domingo, 4 de dezembro de 2011

ELEIÇÕES NA RÚSSIA NÃO SÃO LIVRES NEM JUSTAS, DIZEM ANALISTAS




DEUTSCHE WELLE

O Kremlin influencia as eleições parlamentares na Rússia, fazendo discreta e profissionalmente uso de estratégias sutis para determinar os resultados do pleito. No fim, nada deve indicar que houve manipulação.

A Golos, uma organização russa independente de observadores eleitorais, junto com o jornal online Gazeta.ru, realizam um projeto na internet, no qual, através de um mapa interativo, as cidades do país com irregularidades nas eleições parlamentares podem ser marcadas pelo usuário. Essas cidades são destacadas no mapa com círculos vermelhos, dentro dos quais lê-se números em preto: 265, 119 ou 25, por exemplo. Desta forma, cada usuário russo pode inserir, de forma anônima, rápida e sem filtros, as irregularidades ocorridas em seu distrito eleitoral.

Nessas alturas, já há mais de 3500 registros sobre reportagens tendenciosas na mídia, compra de votos ou pressão exercida por superiores sobre funcionários de empresas ou departamentos públicos. São Petersburgo, por exemplo, tem 200 relatos de irregularidades, colocando-se como um dos primeiros do "ranking" no país. De um registro do dia 28 de novembro, consta a seguinte observação: "O reitor de nossa universidade obriga os estudantes a votar nos alojamentos e não em suas cidades de origem, forçando-os a ir de ônibus até o local de votação, para darem seus votos ao partido do governo, o Rússia Unida".

"Recursos administrativos"

Em casos como este, fala-se na Rússia de uso de "recursos administrativos". Nesta eleição, eles estão sendo empregados em grande estilo, diz Sascha Tamm, diretor de projetos da Fundação Friedrich-Naumann, em Moscou. "Não é à toa que o Rússia Unida é chamado o partido do poder. Os diretores da administração pública ou de empresas estatais continuam influenciando muito seus funcionários a favor do Rússia Unida", diz Tamm.

A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) registrou reclamações acerca de supostas tentativas de influenciar os resultados das eleições através de instâncias oficiais. Em um relatório provisório da comissão de observadores da OSCE, fala-se da "preocupação de alguns partidos, que apontam o uso de recursos administrativos por parte do partido do governo".

Sem concorrência

Especialistas como Sascha Tamm, da Fundação Friedrich-Naumann, partem do princípio de que, nestas eleições, a tendência dos últimos anos deverá se perpetuar. "As eleições não serão nem livres nem justas", diz ele. "E nem estou falando apenas do dia do pleito, embora suponha-se, que neste dia, vão ocorrer também manipulações. Falo mais das irregularidades que estão antecedendo as eleições", completa Tamm. O Kremlin, segundo ele, não precisa fraudar as eleições em grande estilo porque o resultado pode ser definido previamente de outras maneiras", considera o especialista.

Quem quiser entender as eleições na Rússia, deverá voltar o olhar para o ano de 2005, quando entrou em vigor uma nova legislação no país. Desde então, os parlamentares só podem ser escolhidos através de listas de partidos. Ou seja, candidatos independentes não têm a menor chance de chegar à Duma. E o mínimo exigido para garantir que um partido possa ter lugar no Parlamento passou de 5 para 7%. Além disso, só é permitida a participação de fações na eleição que tiverem sido oficialmente registadas pelo menos um ano antes do pleito.

"Este é um processo que dificulta ou até impossibilita os partidos de oposição de estarem ao menos registrados como tais", diz Tamm. Pois, para isso, é preciso reunir pelo menos 45 mil assinaturas de apoio, com a participação de determinado número de habitantes por região do país. Essa legislação foi responsável pelo fracasso, há poucos meses, do Partido pela Liberdade do Povo (Parnas), uma facção de oposição fundada recentemente. O Ministério da Justiça, em Moscou, negou-se, por razões formais, a registrar o partido.

População cética

Este contexto irá fazer com que, nas eleições deste domingo (4/12) no país, não haja nenhuma surpresa. Isso é o que apontam todas as enquetes. Os mesmos quatro partidos deverão manter, como hoje, suas representações no Parlamento. E, mais uma vez, o Rússia Unida deverá obter uma significativa maioria dos votos.

A questão é apenas saber se a facção vai obter a maioria de dois terços ou não. "Temos, de fato, uma conservação do sistema, com a perpetuação dos quatro partidos com representação na Duma. Para os outros, foram estabelecidos percentuais, que eles não conseguem ultrapassar", observa Nikolai Petrov, especialsita do Instituto de Pesquisa Centro Carnegie, em Moscou.

Não é nada surpreendente, portanto, que, nestas condições, muitos russos não estejam nem aí para o pleito e prefiram ficar em casa. Segundo uma enquete do independente Centro de Pesquisa de Opinião Lewada, 45% dos russos vão ignorar as eleições. E quase um terço dos eleitores diz acreditar que seu voto, de qualquer forma, não iria decidir nada no país.

Autor: Roman Goncharenko (sv) - Revisão: Marcio Pessôa

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