domingo, 11 de setembro de 2011

PORTUGAL ISLÂMICO: UMA COMUNIDADE SEM SOBRESSALTOS


foto Diana Quintela/Global Imagens

Augusto Freitas de Sousa – Jornal de Notícias

As designações associadas a Antes e Depois de Cristo (AC/DC) marcaram a história, mas até agora ninguém definiu o equivalente para o ataque às Torres Gémeas em Nova Iorque há dez anos atrás. Mas já não há dúvidas: o mundo está diferente e Portugal não lhe passa ao lado.

Raff naquele dia não foi à Mesquita. Acabou o jejum sozinho, em casa, após um dia de trabalho como os outros. Não houve festa nem roupa nova, apenas a primeira oração da manhã.

Terça-feira, dia 30 de Agosto, foi um dia igual ao anterior, num restaurante da baixa lisboeta a servir os clientes, a quem não esconde que é muçulmano, mas onde adopta uma postura "ocidentalizada" porque "é assim que se sente bem". Quase não pratica o culto e considera-se o muçulmano mais português que existe.

Raff foi um dos muitos muçulmanos que assistiu ao 11 de Setembro de 2001 pela televisão e que faz parte da comuidade portugesa, com 40 a 50 mil muçulmanos. A poucos dias da data em que se assinala uma década sobre a destruição das Torres Gémeas em Nova Iorque, o sentimento entre os muçulmanos portugueses é comum: há um antes e um depois. Anteriormente, raramente os portugueses abordavam questões ligadas ao Islão ou aos islâmicos, hoje olham sobretudo para roupa ou para a barba de uma forma diferente. É inevitável, diz Yiossuf Admangy, editor da única revista islâmica - "Al Furqan" - em Portugal.

Todavia, salvo raras excepções, como a detenção de um radical islâmico no Porto em 2007, a comunidade islâmica em Portugal raramente aparece nas páginas dos jornais. Mas relativamente à imprensa paira no ar um sentimento de desconfiança, sobretudo de quem não está habituado a falar com jornalistas ou quem apenas vai espreitando as notícias no mundo que ligam o Islão ao terrorismo.

Dia de festa

Na Mesquita Central de Lisboa, o paquistanês Aarif transpirava alegria e não conseguia esconder algum alívio no primeiro dia a seguir ao jejum do Ramadão. O cigarro descontraído no canto da boca marcava o regresso à normalidade. Foram 30 dias sem comer, beber e fumar durante o dia, mas o hábito de um costume que pratica há mais de 15 anos já não lhe traz novidades.

Perto da Praça de Espanha, às 7.30 horas da manhã, poucos lisboetas se aperceberam das centenas de muçulmanos que encheram a Mesquita Central de Lisboa para celebrar o "Id ul Fitr", a festa que marca o fim do mês do Ramadão, do jejum que serve, segundo os crentes do Islão, "para recarregar as baterias espirituais".

Das cores berrantes dos guineenses ao azul claro, mais discreto, dos homens do Magreb, a mesquita encheu-se para ouvir o imã Sheikh David Munir na primeira oração da manhã. Um dos membros da comunidade mais conhecidos dentro e fora de portas.

Cá fora chegavam, apressados, os últimos, a correr a descalçar-se, junto a um amontoado de centenas de sapatos no pátio da mesquita, que pronunciavam uma sala completamente cheia.

A maior parte, eram portugueses dos países lusófonos, sobretudo de Moçambique e da Guiné-Bissau. Uma imagem que retrata a comunidade muçulmana portuguesa: a maior parte oriunda daqueles países de África, alguns de Angola e minorias vindas da Índia, Paquistão, Bangladesh e de alguns países do Magreb como o Senegal ou Marrocos.

Sem polémicas

As mulheres em trajes de festa, maquilhadas, com os cabelos arranjados, assistiam às orações numa sala própria, enquanto os homens, também com roupa festiva, na sala maior, ouviam atentamente as palavras do imã. Uma separação que acontece dentro das mesquitas e não tanto nas famílias. Em Portugal, a maior parte das mulheres trabalha, estuda e nem todas usam o tradicional véu - Hijab -, que tanta polémica tem levantado em países como a França, Bélgica ou a Espanha.

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