sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Índia – Goa, Damão e Diu: Militares portugueses homenageiam último governador



SBR - LUSA

Lisboa, 16 dez (Lusa) -- A Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra decidiu este ano fazer uma "cerimónia especial" para assinalar os 50 anos dos acontecimentos que resultaram na independência de Goa, que inclui uma homenagem ao último governador geral do território.

A data é assinalada anualmente, mas este ano, para marcar o cinquentenário da independência de Goa, a associação vai fazer uma "homenagem ao último governador-geral da Índia", o general Manuel António Vassalo e Silva, já falecido.

Segundo disse à Lusa Armando Carneiro, do gabinete de relações públicas da associação, que nasceu por iniciativa dos militares portugueses detidos em Goa após os acontecimentos de 1961, a homenagem realiza-se no domingo e inclui uma missa solene, às 11:00, na igreja paroquial do Lumiar, em Lisboa, junto ao cemitério onde estão depositados os restos mortais do governador geral, no qual será deposta, às 12:30, uma coroa de flores.

Anualmente, no dia 19 de dezembro, a associação presta homenagem aos mortos em combate -- "entre 25 a 30, o número não é certo" -- entre os 3.500 militares portugueses que estavam em Goa quando as tropas indianas invadiram o território.

Este ano não será diferente: a cerimónia repete-se na segunda-feira, às 11:30, junto ao Monumento Nacional dos Combatentes, em frente ao Forte do Bom Sucesso, em Belém.

Armando Carneiro, que integrava o contingente militar português que estava em Goa em 1961, justifica a homenagem ao general Vassalo e Silva: "Teve um ação preponderante na nossa sobrevivência, contrariou as ordens de Salazar, teve coragem de ser realista face à desigualdade numérica entre as tropas da Índia e de Portugal e poupou todos os seus homens".

Este general que soube retirar "hipotecou com essa atitude toda a sua carreira militar", tendo sido castigado pelo regime da altura e reintegrado apenas em 1974, após o 25 de Abril, recorda. "Não havia a mínima hipótese de combater o exército da Índia com 3.500 militares mal armados", frisa.

Naquele "ataque entre dois Estados", os militares portugueses foram "considerados prisioneiros de guerra". Ficaram detidos "aproximadamente cinco meses", repartidos por dois campos de prisioneiros -- "os mais importantes ficaram em Alparqueiros (próximo da cidade de Vasco da Gama) e os outros em Ponda (mais afastado)", explica.

A Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra -- que conta com "mil e tal sócios efetivos" -- foi criada para "limpar o nome dos militares face às críticas que surgiram na altura, nos meios militares e não só, dada a propaganda do regime", explica Armando Carneiro.

"Reabilitar o nome dos prisioneiros e lutar por alguns direitos" é o objetivo desta associação (de âmbito nacional e que integra associados que estiveram na guerra em todas as ex-colónias).

"Quando voltámos para Portugal, fomos abandonados e enxovalhados, apelidados de cobardolas. Não quer dizer que tenha acontecido com todos, não vou generalizar, mas posso dizer que eu fui prejudicado", sublinha Armando Carneiro.

No regresso, "alguns ficaram" nas Forças Armadas, "outros foram castigados e afastados", como o general Vassalo e Silva, outros foram condecorados e outros voltaram à vida civil, "sem qualquer reparação", enumera.

Só em 2003, no Governo de Durão Barroso, estes militares receberam uma "medalha de mérito e reconhecimento" e uma "reforma mensal", recorda.

Sanada a "injustiça", ficou apenas a lembrança de "um episódio muito triste", porque "as memórias não se esquecem".

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