sábado, 10 de dezembro de 2011

DEUS NO CÉU E O MPLA NA TERRA




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

O primeiro secretário do comité colonial de Cabinda do MPLA, Mawete João Baptista, exorta – segundo a Angop - os militantes do partido no sentido de intensificarem as suas acções de mobilização das populações e manterem mais activas as estruturas de base nos bairros periféricos da cidade.

Tudo porque afinal, afirma Mawete João Baptista, ainda é preciso defender a paz e o progresso social, o que – está bem de ver - só é possível se o MPLA, que está no poder desde 1975, por lá fique aí mais uns… 50 anos.

Para mostrar a vitalidade do MPLA, Mawete João Baptista condecorou 24 militantes com as medalhas de 17 de Setembro -segundo grau, 10 com as de militante de Vanguarda 1º grau, 20 mereceram as de 2º grau, 30 com as de 3º grau e 34 as distinções de medalha de Deolinda Rodrigues e por último 12 com as medalhas militantes de Vanguarda - Hoji Ya-Henda.

Esta acção de Mawete João Baptista recorda-me, por exemplo, que no dia 20 de Março do ano passado, um seminário de formação de formadores, marcou o lançamento do programa de formação política e patriótica dos dirigentes, quadros, militantes e amigos da JMPLA e teve lugar também na colónia angolana de Cabinda.

Tal e qual como nos tempos da militância marxista-leninista do pós-independência (11 de Novembro de 1975), o regime angolano continua a reeducar o povo tendo em vista e militância política e patriótica. E tanto a militância política como a patriótica são sinónimos de MPLA.

Basta ver, mas sobretudo não esquecer, que o regime mantém, entre outras, a estrutura dos chamados Pioneiros, uma organização similar à Mocidade Portuguesa dos tempos de um outro António. Não António Agostinho Neto mas António de Oliveira Salazar.

Num Estado de Direito, que Angola diz – pelo menos diz – querer ser, não faz sentido a existência de organismos, entidades ou acções que apenas visam a lavagem ao cérebro e a dependência perante quem está no poder desde 1975, o MPLA.

Dependência essa que, como todas as outras, apenas tem como objectivo o amor cego e canino ao MPLA, como se este partido fosse ainda o único, como se MPLA e pátria fossem sinónimos.

Na acção então levada a cabo pelo regime na sua colónia de Cabinda, os trabalhos incidiram sobre "Princípios fundamentais e bases ideológica do MPLA", "Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos na abertura do VI Congresso do partido", "Princípios fundamentais de organização e funcionamento da JMPLA" e " O papel da juventude na conquista da independência Nacional e na preservação das vitórias do povo angolano".

Nem no regime de Salazar se fazia um tão canino culto do regime e do presidente como o faz o MPLA, só faltando (e já esteve mais longe) dizer que só existem Deus no Céu e José Eduardo dos Santos na terra.

Não nos esqueçamos, por exemplo, que o regime tem comandantes militares cuja exclusiva função é a Educação Patriótica.

Tantos anos depois da independência, nove depois da paz, a estrutura militar continua a trabalhar à imagem e semelhança dos Khmer Vermelhos de Pol Pot.

Em Setembro de 2009, o substituto do comandante da Região Militar Norte para Educação Patriótica do MPLA, Coronel Zeferino Sekunanguela, enaltecia, no Uíge, o contributo do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto na luta de libertação nacional.

O oficial superior da tal “Educação Patriótica”, que falava na palestra sobre "Vida e obra de Doutor Agostinho Neto", disse que Neto foi o Fundador do movimento nacionalista, da Nação angolana e contribuiu para a luta de libertação nacional.

Assim sendo, “Educação Patriótica” é sinónimo do culto das personalidades afectas ao regime do MPLA, banindo da História de Angola qualquer outra figura que não se enquadre na cartilha do partido que, cada vez mais, não só se confunde com o país como obriga o país a confundir-se consigo.

O oficial superior da tal “Educação Patriótica” reconheceu então que o primeiro presidente de Angola foi um grande estadista e político que contribuiu também para a libertação de outros povos Africanos rumo à independência dos seus países.

Só é pena que Agostinho Neto não tenha nascido há uns séculos para ser possível dizer que também contribuiu para a independência de Portugal. Mesmo assim, creio que o oficial superior da tal “Educação Patriótica” sempre pode dizer que Neto ajudou a democratizar o regime português.

Segundo o oficial superior da tal “Educação Patriótica”, graças à sabedoria de Agostinho Neto é que o povo de Angola conseguiu libertar-se da escravatura e da colonização portuguesa e de todas os crimes promovidas pelos inimigos de Angola.

O oficial superior da tal “Educação Patriótica” explicou também a contribuição de Neto como médico profundamente humano, como escritor e político de renome internacional. De facto, ao que parece, melhor do que Agostinho Neto só será, um dia destes, José Eduardo dos Santos.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


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