domingo, 25 de dezembro de 2011

2011 COMEÇOU NO NORTE DA ÁFRICA




Primavera Árabe derrubou duas ditaduras em cinco semanas. Espalhou-se. Sofreu revezes. Continua viva (e inspiradora) no final do ano

OUTRAS PALAVRAS, com foto

Desde o começo do ano o Outras Palavras vem acompanhando as extraordinárias manifestações populares que chacoalharam o mundo árabe. A queda de dois regimes autoritários — na Tunísia e no Egito — em apenas cinco semanas tornou-se um marco na política internacional e colocou 2011 na história da emancipação dos povos. A revolta iniciada no norte da África ganhou os olhos do mundo e acendeu a faísca que acabou por impulsionar uma descontrolada onda de manifestações em vários pontos do planeta. Com relevante participação feminina e de grupos laicos, varreram para longe o medo diante dos repressores regimes que se perpetuavam no poder.

Porém, os países árabe enfrentam ainda grandes dificuldades na sua transição democrática. Caos político, interesses estrangeiros, corrupção endêmica, milhares de vitimas, a disputa entre militares e correntes islâmicas e as dificuldades econômicas são alguns dos sintomas deste inesperado fenômeno que abalou profundamente o cenário geopolítico da região.

Outras Palavras oferece abaixo um conjunto de análises para melhor compreender as raízes desse processo que continua em plena efervescência.

Análises Gerais

Três impasses na primavera árabe
Os revolucionários não chegaram ao poder; há conflitos entre laicos e religiosos que querem mudanças; o Ocidente nunca desiste de interferir

O que disparou a Revolução do Jasmim
As revelações do Wikileaks e a autoimolação de um vendedor deflagraram um processo molecular e incontrolável de revolta, que ainda terá muitos desdobramentos nos países árabes.

Egito

Os dias da Praça Tahrir
A “república livre” que colocou Egito de pernas para o ar — com seus personagens, corpos, vozes e acontecimentos extraordinários

A semana em que a revolução egípcia renasceu
Como os jovens da Praça Tahrir desafiaram militares, contrariaram islâmicos e venceram. Que o episódio pode sugerir aos movimentos anticapitalistas

Egito, primavera e eleições
Reportagem sobre país que vai às urnas. Em meio a domínio militar e crescimento islâmico, revolucionários buscam lugar ao sol

Tunísia

Tunísia: a vertigem do possível
Panorama do país que iniciou primavera árabe. As inovações democráticas. A relação islamismo-política. A esquerda. A crise social não encerrada

Primeiros na revolta, primeiros no voto
Enquanto democracia retrocede ou cai em descrédito na Europa, árabes decidem levá-la a sério. O caminho da revolução à eleição pode parecer marcha atrás, mas não aqui

Líbia, Barhein, Iêmen e Síria

A encruzilhada da Líbia pós-Gaddafi
Começa etapa que decidirá futuro do país: será possível conciliar interesses díspares dos grupos políticos e tribos que enfrentaram regime?

Iêmen: a revolução ignorada
ONU não se importou com assassinatos num país sem reservas petrolíferas e cujo ditador apoiava a “guerra contra o terror”

Bahrain: onde o Ocidente não veste máscara
Robert Fisk analisa caso emblemático do reino árabe que pratica massacres e torturas sem que OTAN cogite “intervenção humanitária”

Síria: novo revés para o ditador
Por manter repressão e descumprir promessa de reformas, Bashar Assad estaria para perder apoio de aliado decisivo: o governo turco


Maio: Europa descobre-se sob tirania… das finanças. Nas praças, multidões já sabem o que não querem: “nem políticos, nem banqueiros”

OUTRAS PALAVRAS

Ao dirigir-se, em carta, ao I Fórum Social Mundial (2001), o escritor português José Saramago alertou para o declínio da democracia no Ocidente. Em sua opinião, o regime estava regredindo à condição de “missa laica”: uma série de rituais sempre repetidos, porém cada vez mais ausentes de sentido. As eleições, as sessões dos Parlamentos, as reuniões de ministérios serviam apenas de “fachada”, por trás da qual se faziam os acertos que afetavam a vida de todos – e enriqueciam poucos.

Dez anos depois, as palavras de Saramago ganharam as praças. Numa sequência de países “democráticos” – Espanha, Grécia, Chile, Israel, Estados Unidos – multidões disseram que o sistema político já não as representava. Os partidos com acesso ao poder haviam sequestrado a democracia. Todos empenhavam-se em impor às sociedades as medidas que interessavam à oligarquia financeira. Daí os slogans: “Nem políticos, nem banqueiros”, na Espanha. “Somos 99%”, nos Estados Unidos.

A forma mais frequente de protesto foram os acampamentos. Neles, experimentavam-se formas colaborativas de compartilhar o espaço e exercer tarefas elementares de “governo”: cuidar da alimentação, segurança, alojamento e limpeza, por exemplo. Em 15 de Outubro (o 15-O), uma jornada global de protestos espalhou-se por mais de 800 cidades.

Os movimentos não alcançaram conquistas imediatas, nem chegaram a transformar em reivindicações concretas seus desejos. Estão engatinhando. O essencial é que seu surgimento abriu, na agenda de um importante setor das sociedades, uma preocupação e uma meta novas. A democracia está se esvaziando: é preciso reinventá-la.

As revoltas na Espanha e seu futuro
Novo livro sobre 15-M debate composição social, tendências políticas e perspectivas do movimento que contesta ditadura financeira e democracia esvaziada

Assim começou a ocupação de Wall Street
Aguerridos e radicais, mas abertos ao diálogo e sem pretensão hegemônica, grupos jovens lançaram movimento que pode arejar ambiente político dos EUA

Chile: por dentro da grande revolta
Nosso colaborador viveu as mobilizações da juventude, investigou seus motivos, sentiu na pele brutalidade e táticas de provocação da polícia

Outro Israel é possível
Juventude desafia políticas de desigualdade, acampa em Telavive e promove manifestação gigante. “Outras Palavas” lança coluna sobre judaísmo progressista

Um grande passo adiante e uma incógnita
Difusão mundial dos protestos e tentativa de formular reivindicações concretas marcaram 15-O. Mas falta avançar na construção de consensos.

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