ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
O ministro das Finanças de Portugal afirmou hoje que o aumento do IVA na electricidade e no gás, bem como o pagamento do imposto extraordinário equivalente a 50% do subsídio de Natal "resolvem metade do desvio" orçamental.
Vítor Gaspar descobriu a Pedra Filosofal. Não aquela que supostamente aproxima os homens de Deus, não o elixir de uma vida longa ou da imortalidade, mas aquela do António Gedeão que nos conta que “eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”.
Se calhar, reconheço, Vítor Gaspar aproxima-se mais de Zeca Afonso quando este diz: “No céu cinzento, sob o astro mudo, batendo as asas, pela noite calada, vêm em bandos, com pés de veludo, chupar o sangue fresco da manada”.
Seja como for, Vítor Gaspar afirma que a arma secreta deste governo, que dá pelo nome de aumento de impostos, no caso de hoje que altera o valor do IVA cobrado no gás natural e na electricidade de 6% para 23%, se justifica porque o Governo encontrou um buraco de dois mil milhões de euros, equivalente a 1,1 pontos percentuais do PIB.
A ser verdade, e será com certeza, o Governo tem legitimidade para pôr os portugueses de pernas para o ar, sacudindo-os na ânsia insana de roubar todos os cêntimos.
Pergunta-se: Não terão os portugueses, pelas mesmas razões (desde logo porque não foram eles que criaram esse e muitos outros buracos), legitimidade para sair às ruas e pelos meios possíveis correr com um governo que os está a espoliar?
Questionado sobre se o Governo prevê um novo aumento de impostos para 2012, Vítor Gaspar admitiu que tal irá acontecer.
"Sim, (o aumento de alguns impostos) está previsto no programa e irão executar-se de acordo com o calendário previsto por razões de consolidação orçamental" cujo valor estimado é de 410 milhões de euros, conforme consta do memorando de entendimento entre o Governo e a 'troika'.
Será que não estão criadas as condições para que os portugueses espoliados avancem com um processo judicial contra este e os anteriores governos por negligência grave durante os respectivos mandatos?
Em Setembro de 2010, o parlamento islandês decidiu processar por "negligência" o antigo chefe do Governo, Geeir Haarde, que liderava o país na altura em que o sistema financeiro islandês entrou em colapso, em Outubro de 2008.
A caminho de ultrapassar os 800 mil desempregados, com 20% dos cidadãos a viver na miséria e às escuras e outros tantos que começam a ter saudades de uma... refeição, Portugal poderia adoptar já igual procedimento em relação a Pedro Passos Coelho e todos os seus super-ministros, (quase) todos eles sublimes exemplos da impunidade reinante.
Pedro Passos Coelho, a não ser que pague direitos de autor, não poderá dizer que “está para nascer um primeiro-ministro que faça melhor do que eu". Mas pode, com certeza, adoptar uma que diga “está para nascer um primeiro-ministro que tão rapidamente tenha posto os portugueses a viver sem comer”.
Como matéria de facto para um eventual processo judicial contra o actual primeiro-ministro acrescente-se que, quando todos julgavam (também foi o meu caso, reconheço) que José Sócrates tinha levado o país a bater no fundo, aparece Pedro Passos Coelho e a sua super-equipa a provar que, afinal, ainda é possível afundar um pouco mais.
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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