quarta-feira, 14 de setembro de 2011

OPOSIÇÃO ALEMÃ QUER BOICOTAR DISCURSO DO PAPA NO PARLAMENTO EM BERLIM




DEUTSCHE WELLE

Deputados dizem que não irão ao pronunciamento de Bento 16 no Parlamento alemão. Maioria da população não vê importância na visita do Papa, que acontece à sombra de escândalos envolvendo pedofilia na Igreja Católica.

Grande parte dos parlamentares da oposição anunciaram que não querem participar da sessão na qual o papa Bento 16 falará ao Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) no próximo 22 de setembro. Gesine Lötzsch, líder da bancada do partido A Esquerda, declarou que metade dos 76 deputados esquerdistas não irá comparecer ao Parlamento no dia da visita do Papa.

Entre os social-democratas, a estimativa é de que 25% dos 146 parlamentares não compareçam. Entre os verdes, acredita-se que a bancada terá um desfalque de mais de 30%, noticia a agência alemã de notícias DPA. A conservadora União Social Cristã (CSU, do alemão) qualificou a iniciativa dos parlamentares oposicionistas de "comportamento intolerante". As cadeiras vazias no Bundestag serão preenchidas com ex-parlamentares, que receberão convites para comparecer ao Parlamento naquele dia.

Contra a "neutralidade religiosa do Estado"

Críticos da visita do Papa afirmam que ele não poderia falar ao Parlamento alemão, pois sua presença no Bundestag vai contra a "neutralidade religiosa do Estado". Os defensores de Bento 16 revidam, afirmando que ele visita o Bundestag como chefe de Estado do Vaticano e não como líder religioso.

A social-cristã Gerda Hasselfeldt acusou os parlamentares que aderirem ao boicote de falta de respeito perante o Papa. "A Esquerda prova mais uma vez que seu meio é a luta nas ruas e não o debate através de argumentos", declarou. O porta-voz de A Esquerda, Hendrik Thalheim, ressaltou que a liberdade de opinião na Alemanha inclui também críticas à Igreja Católica no país.

Pouca importância

Nos bastidores da Igreja Católica, aumenta a preocupação com uma escalada dos protestos em torno da visita de Bento 16. "Faz parte receber um convidado como esse com a cordialidade, o respeito e a cortesia necessários", afirmou Robert Zollitsch, presidente da Conferência Alemã dos Bispos, ao jornal Passauer Neue Presse. "Lamento que os deputados se ausentem e boicotem o discurso. Todos têm o direito de criticar ou protestar, mas espero que tumultos nas ruas não predominem no país" durante a visita do Papa, salientou Zollitsch.

Enquanto parlamentares e autoridades debatem detalhes a respeito da visita do Sumo Pontífice ao país, uma enquete,, publicada pela revista Stern, aponta que a maioria (86%) dos alemães não acredita que a presença de Bento 16 no país tenha qualquer importância. Apenas 14% dos entrevistados veem algum sentido na visita. Nem mesmo entre os católicos a visita é tida como importante – entre estes, 63% não veem, do ponto de vista pessoal, nenhuma relevância na presença de Bento 16 na Alemanha.

"Crimes contra a humanidade"

Os preparativos para a visita do Papa à Alemanha acontecem à sombra dos escândalos envolvendo pedofilia nos bastidores da Igreja Católica. Vítimas de abuso sexual entraram na última terça-feira (13/09) com uma ação contra Bento 16 no Tribunal Penal Internacional de Haia, sob acusação de crime contra a humanidade.

A organização norte-americana de vítimas de abuso SNAP, afirmou que o Papa e três outros membros do alto escalão da Igreja Católica deverão responder pela "responsabilidade direta por crimes cometidos contra a humanidade através de estupros e de violência sexual em todo o mundo".  A SNAP e advogados da organização Centro dos Direitos Constitucionais (CCR, do inglês) impetraram uma ação contra o Papa em Haia.

"Todos os caminhos levam a Roma"

"Os crimes cometidos contra dezenas de milhares de vítimas, em sua maioria crianças, foram acobertados pelas autoridades máximas do Vaticano", declarou Pamela Spees, advogada da CCR. "Nesse caso, todos os caminhos levam a Roma", disse Spees, lembrando que o Papa e três outros altos representantes do Vaticano são duplamente culpados: tanto por serem os superiores dos religiosos que abusaram dos menores, quanto por terem "diretamente" encoberto a situação. "Eles deveriam ser levados a tribunal como qualquer outro responsável por crimes contra a humanidade", concluiu Spees.

De acordo com informações fornecidas pela SNAP, várias vítimas de abuso provenientes da Bélgica, Alemanha, Holanda e EUA viajaram a Haia para apoiar a ação judicial. Do processo constam milhares de documentos, que deverão embasar as acusações.

SV/dpa/afp/epd - Revisão: Roselaine Wandscheer

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