MARTINHO JÚNIOR
EXPLORANDO O ÊXITO (segunda parte) - Ver primeira parte
II - Angola é em África um dos países-alvo potenciais dos mais apetecíveis para este tipo de expedientes e os factores de desestabilização podem surgir por vezes de onde os mais cautelosos menos esperam.
Angola está a expulsar, numa tentativa de prevenção e persuasão, alguns estrangeiros, (“Expulsos de Angola suspeitos de crimes” – Jornal de Angola – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/expulsos_de_angola_suspeitos_de_crimes).
O recentemente inaugurado portal do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), detalha a Ordem de Expulsão do Ministro do Interior (Comunicado – http://www.sme.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=321%3Acomunicado-servico-de-migracao-e-estrangeiro&catid=53%3Adestaques&Itemid=144&lang=pt).
Para o “site” da Voz da América não há margem para dúvidas (“Angola expulsa libanês acusado de financiar terrorismo” – http://www.voanews.com/portuguese/news/09_27_11_Angola_terrorism-130627738.htm):
“O governo angolano decidiu expulsar do país o cidadão libanês Ali Tajideen acusado de envolvimento no financiamento de actividades terroristas.
Tajideen é suspeito de estar envolvido no branqueamento de capitais e de financiar o terrorismo através de uma das maiores redes de distribuição alimentar em Angola a Arosfram de que é proprietário.
As suspeitas de envolvimento do cidadão libanês foram levantadas há pouco mais de um ano pelo departamento da justiça americano desencadeando uma investigação interna que culminou com a expulsão administrativa do país segundo afirmou, Freitas Neto, o director do serviço de migração e estrangeiros.
Freitas Neto acrescentou que Angola não recebeu nenhum pedido de detenção ou extradição de Ali Tajideen adiantando que a sua expulsão vai acontecer logo que seja detido”.
É evidente que estão a ser expulsos elementos indexados pelos serviços de inteligência norte americanos, aqueles que são considerados “nocivos”, mas tendo em conta o caso da Líbia, considerando o papel sincronizado dos expedientes operativos envolvendo o AFRICOM e a OTAN, será que os Estados Unidos não estarão a silenciar em relação a outros, de seu interesse e conveniência, de forma a que eles permaneçam?
Elementos sobre esta questão são todavia mesmo do domínio público, pois interessa fazer incubar, desenvolver e permanecer as mensagens e os mensageiros da OTAN, a coberto das relações bilaterais Portugal – Angola, tanto nas componentes militares, como dos serviços de inteligência!
No artigo “Portugal no contexto dos interesses dos EUA e da Europa, em relação a África” (http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=599), o Coronel das Forças Armadas Portuguesas, Luís Eduardo Marquês Saraiva, explica uma das vantagens de Portugal pertencer à OTAN.
Eis um excerto da introdução a esse trabalho:
“Após a II Guerra Mundial o tempo dos Impérios Coloniais tinha acabado. Em África, os povos saíam do domínio colonial e criavam novos Estados dentro das fronteiras traçadas pelos poderes imperiais. Portugal, no entanto, só com a Revolução de Abril de 1974 assumiu a sua responsabilidade de facultar a autodeterminação dos povos que integravam o seu Império.
Confrontado com novos paradigmas, o País reencontrou-se com a NATO e voltou-se de novo para a Europa, de que tinha estado arredado.
Mas África não a pôde Portugal abandonar, após tantos Séculos de presença.
O país permanece claramente ligado àquele continente e, por seu lado, os países africanos de expressão portuguesa continuam ligados a Portugal, pela língua, pela História, pela cultura e mesmo pelo sangue.
Este conjunto de laços é uma vantagem para Portugal e poderá sê-lo também para a União Europeia (UE) e para a própria NATO. É vantagem para Portugal, pois este é um país facilitador da penetração em África da Europa e da NATO, e portanto dos países seus constituintes, incluindo os Estados Unidos, pois Portugal não é hostilizado pelos novos países africanos saídos do Império Português.
É também vantagem para a UE, pois a forma portuguesa, velha de séculos, de estar em África, especialmente nos países lusófonos, constitui um acervo de saber que pode proporcionar vantagem a todos os Estados-membros com interesses em África, podendo essa maneira portuguesa ser estudada, adaptada e adoptada com vantagens por aqueles países que realmente querem dar algo aos países africanos.
Finalmente, será também vantajosa para a NATO, sempre em busca de uma nova entidade, gesta revelada desde a Cimeira de Washington de Abril de 1999, onde pela primeira vez se alterou verdadeiramente a natureza da Aliança, e que poderá encontrar no Continente Africano e no Oceano Atlântico que o bordeja as razões para a continuação da sua existência e da extensão das suas capacidades.
São conhecidas as dificuldades dos EUA para se aproximar de África.
Nem com a administração Obama e a ligação de sangue do Presidente foi possível encontrar num qualquer país africano um local para os EUA instalarem o seu Comando Africano (AFRICOM), que permanece até agora em Estugarda, na Alemanha, junto do Comando da Europa.
No entanto, nunca os EUA tiveram colónias em África, como os europeus. Antes pelo contrário criaram, apoiaram e ajudaram à libertação colonial de muitos Estados africanos.
São também conhecidas dificuldades das potências europeias, países-membros da UE, em se relacionarem com ex-colónias, como a crise entre o Reino Unido e o Zimbabué, e como comummente se verifica também pela hostilização de ex-colónias francesas, belgas, italianas para com os seus ex-colonizadores.
Mas essas vantagens que Portugal possui não serão cada vez mais uma utopia, ou simplesmente um resquício daquilo que foi a maneira que os portugueses encontraram de estar no Mundo?
Não estará já o momento português definitivamente acabado e esquecido?
Talvez não.
As pertenças à NATO e, muito especialmente, à UE constituirão grandes atractivos que os países africanos vêem em Portugal.
Para além das ligações evidentes que sentem pelo País, com o qual encontram subtis afinidades, e não só as mais comummente apresentadas, existe também esta lógica que os atrai: Portugal é um país amigo dos africanos e que tem a vantagem de os aproximar da Europa e da maior Aliança militar de sempre”.
Para que Angola precisa de alianças bilaterais com Portugal, orientadas de acordo com este tipo de filosofias cujas referências se perdem no colonialismo, se não hesita em expulsar os “terroristas” indexados pelos serviços de inteligência ocidentais?
Será preciso ir mais longe do que isso?
Se não são essas as verdadeiras razões, então quais as são?
(Constituido por 3 partes - continua)
Relacionado: PRIMEIRA PARTE
2 comentários:
AGRADEÇO AS CORRECÇÕES QUE FOREM FEITAS AO TEXTO QUE POR QUALQUER RAZÃO TERÁ SIDO ADULTERADO
Martinho Júnior.
Luanda.
A esta data o texto está conforme.
Os meus agradecimentos à nossa equipa do Página Global.
Martinho Júnior.
Luanda.
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