sexta-feira, 11 de novembro de 2011

20 ANOS APÓS O MASSACRE DE SANTA CRUZ, EM DÍLI, TIMOR-LESTE…




ANTÓNIO VERÍSSIMO

HOMENAGEM AOS QUE CAÍRAM E QUE SÃO A GÉNESE ANÓNIMA DA PÁTRIA TIMORENSE

12 de Novembro de 1991. Já lá vão 20 anos. Como o tempo passa depressa. E como a impunidade é oferta de uns quantos aos assassinos de massacres por esse mundo. Quantos milhões já pereceram em África, na América Latina e na Ásia, sem que castigo algum tenha recaído sobre centenas desses criminosos? E na Europa aconteceu e acontece também. Muitos que foram fieis apoiantes e assassinos ao serviço do nazismo hitleriano sobreviveram e até gozaram de vidas repimpadas e impunes noutros países, incluindo na dita democracia norte-americana, que teve o cuidado de tomar para si cérebros criminosos protegendo-os.

O mesmo se passa com os assassinos do exército e da polícia indonésia que ocupava Timor-Leste há 20 anos. Foram assassinados centenas de timorenses no cemitério de Santa Cruz mas desses nem um foi incriminado, vivendo atualmente na impunidade a coberto do governo indonésio, dito democrático, com a concordância dos dirigentes timorenses.

A essas centenas é dia de lhes prestarmos homenagem. Revoltados pela falta de justiça com que encaram aquele enorme massacre mas testemunhando que as suas terríveis mortes não aconteceram em vão e que a sua Pátria é finalmente livre e independente. Antes e depois deles, daquelas vítimas de Santa Cruz, muitos outros timorenses viram suas vidas devoradas pelo carrasco Suharto e seus algozes militares, policiais e civis, incluindo timorenses traidores que se aliaram ao ditador assassino. A soma atinge quase 300 mil, imensa maioria desaparecida. Uns sufocados em enormes valas comuns que estão por localizar, outros lançados ao mar ao largo da ilha de Timor para repasto dos tubarões e de outros habitantes daquelas águas cálidas.

Foram quase 300 mil timorenses que pereceram numa luta incessante pela independência, pela liberdade, pela democracia e pela justiça… Justiça que tarda em ser efetiva no país. Restam alguns assassinos no novo país mas abundam os ladrões, os vis corruptores e os corruptos. Muitos deles instalados nos poderes que traçam os destinos de Timor-Leste. Falha ainda a justiça e muitas outras disciplinas da democracia e da liberdade. Há, ainda, nos dias de hoje, muitos timorenses que padecem de fome, de inexistência de cuidados de saúde, de imensas carências que já não se justificam após 10 anos de independência. Há estrangeiros oportunistas que sugam o que pertence aos timorenses mascarando-se de amigos solidários, de humanistas, etc. Mas há também os estrangeiros que se sentem timorenses, que quase veneram o país e o povo simples, e esses estão e sempre estarão solidários com os mais carenciados, com os timorenses injustiçados. Talvez essa seja a melhor homenagem a prestar aos heróis ainda vivos e às centenas de milhares que foram assassinados, incluindo os do Massacre de Santa Cruz em 12 de Novembro de 1991.

Em memória daqueles que lutaram e pereceram em defesa da Pátria timorense compete aos que escaparam nesses tempos e aos jovens de hoje lutar pela justiça que falha. Será a homenagem que merecem as vítimas de tantos massacres naquele pequeno país.

Vivam os timorenses! Viva Timor-Leste!

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor

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