quinta-feira, 8 de setembro de 2011

NÃO É SÓ O MPLA QUE ESTÁ NO MAU CAMINHO EM ANGOLA, A OPOSIÇÃO TAMBÉM




LEANDRO VASCONCELOS

Com origem no artigo de opinião SER RICO TAMBÉM É UM DIREITO  da autoria de JOSÉ RIBEIRO, no JORNAL DE ANGOLA, em A Palavra ao Diretor, Martinho Júnior tece considerações que devem ser salientadas. Em sete pontos no título já a seguir - A LÓGICA CAPITALISTA PARA ANGOLA É ABSOLUTAMENTE DISPENSÁVEL!  -  Martinho “desmonta” muito daquilo que hoje está a ser epidemia em Angola e que causa revolta, atitudes desviantes e repressivas que redundam quase sempre em mais injustiças.

Pelo que é sabido Angola está em absoluta ebulição político-social. Jovens contestam a permanência de um PR que já há 32 anos que ocupa abusivamente aquele lugar sem que em consciência o admita. O próprio partido político que lhe tem dado suporte, o MPLA, tem sido conivente com a presente situação, sendo inútil que se realizem eleições que redundam suspeitosamente em grandes votações favoráveis àquele partido político. A fraude eleitoral é a palavra de ordem para acusarem o MPLA de se arrogar de vencedor eleitoral absoluto. Verdade se diga que as oposições, os outros partidos políticos em Angola, a UNITA, o Bloco Democrático – praticamente recém-formado – não oferecem garantias de possuírem capacidades para levar Angola para o bom caminho, com a devida justiça social, democracia, transparência e punição daqueles que ao longo destes anos perpetraram enormes roubos de recursos que só têm um legítimo dono: o povo angolano.

Ser rico em Angola ou noutra parte do mundo não é uma questão de pigmentação de pele mas sim de saber como foi ou foram obtidas as fortunas que são descaradamente manifestadas pela elite do MPLA-Eduardo dos Santos. Como foi possível tantos da elite enriquecerem monstruosamente? É evidente que todos nós sabemos qual a resposta certa. Os abusos deste jaez vão sempre desembocar na revolta e muitas vezes as revoltas descontroladas dos espoliados e oprimidos, a maioria, não são o melhor para o desenvolvimento e progresso realmente democrático das sociedades.

Em Angola está a acontecer o inevitável: a revolta. O MPLA encontra-se em estado de negação da realidade. Esses condimentos podem levar ao descalabro. Nos dias de hoje já há aproveitamento dos países europeus e norte-americanos que se estão a “colar” aos jovens contestatários. A CIA e similares já afiam os gumes das suas facas para repartirem entre eles as riquezas de Angola, oferecendo mais algumas migalhas aos angolanos que o MPLA oferece na atualidade e desde sempre. As potências neocolonialistas já se introduziram no comboio da indignação dos angolanos. O perigo reside exatamente aí. O MPLA é derrubado mas a justiça social irá ficar por acontecer, isto porque não são as interferências de estrangeiros que devem regular e repartir o que pertence a todos os angolanos e agora é pertença de somente alguns. São os próprios angolanos que devem gerir aquilo que lhes pertence. E quem o fará? A UNITA? O Bloco Democrático? Outros? Nenhuns ainda deram provas das suas verdadeiras capacidades de organização para gerir Angola com completo e justo usufruto para todos os angolanos. As oposições ao regime ditatorial angolano do MPLA-José Eduardo dos Santos não passam de cores, siglas ou “ídolos” com os pés de barro. Não é por acaso que o MPLA está há tantos anos no poder e a servir-se dos recursos angolanos como de uma coutada sua se trate.

Em tantos anos de contrariedade por ser sempre o mesmo partido e presidente a dirigir o país – a ficarem cada vez mais ricos – não vimos que a UNITA soubesse crescer estruturalmente e democraticamente. A UNITA muitas das vezes deixa perceber que no seu âmago comporta a “Aldeia da Barafunda”. Perguntamos se uma vez no poder não fará ainda pior que o MPLA. Com toda a legitimidade nos questionamos e questionamos a UNITA, mas a resposta é sempre igual e não nos oferece confiança relativamente às suas capacidades de sabedoria, de justiça e democráticas. O novel Bloco Democrático ainda está muito imberbe e aquilo que nos poderá oferecer será mais do mesmo, do mesmo que vimos por todo o mundo: uma democracia em que os cidadãos votam mas onde ficam sempre a governar-se as elites corruptas e corporativistas organizadas em autênticas máfias sedentas de lucros a qualquer preço. São esses que governam para seus interesses e das potências de que dependem em dirigismo e nas contrapartidas que lhes têm de ceder. Vimos na Europa, com a agitação social, o que acontece. Pedem “Democracia Real” porque se sentem ludibriados pelos partidos políticos e pelas elites que os controlam. É isso que a UNITA, o Bloco Democrático e outros propõe aos angolanos? Se é, saibamos dizer que não haverá grandes diferenças entre aqueles regimes e aquele que está vigente em Angola. Mudam as caras dos dirigentes mas os métodos injustos e exploradores são sempre os mesmos. Se há eleições só por e para isso…

Quererá isto dizer que Angola e outros países em África, na América Latina ou em outras partes do mundo, se encontram num beco sem saída? Não, isso não pode nem deve acontecer. O impasse é agora mas já é tempo de todos saberem exigir muito mais e melhores atitudes dos partidos políticos das oposições. Um condimento é imprescindível: honestidade, bom carácter dos políticos. Então os partidos de entre eles escolhem os seus líderes neste figurino. É também com essas qualidades, talvez principalmente com essas qualidades, que podemos ter uma Angola democrática e justa. Digna do esforço dos combatentes e do povo que tanto tem sido vítima de desinteligências, de ganâncias, de maus carácteres no topo das classes partidárias e dirigentes. Não é só o MPLA que está no mau caminho.

Importa sobretudo que com as nossas legítimas contestações ao poderio ditatorial e desviante do MPLA não abramos as portas a falsos defensores angolanos e a neocolonialistas mascarados de democratas ainda mais corruptos que os da atualidade e de há dezenas de anos. Como isso se fará, pacificamente, é aquilo que o povo angolano tem de descobrir. Ao regime do MPLA, a Eduardo dos Santos, compete reciclarem-se e voltarem a reler os ensinamentos dos “mais velhos” que deram forma e as vidas pela independência deste país sem conseguir imaginar que viessem a existir angolanos capazes de se desviarem tanto de uma sociedade preconizada justa. Uma sociedade realmente democrática e socialista (se assim a quiserem definir) está muito bem. Mas não aquele “socialismo democrático” que já vimos pela Europa e noutras partes do mundo e que desembocam em sociedades pautadas pela injustiça, pela corrupção e pelas mentiras. Disso estamos fartos. Mudar sim, mas para muito melhor para as pessoas. Políticos com competência e integridade é aquilo que os povos merecem e precisam. Angola não é excepção. Para onde vais Angola?

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