sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Bloqueio a Gaza: Navios pró-palestinianos interceptados pela Armada de Israel



RTP

Vinte e sete activistas pró-Palestina que se dirigiam à Faixa de Gaza em duas embarcações foram conduzidos pelas forças do Exército israelita ao porto de Ashdod, a norte do território palestiniano. A flotilha “Ondas de Liberdade” foi interceptada por barcos israelitas quando se dirigia à Faixa de Gaza com um carregamento de medicamentos para o território, sob bloqueio desde 2006.

A flotilha “Ondas de Liberdade”, formada por duas embarcações – o canadiano Tahrir e o irlandês Saoirse – foi interceptada por barcos israelitas a 48 milhas da costa, quando navegava rumo a Gaza para entregar um carregamento médico no território que está sob bloqueio desde 2006, no que é visto pelos grupos de Direitos Humanos como uma punição colectiva a reboque do controle do Hamas.

A flotilha, que partiu ontem de um porto turco com 27 activistas de nove países, integra jornalistas e um membro da família socialista do parlamento europeu, Paul Murphy, que resume desta forma os objectivos da missão: “É uma resposta aos apelos dos habitantes de Gaza para quebrar o cerco montado no território”.A bordo do Tahrir e do Saoirse encontravam-se activistas oriundos dos Estados Unidos, Austrália, Irlanda, Canadá, Palestina e até um cidadão árabe de Israel

Os barcos foram interceptados já depois do meio-dia (hora local) pela Armada israelita, que ordenou uma inversão de marcha, para se dirigirem às costas do Egipto ou de Israel, onde assegurariam que a carga seria inspeccionada e posteriormente entregue na Faixa de Gaza.

Telavive pede "entregas" por terra

Este tem sido aliás um argumento das autoridades israelitas para colocar fim às tentativas dos activistas que tentam furar o bloqueio montado contra Gaza: que a ajuda aos palestinianos deve ser provisionada a partir de terra, onde as mercadorias podem ser inspeccionadas. Israel procura desde 2006 escorar o argumento de que existe o perigo de a via marítima ser uma porta de entrada de armamento destinado ao Hamas.

Perante as repetidas recusas dos tripulantes do Tahrir e do Saoirse de obedecerem às ordens israelitas de parar a marcha, os militares tomaram as embarcações, para as conduzir ao porto israelita de Ashdod, a norte da Faixa de Gaza.

“A Armada israelita executou as operações como estava planeado, tomando todas as precauções necessárias para garantir a segurança dos activistas a bordo como a dos próprios militares”, indicava a meio da tarde um comunicado oficial das autoridades israelitas, garantindo que não se registaram incidentes envolvendo violência física. De acordo com as indicações israelitas, os procedimentos em terra incluem a detenção dos activistas, seguidas de interrogatórios e posterior deportação para os países de origem, logo que seja possível colocá-los a bordo de um avião.

"Denunciados os termos da ocupação israelita"

A acção da flotilha “Ondas de Liberdade” teve já as atenções ao mais alto nível da administração do Hamas na Faixa de Gaza, com o primeiro-ministro Ismail Haniyeh a louvar a tentativa dos barcos de furarem o bloqueio israelita: “Temos em grande consideração estes activistas que nos demonstram a sua solidariedade e queremos dizer-lhes que o objectivo foi atingido, quer cheguem a terra ou não, uma vez que ficam denunciados os termos da ocupação israelita. O cerco é injusto e deve acabar”, afirmou Haniyeh, após as orações de sexta-feira numa mesquita de Gaza.

Na mesma linha de análise, mas em sentido contrário, Israel sustentou que a acção da flotilha serve unicamente como provocação, não passando de uma manobra publicitária. Análise que explica os cuidados com que Telavive lidou com os activistas desta vez, um tratamento muito diferente daquele que foi aplicado aos tripulantes do Mavi Marmara, em Maio de 2010, numa operação com um balanço final de nove activistas turcos mortos.

As Nações Unidas viriam já este ano a legitimar a operação, o que não impede que a comunidade internacional olhe de lado para a atitude de então das autoridades israelitas. O caso desencadeou uma grave crise com a Turquia, que ainda hoje espera um pedido de desculpas de Telavive.

Corte de relações

Há dois meses, após as Nações Unidas terem revelado o seu relatório sobre o ataque israelita contra a flotilha Mavi Marmara, a Turquia anunciou o corte das relações diplomáticas e militares com o Estado de Israel, insistindo nesse pedido de desculpas que Telavive se nega a dar, pelo que acrescentou ao castigo uma ordem de expulsão ao embaixador israelita.

No último dia de maio do ano passado, a embarcação Mavi Marmara, com um contingente humanitário a bordo, procurava furar o bloqueio imposto pelas autoridades israelitas a Gaza desde 2006. Ainda em águas internacionais, a flotilha com ajuda humanitária foi intercetada na sua rota para a Faixa de Gaza por forças israelitas que impediriam a chegada ao porto através do uso da força.

A operação resultou na morte de dez tripulantes (nove turcos e um turco-americano), tendo Telavive justificado a ação com "agressões" violentas de que terão sido alvo os primeiros militares israelitas envolvidos no assalto à embarcação.

De acordo com a análise da ONU sobre este episódio - o Relatório Palmer - o bloqueio israelita foi uma ação legal, dando razão a Telavive quando sublinha que os militares enfrentaram "resistência organizada e violenta por parte de um grupo de passageiros". Houve no entanto críticas a Israel por ter sido usada força "excessiva e não-razoável".

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