JULIA DUAILIBI – O ESTADO DE S. PAULO
Líderes do PSDB propagam que ele é candidato, mas os aliados veem nova dicotomia no cenário
O que quer José Serra?, passaram a questionar políticos de diferentes concepções ideológicas nas últimas semanas, quando tucanos alimentaram os bastidores políticos com informações de que o ex-governador já aceitaria disputar a Prefeitura de São Paulo em 2012.
As movimentações políticas recentes de Serra confundiram o cenário eleitoral e levaram setores do próprio PSDB a considerarem a entrada dele na disputa, como forma de recuperar parte do espaço político perdido na esteira da derrota da eleição de 2010.
Conforme pesquisa Datafolha divulgada ontem, ele é o tucano mais bem posicionado até agora e lidera um dos cenários com 18% das intenções. Porém, a rejeição ao nome dele aumentou e atingiu 35%. Serra, no entanto, continua avesso à ideia de ser candidato a prefeito. E suas articulações políticas ainda têm como alvo a candidatura presidencial – e não a municipal.
O ex-governador voltou a explicitar isso na semana passada ao ser questionado, mais de uma vez, por jornalistas, amigos e colaboradores políticos. “Dessa vez, ele não vai. Basta ver que não demonstra nenhum interesse pelos assuntos da Prefeitura”, afirmou um aliado de Serra.
O tucano ainda trabalha para pavimentar o caminho que o projete no cenário nacional. Na semana passada, foi a Goiás, onde se encontrou com o governador tucano Marconi Perillo e com a juventude do PSDB. Nos últimos meses, passou pela Paraíba, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em todas as viagens, reforçou o discurso oposicionista, com o foco na economia.
Há mais de uma semana, articulou palestras de colaboradores da época em que foi prefeito e governador. A plateia era formada basicamente por pré-candidatos de fora do circuito paulista, evidenciando a tentativa de fortalecer os laços com quadros de outras regiões de seu partido.
Asfixia. O diagnóstico no círculo mais próximo do tucano aponta para uma asfixia política de Serra, promovida pelo PSDB nacional. Daí a urgência de iniciativas para fortalecê-lo politicamente País afora, de acordo com avaliação discutida em reuniões com os principais aliados, como o ex-governador Alberto Goldman, o senador Aloysio Nunes Ferreira e o secretário municipal de Finanças, Mauro Ricardo.
Para alguns no núcleo serrista, a dicotomia que se impõe hoje não é nem uma candidatura à Prefeitura versus uma candidatura à Presidência, mas se manter no PSDB para disputar a eleição de 2014 ou aceitar formar um novo partido de centro-esquerda, que nasceria da união do PPS com setores do PSDB e PMDB.
Discretamente defendida por uns, a ideia encontra resistência de outros serristas, segundo os quais a tese pressupõe que o senador Aécio Neves (MG) já é o candidato do partido em 2014. Também são colocadas na mesa as dificuldades de se formar uma nova legenda, como a coleta de 500 mil assinaturas pelo País.
Os aliados de Serra propagam ceticismo sobre a resistência da pré-candidatura de Aécio. Também ponderam que o cenário econômico do País poderá ruir como consequência da crise econômica internacional. As duas variáveis aumentariam as chances de Serra se reposicionar.
Apesar das negativas de Serra, haverá uma investida da cúpula do PSDB para que ele seja o candidato. A direção nacional, alinhada a Aécio, o quer longe da eleição presidencial de 2014.
Também é de interesse do governador Geraldo Alckmin, na medida em que atrairia o PSD, de Gilberto Kassab, para uma a aliança.
Apesar dos acenos retóricos, Alckmin não aceita o acordo com o PSD, segundo o qual os tucanos indicam o candidato a vice-prefeito em troca do apoio a sua reeleição em 2014, com Kassab provavelmente indicado como vice. No Palácio dos Bandeirantes, há uma máxima: o PSDB pode sumir do mapa paulista se Kassab for o governador em 2018, alçado pelo acordo 2012-2014.
Alckmin também diz que a disputa pela Prefeitura em 2012 não exclui Serra do projeto nacional. Pelo contrário. A vitória em São Paulo poderia catapultá-lo nacionalmente.
A despeito das expectativas distintas, Alckmin e Serra operaram para empurrar as prévias para março. Querem ganhar tempo. O governador acha que Serra pode aceitar a missão. E o ex-governador tem esperança de que, até lá, saia uma aliança PSDB-PSD.
Mas, enquanto Serra resiste, as prévias no PSDB ganharam musculatura no partido, catalisadas pelos pré-candidatos a prefeito, os secretários Andrea Matarazzo (Cultura), Bruno Covas (Meio Ambiente) e José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Tripoli.
O grupo serrista começou, então, a aglutinar forças a favor de Matarazzo, que foi cotado para ser vice no acordo com o PSD. Na semana passada, Goldman anunciou apoio. O time de Aloysio também começou a trabalhar por ele.
Para alguns tucanos, no entanto, a operação serve apenas para esquentar o lugar de Serra e talvez repetir roteiro estreado na campanha de 1996: o da demora para resolver ser candidato. “Ele já chegou a se decidir três dias antes do prazo”, lembra um tucano.
Compilado de Blog do Favre
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