sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Brasil: Indígenas do Pará sequer sabiam o que era usina hidrelétrica, conta antropóloga


Índio observa grupo ocupando canteiro de obras da usina de Belo Monte (Foto: Ivan Canabrava/Illuminati Filmes/Xingu Vivo)


Atingidos por barragens de Belo Monte não teriam sido suficientemente informados sobre os impactos da obra, segundo críticos reunidos em seminário em Altamira

São Paulo – Parte dos índios possivelmente atingidos pela instalação da usina de Belo Monte não sabia sequer o que é uma usina hidrelétrica, afirmou Cibele Cohn, integrante da Comissão de Assuntos Indígenas da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). A pesquisadora do povo Xikrin do Rio Bacará – afluente do Rio Xingu, onde o empreendimento será construído – sustenta que os indígenas não conseguem expor sua opinião aos órgãos públicos responsáveis nem se defender do impacto por não terem sido informados adequadamente.

“Até este ano, os Xikrin nunca tinham visto a foto de uma barragem”, disse Cibele, ao relatar uma reunião organizada pelos líderes nas aldeias. “Em uma cena muito marcante, quando um dos velhos viu um paredão de uma barragem semelhante ao que será construído, ele disse: é muito pior do que eu estava esperando”, narrou a antropóloga. A Fundação Nacional do Índio (Funai), por outro lado, informa que promoveu 38 reuniões e quatro audiências públicas nas aldeias.

A jovem Njrenhdjãm Xikrín, da aldeia Pykajakà, em seminário sobre impacto de hidrelétricas realizado esta semana em Altamira, a 800 quilômetros de Belém, discordou do que sustenta a Funai: “Vim (ao seminário) para aprender mais sobre a usina, apreender para questionar, para assim poder informar nosso povo e correr atrás dos nossos direitos”.

As considerações dos pesquisadores foram feitas no 35º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). A professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Sônia Magalhães, que desde 2007 estuda as comunidades afetadas, alerta que impactos ambientais não constam dos estudos. “Por meio de modelos matemáticos e de engenharia, o consórcio (responsável pela obra) diz que o rio Xingu não corre o risco de secar. Não é o que os índios pensam. Pela sua experiência, os velhos estão seguros do contrário e não há modelo matemático que os convença do contrário”, disse.

Desde a madrugada desta quinta-feira (27), cerca de 600 pessoas, entre indígenas, ribeirinhos e pescadores, ocupam o canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte. Além do canteiro, os manifestantes também interditaram trecho da rodovia Transamazônica na região de Altamira. Acampados, líderes de comunidades ameaçadas pelos impactos sociais e ambientais da usina pedem a paralisação e o fim da obra.

Segundo Eden Magalhães, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que está no local, os manifestantes ocuparam de maneira pacífica e o consórcio responsável pela obra retirou máquinas e materiais, deixando o espaço vazio. Eles aguardam que o governo abra diálogo para tratar do tema.

Com informações da Agência Brasil

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