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Cidade da Praia, 10 dez (Lusa) - A Universidade do Mindelo (UM) atribui hoje o doutoramento "Honoris Causa" ao professor universitário Adriano Moreira por ter alcançado, "pelo seu próprio mérito, o cume do prestígio científico", distinção que já mereceu críticas de ex-presos políticos.
"É um dos sábios de Portugal, unanimemente reconhecido por pessoas de todas as cores políticas. É um humanista e democrata, um autor consagrado, intensivamente estudado pelos alunos de dois cursos diferentes na própria UM e em muitas outras universidades", defendeu o reitor da UM, Albertino Graça, citado pela imprensa cabo-verdiana.
O reitor lembrou que foi por iniciativa de Adriano Moreira que, nos anos 60, foi abolido o Estatuto do Indigenato e que foi também por iniciativa do professor português que foram criadas as duas primeiras universidades na África lusófona.
A homenagem não é, no entanto, consensual, tendo sido considerada insultuosa pela Associação Cabo-Verdiana de Ex-Presos Políticos (ACEP).
"É um insulto porque foi ministro do Ultramar e foi sob a sua liderança que o campo de concentração do Tarrafal foi reaberto [em junho de 1961]. Também foi nesse período em que a PIDE foi trazida para Cabo Verde", disse à Lusa o presidente da ACEP, Pedro Martins, ele próprio preso político de então (1970/74).
Pedro Martins refutou a ideia de que, 37 anos depois, as feridas ainda não tenham sarado, alegando tratar-se de uma "questão de memória e de coerência" para com uma sociedade, a cabo-verdiana, que as tem e que não se despersonalizou.
O reitor da UM já desvalorizou a polémica, enquanto o historiador cabo-verdiano José Vicente Lopes considerou que Cabo Verde não tem razões históricas para alimentar ressentimentos contra quem quer que seja.
"Das antigas colónias portuguesas, Cabo Verde é o país que está mais próximo de Portugal. Por uma infinidade de razões. Somos um povo mestiço, que procura lidar bem com a Europa e com África. Nesse sentido, Cabo Verde não tem qualquer razão para alimentar ressentimentos históricos contra quem quer que seja", afirmou.
Adriano Moreira, retirado das lides políticas desde 1995, nasceu em 1922 em Portugal, é jurista e professor universitário e foi figura destacada do Estado Novo no âmbito da política colonial. Foi ministro do Ultramar, fundou e dirigiu institutos de estudos africanos e presidiu à Sociedade de Geografia de Lisboa, entre outros cargos.
Depois do 25 de abril de 1974, tornou-se uma das personalidades de referência do Centro Democrático Social e escreveu várias obras, entre as quais "O Novíssimo Príncipe", "Comunidades dos Países de Língua Portuguesa" e "Saneamento Nacional".
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