PAULO BALDAIA* - DINHEIRO VIVO
Quanto mais os sábios que nos governam esbracejavam mais nós nos afundávamos
A crise das dívidas soberanas não se resolve, as crises sociais agravam-se e agora até o crescimento económico é pífio. A cada momento de decisão, os sábios que nos governam, na Europa e na América, julgaram ter encontrado o rumo certo, mas quanto mais eles esbracejavam mais nós nos afundávamos.
No “Financial Times”, a directora-geral do FMI apelava ontem aos ditos sábios que nos governam para não deixarem “a travagem orçamental bloquear a retoma mundial”. Christine Lagarde acredita que “o reequilíbrio orçamental deve resolver uma equação delicada, não sendo nem demasiado rápido nem demasiado lento”. Nesta espécie de quadratura do círculo, a francesa que lidera o FMI é mais uma, entre muitos, que não tendo a solução já descobriu como não se deve fazer.
É sempre bom lembrar que em 2008, com a crise do subprime, os sábios determinaram que os Estados deveriam despejar dinheiro nas economias – chamaram-lhe investimento público – para que estas não arrefecessem. Daí passámos para a crise das dívidas soberanas e é aqui que estamos.
A solução proposta há três anos, estava bom de ver, tinha tudo para falhar. Para mim, que nem sequer sou formado em economia, despejar dinheiro em economias altamente endividadas parecia-me a loucura de uma terapia que propunha a cura de uma cirrose de um alcoólico com a ingestão diária de uma garrafa de vinho e outra de uísque. E a solução preconizada actualmente pelos mercados para a crise das dívidas soberanas parece o tratamento de um obeso que vai inevitavelmente transformar-se num anoréctico. Faz lembrar a velha história do “burro do espanhol” que morreu quando finalmente se tinha habituado a viver sem comer.
Ora, como isto não vai lá com cirroses tratadas à base de álcool ou obesidade tratada com fome extrema, vale a pena começar a procurar os génios que possam habitar este planeta. Na verdade, podem candidatar-se todos os políticos que estiverem dispostos a ouvir as opiniões dos outros e a combater de forma clara os interesses especulativos dos mercados financeiros. Um génio, na verdade, não precisa obrigatoriamente de ser alguém com ideias revolucionárias. Ideias à frente do tempo que vivemos dão jeito, mas para ser génio basta ter a coragem de enfrentar os interesses instalados.
Voltemos ao artigo de opinião de Lagarde no FT. O modo como os mercados provocaram e gerem esta crise “levou muitas pessoas a concluírem que tinham sido esgotadas todas as possibilidades políticas”. Uma impressão que a líder do FMI considera ser “falsa” e que “pode conduzir à paralisia”. Em teoria, Lagarde tem razão. As possibilidades políticas não estão esgotadas, mas na prática ela sabe que a validade da maioria dos actores políticos está esgotada. A curto prazo estamos condenados, a médio prazo tudo se há-de resolver.
*Director da TSF - Escreve à quarta-feira
Sem comentários:
Enviar um comentário