Pablo Waisberg, Eric Toussaint - CADTM
Os diretores dos bancos centrais disseram que a crise estava sob controle, mas mentiam; esta crise vai durar uma ou duas décadas”, sustentou Eric Toussaint, politicólogo e presidente do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo. A predição poderia parecer temerária, mas há um ano foi ele quem garantiu para este jornal que se vivia uma “situação explosiva” no Velho Continente e que a profundidade das mudanças econômicas estaria alinhada com a magnitude dessas explosões.
Ainda que os “indignados” tenham surgido na Espanha e na Grécia, as férias de verão atuaram como uma válvula de escape, razão pela qual “a mobilização social na Europa não alcançou o nivel de dezembro de 2001 na Argentina”, analisou Toussaint desde Genebra.
Qual é o nível de gravidade desta crise?
É altíssimo. É claro que os comentaristas, os governantes e os meios de comunicação dominantes e os diretores dos bancos centrais, que afirmaram que a situação estava sob controle, mentiam de maneira evidente. Estamos um pouco na situação dos anos 30: o craque foi em outubro de 29, mas as bancarrotas bancárias se desataram em 33, e entre 29 e 33 os dirigentes norteamericanos disseram que tudo estava sob controle. Estamos numa crise que vai durar uma ou duas décadas.
Quais são as causas?
As medidas econômicas adotadas pelos governos da Europa e dos Estados Unidos nos últimos quatro anos. A crise começou em junho/julho de 2007 e teve um pico em 2008, com o Lehman Brothers, mas o golpe forte chegou à Europa em outubro de 2008. Logo os elos mais fracos da zona euro caíram, começando pela Grécia, em seguida a Irlanda e faz uns meses Portugal. Agora está para chegar à Itália e à Espanha e volta com força aos Estados Unidos.
É uma crise sistêmica?
É sistêmica, mas não terminal. Não há crise terminal do capitalismo per se. O capitalismo sempre atravessou crises, porque fazem parte de seu metabolismo, mas seu final será o resultado da ação consciente dos povos e dos governos. Vamos passar por períodos de recessão, depressão, em seguida algum crescimento e uma nova queda.
Por que insistem com as tradicionais receitas de ajuste que não deram resultado em 2008?
Porque a resistência a essas políticas é insuficiente.
Existe a possibilidade de saída desta crise com outro tipo de políticas?
Poderia ser uma saída tipo Roosevelt, com um maior controle do crédito e medidas de disciplina financeira, para obrigar os bancos a separar-se entre bancos de investimento e de depósito. Além de uma imposição mais forte sobre os setores de maiores rendas, com a consequente melhora das finanças públicas e a redução das desigualdades. Ainda que também poderia haver uma política mais radical, como nacionalizar o setor bancário e renacionalizar setores econômicos que foram privatizados na Europa e nos Estados Unidos nos últimos trinta anos. Isso, junto com a anulação das dívidas da Grécia, de Portugal, da Irlanda, da Itália e da Espanha.
Vê a possibilidade de alguma dessas duas saídas?
Tudo depende da mobilização social, que na Europa não alcançou o nivel de dezembro de 2001 da Argentina. Sem falar dos Estados Unidos, onde não há grandes mobilizações sociais, senão que mais bem um ativismo da extrema direita com o Tea Party. Ainda que me pareça difícil pensar que nos Estados Unidos a população aceite que se aprofunde o neoliberalismo; por isso há que se ver como foi a crise de 30, na qual as mobilizações chegaram por volta de 35 e 36.
[Eric Toussaint foi entrevistado por Pablo Waisberg do Diario Buenos Aires Económico, em 16/08/2011]
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