OPINIÃO - COMENTÁRIOS
COMENTÁRIO - A
ANÓNIMO 10 de Agosto de 2011 11:35
A proposta é simplesmente o uso de línguas maternas nos primeiros anos de escola. Ninguém está a sugerir que estas línguas sejam usadas nas escolas secundárias, sem falar de tribunais ou escritórios do governo.
Ninguém está a sugerir que sejam línguas oficiais. O tétum, sim, porque é a língua franca, mas o fataluco, vaiqueno, etc? Pois não, embora deve haver intérpretes, como há noutros países. Por exemplo, no Reino Unido, onde vivem muitos timorenses que não falam inglês nem português.
Para sobreviver, uma língua precisa de ter uma presença em cada esfera de vida pública. A ideia que se pode ressuscitar uma língua simplesmente por dar aulas é tão simples.
Refere à presença da cultura portuguesa em Timor por causa do catolicismo (como na Ilha de Flores) mas não sabe o que é cultura popular? É cultura que é popular! Música, televisão, filmes, etc.
Para timorenses, o português é como o latim para os portugueses - uma língua histórica, não moderna.
Talvez agora os timorenses vejam as telenovelas brasileiras no português original em vez de serem dobradas em indonésio. Por que a CPLP não usam programas de televisão legendados noutras línguas para propagar a língua portuguesa? Falta de visão.
A distância geográfica não precisa de ser uma tirania, graças à internet e televisão satélite. Não se precisa de muito dinheiro, simplesmente mais iniciativa.
O canal francófono TV5Monde agora emite programas em Vietname com legendas em vietnamita, porque, apesar de ter sido uma colónia francesa, os vietnamitas não falam francês.
Talvez não haja tanta hostilidade à língua portuguesa agora, mas para muitos, é ainda uma irrelevância.
No tempo português, havia muitos portugueses que falariam tétum, mas agora, não. Pelo menos 'bondia?' é de origem portuguesa, não é como se fosse 'hello' ou 'selamat pagi'.
O tétum não é uma língua lusa, mas é uma língua lusificada - por que têm estes portugueses tão medo dele. É como um elefante que tem medo de um ratinho!
Quando visito Portugal, sempre tento de falar em português, é apenas quando os portugueses me oferecem falar em inglês, que falo em inglês. Se dissesse, 'hello, do you speak English?' seria maleducado.
COMENTÁRIO - B
Tanta ignorância!
Existem estudos que provam que as competências básicas de literacia e numeracia nos primeiros anos de educação de uma crianca sao melhor garantidas através do uso da língua materna da criança.
Uma vez desenvolvidas as competências básicas de literacia e numeracia a aprendizagem torna-se mais fácil mesmo através do uso de uma nova língua como o Português e tétum que sao oficiais em Timor.
Os únicos sentimentos para aqui chamados devem ser os que melhor defendem o melhor começo para o longo processo de educação de uma criança que começa num jardim-de-infância e acaba com a morte do adulto.
COMENTÁRIO - C
Sim, é inegável que instrução nas línguas maternas é muito mais fácil e pedagógica. Até o método global de instrução em sistema monolingue, em que a língua de instrução é a língua materna do instruendo, é muito melhor. (método em que se aprende a «colar» o desenho das palavras ao seu significado com muita interactividade entre a criança e o espaço que a rodeia, escola, recreio, casa, cidade, etc...). Neste método, as crianças aprendem muito mais rápido e sem temores a ler e a escrever.
Mas também é verdade que se os métodos pedagógicos forem os adequados, as crianças aprendem a ler e escrever em qualquer língua, materna ou não, são autênticas esponjas com potencial de poliglotas (e esse é o caso naturalmente existente em Timor-leste). Pode demorar mais tempo, mas não é menos eficiente. Mas quanto mais se adia essa possibilidade de se ser amplamente poliglota, menos são as probabilidades de adquirir novas competências em novas línguas. Adiando a aprendizagem do tétum e do português, sendo que a língua mãe continuará a ser falada em casa ou como disciplina na escola, reduzem-se proporcionalmente as possibilidades de absorver de forma rápida e natural esses idiomas novos.
Nas zonas rurais, as crianças timorenses não vão deixar de falar makalero ou bunak só por aprenderem o tétum e o português, em simultâneo. (E que tipo de bunak vão aprender se não há prontuário ortográfico do mesmo? O que der na «veneta» do professor?) Se as abordagens pedagógicas forem as correctas, não há esse risco: com disciplina de língua mãe mas instrução inicial em tétum e português, não se perdem nem as línguas indígenas nem as oficiais.
Agora, se se empurrar o tétum e, sobretudo, o português para fases mais tardias, por muito bom que seja o domínio da escrita e da leitura e da apreensão de conceitos mais ou menos abstractos na língua mãe, diminuem-se as hipóteses de apreender estes novos idiomas no 3º ou 4º ano. Digo sobretudo o português - e aqui é que a «porca torce o rabo» - porque não tendo o suporte que as línguas mães têm em casa e na knua nem a qualidade de língua franca como o tétum, a continuar a inexistir esforços de massificação do português, este está a condenado a extinguir-se em Timor. Não é nenhuma teoria da conspiração, são factos. E quem, eventualmente, pretenda erradicar o português e remetê-lo para os alfarrábios timorenses, pode estar, de forma aparentemente benévola, a sentenciar de morte o português em Timor-Leste com uma estratégia baseada em igualmente inegáveis factos. E é apenas uma questão de tempo, falaremos daqui a 10 anos. É isto que se passa, não é nenhum ataque às línguas maternas timorenses, lusotropicalismos bacocos ou rivalidades luso-australianas quando aparecem defensores da língua portuguesa com aparentes tendências de paranóia.
E independente dos muitos erros cometidos na estratégica de disseminação do português em Timor-Leste, nunca vi (pode ser engano meu) os subscritores desta iniciativa da alfabetização baseada na língua mãe defenderem com igual vigor a língua portuguesa ou proporem, efectivamente, estratégias para a disseminar. Vejo apenas declarações de boas intenções sem qualquer concretização prática. Eu também posso dizer que defendo o afrikander ou o basco e não mover uma palha para efectivamente o fazer.
Sim, há as resoluções parlamentares. Mas não vi defensores da instrução em língua materna a verter uma palavra positiva (nem negativa) sobre o assunto. A Língua de Jorge Amado, Pessoa e Xanana Gusmão é atacada por pseudo-intelectuais que até chegaram a afirmar a estupidez de que o português é menos evoluído que o indonésio, e os senhores e senhoras da bandeira das línguas maternas nem suspiraram. Opiniões de jovens resvalaram para o «a língua portuguesa discrimina» (quando o que discrimina são as pessoas)e nem um som se ouviu dos defensores da instrução em língua materna. Todas estas atitudes em uníssono revelam uma coisa: vácuo relativamente à defesa da língua portuguesa.
No dia em que se defender efectivamente, com igualdade, todas as línguas de Timor, do fataluku ao mambae, do tétum térik ao português, deixará de haver sinais de alarmismo ou aparentes revelações de ignorância. Por isso, atrevo-me a desafiar os defensores da instrução em língua materna a apresentarem estratégias minuciosas ao executivo timorense para disseminação do português (e do seu irmão, o tétum) e, já agora com a mesma intensidade com que defendem outros projectos.
COMENTÁRIO - D
Ao Anónimo das 11h35 de 10 de Agosto (refere-se ao comentário A)
Há coisas no seu raciocínio que não são claras: se a proposta é simplesmente o uso de línguas maternas nos primeiros anos de escola, sem que sejam usadas no secundário ou na administração pública e não é para, a prazo, mandar o português «à viola», porque diz mais à frente que o português é apenas uma língua histórica em Timor? Se o português já está morto em Timor, mais vale tirá-lo já dos currículos. (Já agora, o Latim é mesmo uma língua morta, só o estuda quem quer ou precisa. O português está bem vivo, mesmo que não seja em Timor. Não compare o incomparável, ninguém quer que os timorenses aprendam massivamente uma língua efectivamente morta).
«Para sobreviver, uma língua precisa de ter uma presença em cada esfera de vida pública. A ideia que se pode ressuscitar uma língua simplesmente por dar aulas é tão simples.» Quis dizer simplista, acho. E tem razão, estou plenamente de acordo consigo. E por não ter dimensão externa às aulas é que retirar o português da primeira classe é passar-lhe uma certidão de óbito em Timor.
Quanto à cultura popular, o/a caríssimo/a anónimo/a não entendeu aquela parte do Quim Barreiros ou, adiciono agora, do Leandro e Leonardo, músicos populares português e brasileiros, respectivamente, que passam em qualquer táxi de Díli e festa de casamento da capital ou do interior mais profundo de Timor. Está lá, pode ser pouquito, não é Slang, Dewa ou sinetron betawi, mas está.
Quanto ao resto, concordo consigo, há falta de visão. Porque ainda há gente que acha horrível a cultura «popularucha» da telenovela brasileira (que, para além da qualidade do produto em si, é usado no Brasil com funções pedagógicas de alerta para flagelos sociais) e da música pimba (Portugal) ou sertaneja (Brasil) quando são a forma mais fácil e divertida de aprender português.
Para alguns timorenses o português ainda é uma afronta, para outros irrelevante. E, cada vez mais, muitos por iniciativa própria, decidem aprender português. Reconhecem-lhe utilidade nem que seja curricular.
Sim, é verdade, reconheço que no tempo português mais portugueses aprendiam tétum do que agora. Conheci um ex-militar português que ainda hoje consegue manter uma conversa cordial e explicar coisas básicas (frio, quente, pequeno, grande) em tétum, depois de 45 anos. Muitos Tugas desconhecem que o tétum é fácil de aprender, o vocabulário é muito idêntico e até divertido. Matabixu (mata-bicho que era o vinho bebido por camponeses portugueses de madrugada, antes de ir trabalhar, depois comiam o pequeno almoço), sícara e sintina, já em desuso em Portugal, mas perceptíveis, são as minhas favoritas. O tétum não é nem nunca será uma ameaça ao português, pelo contrário. Nem o baiqueno ou o kairui. O que se pode fazer politicamente com elas é que é outra conversa.
Caro/a anónimo/a: tem de visitar mais Portugal para conhecer melhor os portugueses. Se não souber falar português e se dirigir com um Hello, do you speak english, ninguém, mas mesmo ninguém ficará ofendido. Quando muito, poderão não conseguir responder por não entender. E mesmo o menos preparado, arranhará umas palavras de inglês para tentar responder-lhe. Se falar em português, mesmo com muitas dificuldades, não se rirão, ficarão até orgulhosos pelo seu esforço, e ajudá-lo-ão se puderem.
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1 comentário:
1.º-O uso da língua portuguesa no sistema educativo de Timor-Leste, e consequentemente em toda a Administração Pública timorense, por todos quantos se dedicam a promover ou a apoiar iniciativas que têm em vista a discussão do problema das línguas em Timor-Leste, nos quais poderia colocar, sem quaisquer reservas, a UNICEF, bem como um dos elementos da Comissão Nacional da Educação de apelido Pires -uma religiosa -, ai qual preside a Sra. Gusmão.
2.º-Desconheço os conhecimentos linguísticos da Sra. Gusmão, razão pela qual nem sequer me refiro ao mérito ou demérito da substância do documento dado à estampa, ou seja, “Política da Educação Multilingue Baseada na Língua Materna", documento cuja validade jurídica/legal desconheço por absoluto.
3.º - Para que fique claro, e isso tenho eu a certeza, o Governo não tem competência para abolir a língua portuguesa no ensino básico, por razões que me excuso de explicitar.
4.º - Quem defende a aprendizagem inicial, refiro-me à escola, obviamente, nas línguas maternas, no caso, em Timor-Leste, está certamente a querer eliminar, isto a médio e longo prazo, a língua portuguesa do sistema educativo timorense, em favor da língua inglesa, com o argumento simplista, ou mesmo falso, de que o português é de difícil aprendizagem, não sendo por isso a língua mais apropriada para a realidade timorense.
5.º - Acho muito bem que o tétum, enquanto língua, seja construído, desenvolvido, aprimorado e dessiminado por todo o Timor-Leste, o que já não acho nada bem é que a defesa acérrima do tétum por alguns malais tenha apenas como objectivo arrumar definitivamente o português nas prateleiras de um qualquer museu do esquecimento, principalmente por parte daqueles que só descobriram Timor-Leste a partir de 1999.
6.º - Aliás, não me consta que a maioria dos malais - para não dizer a totalidade -, naturais de países vizinhos, demonstre o mínimo interessse, ao chegar a Timor-Leste,na aprendizagem da língua portuguesa, sendo esta, indiscutivelmente, a par da língua tétum,e em plano de igualdade com esta,uma língua oficial consagrada constitucinalmente.
7.º - Uma vez que me não quero alongar sobre este assunto, colocaria apenas a seguinte questão: Estará a cooperação portuguesa na área da educação a ser executada com base em premissas correctas de acordo com a realidade timorense e com as práticas dos agentes anti-português que se movimentam no território?
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