quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ACORDAMOS OU NÃO?



PONTO FINAL

Antónia Espadinha apela ao Governo da RAEM para “dizer o que quer” em relação ao Acordo Ortográfico. Em Macau, só o Instituto Português do Oriente e a Escola Portuguesa leccionam com a nova norma.

Pouco ou nada partidária do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Antónia Espadinha já se habituou à nova norma acordada entre os oitos Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Como se costuma dizer, não há volta a dar. Temos de aceitar o acordo tal qual foi aprovado e como está a ser implementado nos outros países. O que é, enfim, um erro ou um pouco louco é pensar que cada um fala como escreve.”

À margem do último dia do seminário “A Língua Portuguesa no contexto do diálogo entre a China e o mundo”, a directora interina do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau (UMAC) disse ainda que, no território, a introdução do Acordo mantém-se em stand-by porque o Executivo “se calhar não foi alertado para isso”.

“O Governo da RAEM não tem portugueses. E, portanto, toda a gente tem estado à espera que alguém dê um passo. Isso já foi dito de diversas maneiras. Aliás, no ano passado, creio que foi em Fevereiro, houve uma reunião do Instituto Politécnico cuja finalidade era falar sobre a implementação.”

Apelando a todos os falantes da língua para que se empenhem “nesta luta”, a docente de Português espera, pelo menos, que “o Governo diga o que quer” sobre a norma já implementada em Portugal. “Nós não podemos fazer mais do que chamar a atenção. Eu, por exemplo, não tenho a capacidade de escrever para o Chefe do Executivo a pedir algo. Teria o reitor da Universidade ou, penso eu, o presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Já tentei alertar o primeiro, mas acho que não percebeu. Mas o responsável máximo do IPM é uma pessoa que fala bem português e, se calhar, pode fazer isso.”

Neste momento, só a Escola Portuguesa e o Instituto Português do Oriente leccionam com o Acordo Ortográfico. Quanto às restantes instituições de ensino, como as escolas luso-chinesas, a UMAC ou o Politécnico, mantêm a grafia antiga.

“Nós temos de seguir aquilo que está consignado em Macau. Temos a responsabilidade de formar alunos, muitos dos quais vão trabalhar para o Governo. Seja em que funções for. Portanto, devem estar de acordo com a norma de Macau. Não é nada que faça o mundo girar ao contrário ou que o faça cair. Agora, [a introdução do Acordo] é uma coisa importante para quem trabalha com a língua”, refere.

Porquê? Antónia Espadinha explica: “Neste momento, estamos a ensinar uma coisa aos alunos e, amanhã, vamos dizer ‘olha não é assim, afinal é de outra forma’. Não pode ser”.

Recorde-se que Macau não adoptou o Acordo Ortográfico por não ser, ao contrário de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, um Estado-membro da CPLP: a organização responsável por um acordo que, na opinião da professora portuguesa, “não é total”.

“Há cedências de parte a parte e a meu ver teve-se muito mais em conta o Brasil do que Portugal. É maior, tem mais gente e eu aceito essa evolução. Agora, acho que as cedências são políticas. Até porque um acordo entre duas pessoas é difícil. Então, um acordo entre oito potências torna-se ainda mais.”

Questionada sobre a existência de novidades na escolha do novo director do Departamento de Estudos Portugueses da UMAC, Antónia Espadinha disse apenas que existem, mas não podem ser tornadas públicas. P.G.

Português, a língua dos afectos

No dia em que o auditório do Instituto Internacional de Macau (IIM) acolheu a última sessão do seminário “A Língua Portuguesa no contexto do diálogo entre a China e o mundo”, Jorge Rangel classificou o português como “a língua dos afectos”. “A grande aposta da lusofonia deve passar por aqui. Porque é a língua que une comunidades que estão espalhadas pelo mundo, une povos que têm raízes comuns e permite que possam ser criados pólos de valorização económica.” O presidente do IIM, que fez questão de referir a importância do Movimento Internacional de Culturas, Línguas e Literaturas Neolatinas – Festlatino e do Observatório da Língua Portuguesa no sucesso da iniciativa que se estendeu também ao Brasil e Portugal, sugeriu ainda que o português se torne a via por excelência para ultrapassar uma época marcada pela crise económica e financeira. Em especial, por parte de Portugal. “Tem havido maior preocupação e o reforço da cooperação. Os dois últimos executivos colocaram a língua com uma prioridade e oxalá os programas não sejam apenas intenções“, desabafou.

Sem comentários:

Mais lidas da semana