terça-feira, 8 de novembro de 2011

CHAMA O LADRÃO!




LEILA CORDEIRO* – DIRETO DA REDAÇÃO

Depois dizem que não dá para morar no Rio por causa da violência. Porque no Rio não se pode andar nas ruas, porque no Rio os arrastões pegam todo mundo em túneis e avenidas, porque no Rio as balas perdidas atingem inocentes a toda hora. Tudo bem, ninguém discute. Mas não dá para esconder que a violência em São Paulo está igual ou pior que a carioca.

Pelo andar dos acontecimentos a terra da Garoa está fazendo jus ao nome de suas principais vias de acesso à cidade chamadas de Marginais, quando o assunto é criminalidade. A quantidade de ocorrências policiais é tanta que chega a não caber nas primeiras páginas de sites e jornais de papel. São tantos e tão diferentes os tipos de crimes que deixam qualquer um com medo de andar pelas ruas da maior metrópole da América Latina.

Em agosto último, estava eu aguardando a mala na esteira do aeroporto internacional de São Paulo, quando fui abordada por um senhor de cabeça branca que me perguntou qual tipo de relógio eu estava usando e se portava bolsa ou bagagem que chamasse a atenção com laptop dentro. Respondi que não, que não estava usando nada “de marca” como o pessoal costuma dizer no Brasil.

O tal senhor pediu-me desculpas pela abordagem, mas que, ao me reconhecer e sabendo que moro fora do Brasil, sentiu-se na obrigação de me avisar de um novo golpe na praça.

Ele contou-me que andava a pé em uma rua movimentada dos Jardins, quando um homem se aproximou, sorridente, e deu-lhe um abraço como só grandes amigos se dão. Nesse abraço, ele já sentiu o cano de uma arma em suas costas, enquanto o “amigo” sorria e lhe dizia entredentes para sorrir também e fingir que o conhecia. A cena durou menos de um minuto, e o “amigo” saiu levando carteira, relógio e a bolsa com o laptop. E ainda se despediu sorrindo e falando “aparece lá em casa”.

Esse é apenas mais um golpe entre tantos que os paulistanos e inocentes turistas têm que enfrentar no dia a dia violento e perigoso nas ruas da capital paulista. Que o diga o turista francês, agredido sem nenhuma razão na tradicional Rua Augusta.

Por volta das duas da manhã, enquanto atravessava a rua com dois amigos, saindo de um restaurante, o francês sentiu uma pancada tão forte no rosto que pensou ter batido num poste. Mas não foi nada disso. Ele foi agredido por alguém que usava um “soco inglês” que lhe deixou sangrando com uma fratura que mereceu uma cirurgia de emergência Hospital das Clínicas. O agressor desapareceu e o pobre francês acha que, pela gratuidade da agressão, deve ter sido confundido com um homossexual, o que, segundo a polícia, é perfeitamente possível, pois há muitos outros casos de agressão desse tipo, registrados na mesma área, a maioria deles praticados pelos chamados “skinheads”, sempre com motivação homofóbica.

O turista francês comentou que, antes de ir à São Paulo, passou pelo Rio de Janeiro, onde circulou por ruas de grande movimento, passou perto das favelas cariocas e áreas pobres da cidade e não teve nenhum problema. Foi tê-lo numa região paulista considerada de classe alta e com fama de ser bem policiada. Ironia do destino?

Bem, mas pra terminar a coluna, não os casos de violência que são intermináveis, li a história de um outro homem que, ao passar pela portaria do prédio onde mora, no Morumbi, foi rendido por um bando de assaltantes que realizava naquele momento um arrastão nos apartamentos. O porteiro e os moradores que passavam eram levados para um quartinho no andar térreo, como manda o figurino desse tipo de assalto, que virou rotina nas duas principais metróploes brasileiras.

Mas o interessante nessa história, é que o morador resolveu ir à delegacia de polícia dar queixa do roubo, do qual ele e os demais moradores tinham sido vítimas. Em conversa informal com os policiais que estavam de serviço, nosso personagem ouviu deles o conselho mais absurdo e bizarro que poderia imaginar:

“O senhor deveria se mudar do Morumbi, é um bairro muito perigoso e quase todos os dias tem assalto ou nas ruas ou nos prédios”.

Chama o ladrão, chama o ladrão...

*Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e CBS Telenotícias Brasil como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros de poesias publicados: "Pedaços de mim" e "De mala e vida na mão", ambos pela Editora Record. É repórter free-lancer e sócia de uma produtora de vídeos institucionais, junto com Eliakim Araujo, em Pembroke Pines, na Flórida.

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