sábado, 17 de setembro de 2011

A TRISTE NOÇÃO DE DEMOCRACIA DE RAMOS HORTA – AI TIMOR!




FERNANDO SILVA

O conceito de que democracia é simplesmente votarmos na hora das eleições e podermos criticar ou contestar os que dirigem a política dos países é minimalista, autista e manhoso. Mas é o que nos querem fazer acreditar que é isso essa coisa da democracia. Desde quando é que havendo (maior ou menor) corrupção, conluios, impunidade, tráfico de influências, falta de justiça, desemprego, fome e outros sem números de carências, um país exerce a democracia?

No entender de muitos essas carências e défices não contam para o fato de um país exercer a democracia e a sua população viver (sobreviver) em democracia. O povo tem fome… mas o governo, o país é democrata. O povo manifesta-se contra as injustiças, os políticos eleitos pouco ou nada fazem para corrigir o que é justo e reinvindicado… mas alegam que o país, o povo, vivem em democracia. Teoria manhosa, já se vê. Evidentemente que com estes défices não há democracia que resista. Não é democracia quando vimos que os que vivem abusando dos poderes o fazem luxuosamente, impunemente, comodamente, abastadamente, exuberantemente e fiquem indiferentes ou não ajam para corrigir rapidamente as carências dos seus vizinhos e compatriotas na miséria. Nem políticos ou governos que permitam essas situações de injustiça têm o direito de pretenderem que a situação no país é de democracia. Quando muito é um embrião da democracia, um arremedo, e nada mais que isso. Algo com o objetivo de iludir os povos e permitir às elites políticas e outras apoderarem-se do que a todos daquele país pertence, tornando os roubos, os saques legais à luz de legislação que eles próprios fabricam repleta de “alçapões de fuga” que lhes proporciona a impunidade. É assim que os ditos democratas nos poderes se comportam em associação claramente mafiosa e afirmam a pés juntos que se vive em democracia. Eles talvez, a maioria do povo não. É assim que também José Ramos Horta, presidente de Timor-Leste, nos quer fazer acreditar que preside a uma república democrática. Nada mais falso e manhoso.

Ramos Horta já não merece o benefício da dúvida acerca de como pretende mascarar a miserável realidade timorense, nem tem direito a que o ilibem das responsabilidades que tem relativamente à situação. Afirmando-se um bom cristão mais não faz que se comportar como um hipócrita. Horta poderá ludibriar ainda muitos timorenses mas não aqueles que no país ou na diáspora, até estrangeiros que acompanham solidariamente a política de Timor-Leste, vêm fazendo um balanço deste seu mandato presidencial que termina em menos de um ano. Ramos Horta tem sido elemento de parelhas do governo e de outras elites, eclesiásticas inclusive, que têm depauperado de vários modos interesses públicos. Ramos Horta mostra que prefere dar ares de bom samaritano fazendo “caridadezinhas” em vez de se bater com denodo pela justiça social. Pela justiça que deve ser implícita à democracia. Qual Bokassa ditador, Ramos Horta tem decidido indiscriminada e ditatorialmente – apesar de constitucionalmente ter esses poderes – e tem feito da justiça “gato-sapato”, tem espezinhado literalmente um dos bens maiores da democracia: a aplicação da justiça para aqueles que assassinam, que roubam, que se comportam com gravidade contra o constante na lei fundamental, praticando crimes. Crimes que ele amnistia, que ele indulta, que ele demonstra estar em conluio. Não é um, nem dois, nem três, é às dúzias!

Indiferente a espezinhar a justiça, a própria Constituição, o Estado de Direito e o povo, o mesmo faz relativamente ao social. Poderá não parecer aos menos atentos mas o certo é que neste mandato para que foi eleito não se viu, da parte de Ramos Horta, que pugnasse de fato por melhores condições sociais para os timorenses – excetuando as ações de “folclore” que lhe são conhecidas. Ramos Horta foi um bom cristão e bom político na erradicação da fome em Timor-Leste? Não. Ramos Horta alguma vez questionou as razões por que alguns timorenses afetos ao governo, às forças armadas, à polícia, a cargos de elite político partidários exibem sinais exteriores de riqueza muitíssimo superiores ao correspondente aos seus vencimentos? Não. Ramos Horta alguma vez se conteve nas despesas de exuberantes cerimónias no “seu palácio”, ou em gastos desnecessários em iniciativas que ele “inventa” e que mais não são que as herdadas ações psico-sociais dos que colonizaram e ocuparam o país? Não. Ramos Horta nunca se conteve nos gastos desnecessários dessas “ninharias”. Afinal, talvez em menor escala, faz o mesmo que os outros. A mania das grandezas prevalece ainda mais em quem passou do oito para o oitenta. É aquilo que ele demonstra.

Demonstra-o principalmente quando percebemos quanto extensa é a sua hipocrisia. Ainda agora, em declarações do recém comemorado Dia Internacional da Democracia, Horta mostrou-se no seu melhor “ar” de crente democrata, lembrando, como nos informou a Lusa, “todos aqueles que não a podem celebrar porque não a têm.”

 A propósito, foi a Lusa que inseriu na notícia da mensagem do PR com o título PR Ramos-Horta lembra no Dia Internacional da Democracia pessoas que não a têm: "Neste dia em que os timorenses celebram a Democracia (...) haverá todavia algumas pessoas que não poderão celebrar a democracia porque, à semelhança dos nossos antepassados, não têm democracia", afirma o chefe de Estado timorense, na mensagem divulgada pela Presidência do país.

Na mensagem, José Ramos-Horta exorta os timorenses a lembrarem-se daquelas pessoas e a valorizarem a democracia que agora têm.

O dia 15 de setembro foi declarado Dia Internacional da Democracia pela Assembleia Geral das Nações Unidas.”

E ainda: "A democracia em Timor-Leste significa que todos os cidadãos do nosso país têm oportunidade de participar pacificamente na maneira como o país é governado", refere José Ramos-Horta."

Acreditemos que é mesmo muito legítimo perguntar a este PR de uma imensa maioria de pés-descalços, esfarrapados, excluídos, desempregados, doentes, esfomeados - cerca de 70 por cento da população - se com aquela tão larga percentagem de vítimas timorenses de injustiça social, entre outras, ele considera que o país, da suposta República a que preside, é uma democracia.

Horta, na qualidade de Chefe de Estado, em vez de aproveitar aquela efeméride para pôr o dedo na ferida e se mostrar contra as injustiças a que os timorenses estão sujeitos por via de má governação, fez exatamente o contrário e usou de toda a hipocrisia possível para retirar a importância à efeméride, fazendo que ignora que a comemoração existe para reforço dos esforços no combate aos que atacam a democracia e não para direta ou indiretamente enaltecer as ações dos corruptos e antidemocratas que o ladeiam nos gabinetes e corredores do Poder. Pior para a comemoração Ramos Horta não poderia ter feito. Era dia de dizer verdades e não de pretender ludibriar os ingénuos ou menos atentos, que foi o que pretendeu fazer. Falta saber quantos é que desta vez conseguiu enganar. É que os timorenses não vivem em democracia na realidade mas sim ao sabor das vontades de uma elite política e económica timorenses sem escrúpulos que lhes extorque o que por direito lhes pertence, incluindo a dignidade e bens materiais do Estado. Se é esta a triste noção de democracia de Ramos Horta… Ai Timor!

*Revisão de António Veríssimo

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