JOSÉ INÁCIO WERNECK, Bristol – DIRETO DA REDAÇÃO
Bristol (EUA) – Quanto mais os cientistas garantem que a Terra entrou em processo de aquecimento e quanto mais suas afirmativas são corroboradas por notícias de desequilíbrio climático em diversos pontos do planeta, tanto menos o presidente Barack Obama fala sobre o assunto.
Tal atitude não seria surpreendente da parte de um dos candidatos às primárias republicanas para a próxima eleição presidencial. Com exceção de Jon Huntsman Jr., os candidatos concordam com a declaração do governador Rick Perry, do Texas, de que “ainda há dúvidas sobre a ciência”.
São dúvidas que só parecem ocorrer a políticos financiados pela indústria de combustíveis fósseis, não por cientistas. Falo, claro, de cientistas verdadeiros, que não estão a soldo de empresas de exploração de petróleo ou de carvão.
Quando candidato, Barack Obama prometeu que os Estados Unidos liderariam o mundo no combate ao aquecimento global. Ele de fato parecia animado a princípio e conseguiu a aprovação de um projeto de “cap and trade” na Câmara de Deputados, em 2009, “Cap and trade” consiste em estabelecer um teto à produção de gases do efeito estufa e permitir às empresas que conseguem ficar abaixo vender sua “cota” às que precisam se colocar acima.
Mas, através do “filibuster”, os republicanos bloquearam o projeto no Senado e, como tem acontecido com outros aspectos de sua administração, Barack Obama logo se deu por vencido ou ao menos conformado. A idéia está morta ou, na hipótese mais favorável, em hibernação. (Palavra bastante irônica, no caso.)
O que se vê agora é que, em vez de liderar, os Estados Unidos estão a reboque de outros países no assunto, como os da União Européia, a Austrália, a China, a Índia e o Brasil. No momento a administração Barack Obama chegou ao cúmulo de interceder para que companhias aéreas dos Estados Unidos fiquem isentas de pagar uma taxa de emissão de CO2 (dióxido de carbono) pelas empresas cujos aviões decolem ou aterrissem na Europa.
Barack Obama está também prestes a autorizar a construção de um duto para o transporte de óleo de xisto do Canadá, que atravessaria os Estados Unidos de norte a sul.
Pior, os Estados Unidos estão se preparando, junto com a Rússia, para explorar ao máximo as rotas marítimas que se abrirão no Oceano Ártico, graças ao aquecimento global.
O mundo já vem enfrentando inundações catastróficas ou secas destruidoras que, dizem os cientistas, são os primeiros sinais de que o clima entrou em descompasso.
Os americanos e os russos estão porém mais interessados em lucrar com o degelo da calota polar. É sem dúvida uma forma de aquecer a economia dos dois países (novamente com inevitável ironia.)
E que tudo mais vá pro inferno.
P.S.. – Os extremistas de direita Rush Limbaugh e William Kristol tentam desmerecer o movimento “Ocuppy Wall Street” com a acusação de que é anti-semita. Hitler não poderia fazer melhor. Dizer que o 1% de financistas desonestos, banqueiros gananciosos e outros privilegiados são judeus e criticá-los é anti-semitismo vem a ser a maneira mais rápida e certeira de apontar os judeus à execração pública.
*É jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut.
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