enquanto lá trabalhei, até 2004, censura e penalizações.

E porque digo eu isso? Porque fui uma das vítimas. Sim, eu e muitas mais. Quando ele diz que desde que entrou no JN não se lembra de um acto censório eu rio-me! A quem é que pensa que está a enganar? Mas eu avivo-lhe a memória. Censura e auto-censura por medo de represálias! Desminto-o, até porque fui roubado de um prémio de desempenho. Fui classificado com uma nota de bom pelo meu editor e esse senhor, posteriormente, tirou-me o prémio a que um ano insano de trabalho me deu direito. E porquê? Eu conto. Fui designado pelo editor respectivo para cobrir um fórum na câmara de Valongo. No final, em amena cavaqueira com o presidente Fernando Melo, dirigi-me, informal e educadamente, a Marco António Costa e disse-lhe qualquer coisa sobre política que ele discordou visivelmente incomodado. De imediato lhe pedi desculpa pois não era minna intenção melindrá-lo.

Mal cheguei ao jornal o meu editor disse-me logo que eu iria ter problemas só por discordar do “senhor” Marco António Costa que entretanto já tinha telefonado para o director a queixar-se da minha interpelação aquele social democrata. Resultado: o meu texto nunca mais saiu e eu não recebi nesse ano o prémio que rondava os 1900 euros.
Aí está senhores leitores como os directores falam verdade nas audições da AR!!! Por aqui os portugueses podem aquilatar da validade destas comissões de inquérito que se formatam por nada e para nada.»

ATÉ LOGO, CAMARADA!

ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA – 10 agosto 2011

Morreste ontem, mas o jornal que ajudaste a ser o primeiro dos primeiros só hoje, às  21h28, deu a notícia. Calculei,  e não sei se foi o caso, que estariam à espera de ser a Lusa a escrever a notícia. Eu sei que nesse jornal serão poucos os que, com responsabilidades na hierarquia editorial, assumem que te conheceram. Talvez isso justifique a demora. Mas nada disto seria novidade para ti. Por alguma razão o jornal que foi o primeiro dos primeiros é hoje, talvez, o primeiro dos últimos. Um abração.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um abraço de amizade do A. Costa Gomes. Sei que, um dia nos vamos encontrar no berço da vida. Recordar é viver e, portanto, te digo com todas as letras: eras um homem integro, justo e sempre a trilhar o caminho da verdade. A tua rectidão e acima de tudo a tua honestidade foram um exemplo. Eras inquebrável e por isso eras incómodo a muita escumalha, que lambe e continua a lamber as solas de algumas botas de alguns sabujos.
Este último texto diz o homem que tu eras. Um homem com espinha dorsal, sem tibiezas ou titubeante, sem floreados.Haja mais homens assim, pois só desta forma é que este país cresce. Os medíocres não têm lugar...

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