A SEMANA
Angola e Guiné-Bissau fazem-se representar ao mais alto nível nas exéquias fúnebres de Aristides Pereira, num gesto de reconhecimento pelo contributo que o sucessor de Amílcar Cabral deu às lutas e conquistas destes dois países, de modo particular, e de África, em geral.
O presidente Malam Bacai Sanhá chegou na manhã desta terça-feira à cidade da Praia, para reforçar um abraço de conforto do povo bissau-guineense aos “irmãos” cabo-verdianos nesta hora de render esta última homenagem “a um amigo", a "um dos obreiros da independência” da Guiné. De Angola vem o vice-presidente Fernando da Piedade manifestar, em nome do seu povo e do governo, a consternação pela morte deste “insigne combatente da liberdade” e “figura carismática” de todo o continente.
Malam Bacai Sanhá vem juntar-se ao seu antecessor Henrique Rosa, que está em Cabo Verde desde a noite de domingo para "render uma última homenagem a um amigo, a um africano e ao co-fundador da independência do meu país, Guiné-Bissau”.
Manifestando o sentimento de perda que também tomou conta do seu país, Henrique Rosa não se esqueceu do Aristides que conheceu ainda menino, em Bafatá, "muito amigo" dos seus pais. "Depois segui o percurso dele na luta. Tenho o hábito de dizer aos meus amigos, quando falamos dos homens que fizeram a epopeia da luta, que ele era o rosto tranquilo da luta de libertação e como tal guardo essa recordação”, conta o ex-Presidente guineense.
E em nome daquilo que Aristides fez pela independência da Guiné-Bissau, Henrique Rosa não poderia deixar de vir a Cabo Verde expressar à família e aos cabo-verdianos o seu pesar pela morte deste "homem sempre muito discreto, sábio, sempre com palavras muito bondosas e de um ensinamento muito profundo". "Ele também era um dos pais da independência de África e é uma homenagem muito sentida que lhe presto”, expressa, emocionado.
Emoção na Assembleia
Henrique Rosa foi umas das personalidades que estiveram na tarde na Assembleia Nacional, onde o corpo de Aristides Pereira está em câmara ardente, para curvar-se num adeus sentido ao filho maior deste arquipélago.
Por diversos momentos, a emoção tomou conta da sala, sobretudo quando um grupo de crianças chega e dirige-se à família e às demais entidades presentes. Com elas vem a presidente do ICCA (Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente), Marilene Baessa que, à saída e ainda com voz embargada de emoção, realça que a presença dos mais novos faz todo o sentido nesta hora de recordar o homem e a sua obra.
“O Presidente Aristides Pereira defendeu a célebre frase de que as crianças são as flores da revolução e a razão da nossa existência. O ICCA, instituição criada enquanto ele era Presidente da República, em 1982, jamais poderia deixar de prestar esta última homenagem com algumas crianças acolhidas nos centros da cidade da Praia, em representação de todo o país, e para fazer um agradecimento especial por tudo o que fez pelas crianças cabo-verdianas”, pontua a presidente do ICCA.
Programa das Cerimónias de Estado
A partir das 15h30 desta terça começam a chegar as entidades nacionais e estrangeiras à Assembleia Nacional para às 16 horas o Estado prestar a última homenagem a Aristides.
A cerimónia começa com o Hino Nacional, tocado pela Banda Militar. Segue-se a leitura da biografia de Aristides Pereira, pelo Major António Jorge Rocha. Depois haverá uma oração fúnebre pronunciada pelo comandante de Brigada, ex-Presidente da República e o mais "próximo companheiro" de Aristides Pereira, Pedro Pires.
Por último, o actual Chefe de Estado, Jorge Carlos Fonseca, profere uma mensagem de luto em nome de toda a nação e a Banda militar volta a tocar o Hino Nacional para encerrar o acto fúnebre de Estado.
As portas encerram às 22 horas e o corpo segue na manhã de quarta-feira para a ilha da Boa Vista, onde se realiza o funeral, a título privado, na sua terra Natal, Fundo das Figueiras.
Sem comentários:
Enviar um comentário