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Rio de Janeiro, 05 set (Lusa) -- Os escritores angolanos Pepetela e Ondjaki manifestaram hoje, no Brasil, a sua preocupação relativamente à situação em Luanda, após o protesto pacífico que terminou em repressão policial no sábado.
Para Pepetela, que se encontra no Rio de Janeiro para participar da 15ª Bienal do Livro, qualquer repressão violenta a uma manifestação com motivos políticos é "condenável e anticonstitucional".
O autor, no entanto, foi cauteloso na sua análise ao dizer que a única informação a que tivera acesso -- via internet, num site de um jornal português -- não era muito esclarecedora.
"É um pouco difícil eu ter uma opinião só tendo lido uma notícia 'de um lado'. Resta saber qual foi o grau exato dessa repressão e qual a explicação que a polícia dará para o fato", acrescentou. Segundo o escritor, o artigo que tinha lido mencionava apenas alguns feridos "ligeiros".
A dificuldade em se saber o que de facto aconteceu foi destacada também por Ondjaki, quem participou hoje, ao lado de Pepetela, num colóquio sobre a literatura africana na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Estou a acompanhar o tema pela impressa, e estou muito preocupado, mas prefiro não opinar por não estar a ver de perto o que ocorre. Quando estou em Angola faço comentários sobre política, mas quando estou fora não, porque é muito difícil saber o que de facto está a passar-se", afirmou à Lusa o escritor angolano Ondjaki.
O escritor, que vive há três anos no Brasil mas frequentemente viaja para Angola, disse estar a acompanhar as notícias também por meios "alternativos" como o twitter dos jovens manifestantes, e destacou o desfasamento na informação entre o número de feridos mencionado pelo governo e o referido pelos manifestantes.
Já Pepetela lembrou que manifestações parecidas ocorreram noutras alturas e descartou a possibilidade de haver uma influência maior vinda dos protestos do Norte da África e dos países árabes.
"Pode ter uma certa influência de ideias, sim, mas já há alguns anos atrás havia manifestações em Angola, não é propriamente uma novidade. Agora, o problema é que o motivo da manifestação é um motivo político e se realmente a intervenção policial foi assumidamente de repressão é uma coisa, se foi para evitar ou responder a qualquer coisa, é outra situação, mas essas notícias eu não tenho", ponderou.
O escritor angolano disse ainda acreditar no "bom senso" da população angolana e descartou a possibilidade de que novos episódios de repressão violenta levem a que a situação em Angola se torne parecida com a vivida em alguns nações árabes, por exemplo.
"Creio que a população angolana neste momento não aceita qualquer forma de violência, já houve violência demais naquele país, já chega. De um lado e de outro, haverá contenção, haverá bom senso", declarou o escritor, ao observar que "muita gente" gostaria de ver a situação fugir ao controle.
"Há muita gente que desejaria que isso acontecesse, desejaria para aproveitar e bombardear logo, para aproveitar o petróleo também, como está a acontecer em outros lugares, mas não vai acontecer", defendeu.
No último sábado, cerca de cem jovens reuniram-se no Largo da Independência, em Luanda, para um protesto pacífico com o objetivo de exigir a destituição do presidente José Eduardo dos Santos.
Após a alegada prisão de um dos manifestantes, os jovens decidiram iniciar uma marcha até ao Palácio Presidencial, momento em que a polícia terá decidido intervir.
A manifestação terminou com várias pessoas feridas, outras detidas e alguns jornalistas agredidos.
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